Filme faz terror doméstico e dá susto no Festival de Brasília
Última noite da mostra competitiva teve verdureiro cubano e família de cineasta na tela
Entretenimento|Miguel Arcanjo Prado, enviado especial do R7 a Brasília
Um susto, uma falta de ética e uma família exposta em sua simplicidade mineira. Assim foi a última noite de exibição de curtas e longas na mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Cine Brasília lotado, na noite desta segunda (22).
Uma babá assustada
A noite começou com Estátuta!, de Gabriela Amaral Almeida, de São Paulo. O clima de terror do filme, com a história de uma babá que precisa cuidar de uma menina aterrorizante, deu alguns sustos e provocou risos nervosos no público. No curta, a cineasta consegue construir um clima de medo, sempre com um potente olhar irônico sobre o mundo infantil.
Limite ético
Depois foi a vez do documentário La Llamada, de Gustavo Vinagre, de São Paulo. Gravado em Cuba, o curta mostra a vida de um octogenário verdureiro cubano. O filme conquista o público, com o cotidiano simples do homem, defensor da revolução comunista.
Contudo, em sua parte final, o curta sacode a plateia. O diretor manteve uma cena na qual força o protagonista e simular uma conversa telefônica com o filho que fugiu para os Estados Unidos e nunca mais deu notícias. O próprio diretor finge ser o filho interlocutor e força um diálogo.
A atitude, de tratar como uma brincadeira algo tão doído na vida de alguém, soa como uma invasão de privacidade e desrespeito por parte do documentarista para com o filmado. O próprio verdureiro expõe seu desagravo com a cena no filme. Quando se ouve a voz do diretor pedindo desculpas. Mesmo assim, ele manteve a cena. E isso tudo leva à reflexão de quais são os limites éticos de um documentarista.
Álbum de família
Por fim, foi exibido o longa Ela Volta na Quinta, do mineiro André Novais. O filme, com praticamente duas horas, é uma homenagem do cineasta à própria família. Talvez faça todo o sentido do mundo para ele, mas, para o público, a sensação é que o longa nunca termina.
É que a história dos pais do diretor que estão se separando não é tão interessante ao ponto de sustentar tanto tempo de filme. Talvez teria sido melhor fazer um curta.
Apesar de ter alguns momentos mais interessantes, a maior parte do filme é de uma monotonia sem fim, com os problemas banais e cotidianos dos personagens. É evidente que esta é a poesia buscada pela obra, mas a sensação é de que falta um corte mais distante e isento do olhar familiar.
Candango
Na noite desta terça (23) serão conhecidos os vencedores do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com a entrega do tradicional troféu Candango.
Falta público na periferia
Na noite desta segunda (22), os apresentadores do Festival de Brasília, Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi, reforçaram no palco, em nome do evento, que as sessões nas cidades satélites têm público. Segundo o jornal Correio Braziliense, as sessões estão vazias.
A reportagem do R7 escutou artistas que participam do festival reclamarem de debates sobre os filmes vazios, sobretudo os realizados na periferia. Muitos acham que faltou divulgação, já que a programação fora do Plano Piloto é gratuita.
Maria do Rosário, coordenadora dos debates do festival, conta que em um debate em Planaltina "só tinha seis pessoas". "Antes, o público vinha nos debates, tinha pergunta do público. E não tem mais. O festival precisa pensar sobre isso. Ele se fechou muito no mundo do cinema", avalia.
O crítico Luiz Zanin discorda: "Eu não tenho a impressão de que estamos em volta do próprio umbigo. É divulgado, o público que não quer vir", diz.
Eduardo Valente, assessor internacional da Ancine, a Agência Nacional do Cinema, afirma que sente falta também da participação popular em todos os eventos do Festival de Brasília. "Não é uma crítica ao festival, mas eu já vi no passado muitas perguntas feitas pelo público que balançavam os debates. Isso enriquece a discussão e está fazendo falta", pondera.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.