André Barcinski lança hoje seu livro Pavões Misteriosos que revela os bastidores dos grandes hits dos anos 70
Jornalista recebe convidados para sessão de autógrafos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional
Música|Juliana Zorzato, do R7

Explicar como nasceu a música pop brasileira: este é o objetivo de Pavões Misteriosos, novo livro do jornalista e blogueiro do R7, André Barcinski.
— Existem livros bons sobre samba, Bossa Nova, Tropicália, Jovem Guarda, MPB e depois pulava direto para o rock. Decidi fazer um livro para falar de uma fase meio esquecida, que é minha favorita, os discos que saíram entre 71 e 76. Investigar como surgiu a cena pop brasileira, que depois desembocou no rock brasileiro, de Legião, Titãs e Ultraje.
Em uma pesquisa que levou dois anos, Barcinski entrevistou 65 pessoas, entre eles nomes como Rita Lee, Guilherme Arantes, Ritchie, Fafá de Belém e Sidney Magal.
O livro analisa a importância dos programas de TV, investiga os bastidores do jabá e redimensiona a importância de grandes nomes da época, que a crítica frequentemente dispensa como "bregas". Dedica atenção a Raul Seixas, a quem considera "o grande herói do pop brasileiro. As pessoas precisam conhecer melhor o Raul, tirar esse ranço folclórico e brega."
Pavões Misteriosos revela os bastidores da criação de grandes hits dos anos 70 até o início dos 80, o surgimento das FMs, a indústria do cover e o estouro de grupos infantis como o Balão Mágico. Com o rigor característico que Barcinski exibe em seu blog, Pavões Misteriosos será lançado na noite desta quarta-feira (13), das 18h30 às 21h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo (Av. Paulista, 2073 - Bela Vista - 11-3170-4033 ).
R7: O livro aborda os anos de 1974 até 1983. De onde veio a ideia de escrever sobre artistas deste período?
André Barcinski: Para responder a questão: por que tantos discos legais foram lançados na mesma época. A maioria dos discos que eu ouço em casa de música brasileira são dessa época, foram lançados entre o início e fim dos anos 70, são os melhores entre 71 e 76. Você tem livros bons sobre samba, Bossa Nova, Tropicália, Jovem Guarda, MPB e depois pulava direto para o rock. Decidi fazer um livro para explicar por que os discos bons saíram nessa época e para contar um pouco como surgiu a cena pop brasileira, como que a música jovem, que depois desembocou no rock brasileiro, de Legião, Titãs, Ultraje, como isso foi formado, como criou público pra música jovem.
R7: Quanto tempo você levou pesquisando para escrever o livro?
Barcinski: Eu levei uns dois anos para fazer o livro, fiz umas 100 entrevistas com umas 65 pessoas, li muito livros, peguei entrevistas de outros lugares. Cada um desses artistas do livro dá uma biografia sozinha. Secos e Molhados, Rita Lee, Raul Seixas. Eu tive que me conter para não escrever tanto sobre eles para não tornar o livro gigante. Tentei fazer um livro que fosse um resumo legal dessa época e que tocasse em pontos importantes. A criação das FMs, do jabá, a indústria de covers, a música infantil.
R7: O livro fala da explosão criativa do começo dos anos 70 e da explosão da música pop dos anos 80. Como ficou a cena musical depois desta tendência mais comercial das gravadoras?
Barcinski: Isso dividiu a cena musical no Brasil, de um lado ficaram os caras que não vendiam e faziam música “boa” e do outro, os que vendiam e eram chamados de traidores. O que o Fagner e o Tim Maia ouviram quando gravaram Sullivan e Massadas não foi brincadeira... O Tim Maia nunca quis atingir um público “sofisticado”, então é natural que ele gravasse Sullivan e Massadas depois. O Fagner gravou Sullivan e Massadas em 87. Desde 78 ele estava tentando fazer discos mais comerciais, não foi algo que apareceu do nada. Foi uma oportunidade de parar de tocar só para uma minoria.
R7: Você entrevistou muitos artistas e profissionais que mandavam na música. Qual foi a reação deles ao falar daquela época?
Barcinski: As pessoas ficaram muito contentes de alguém estar falando com eles sobre este assunto. Muitos nunca foram entrevistados direito sobre suas carreiras. Foi muito legal conversar especialmente os produtores, porque as pessoas acham que no disco, os artistas é que fazem tudo. Alguns desses foram tão importantes quanto os artistas e, às vezes, ficam em segundo plano. Já o Odair José se sentiu muito valorizado porque percebeu que era uma entrevista onde eu tentava colocá-lo na posição que ele deveria ocupar, de um herói pop brasileiro e não de um cantor brega. Ele é colocado nessa seara da música mais cafona, mas a produção, o tipo de arranjo que ele tinha, é uma coisa pop, uma coisa muito Jovem Guarda. Ele fez discos bem estranhos experimentais nos anos 70, então ele é um artista diferente dessa onda brega onde tentam inclui-lo. Muitas pessoas curtiram dar entrevista.
R7: Pavões Misteriosos fala de discos muito bons do começo dos anos 70 e como isso mudou no final da década. Acabou o talento dos artistas?
Barcinski: Os mesmos artistas que gravaram os grandes discos dos anos 70 estavam vivos em 84, com poucas exceções. Por que eles não continuaram fazendo grandes discos? Porque o mercado não deixou. E por que eles também se acomodaram ao verem que era mais vantajoso pra eles financeiramente fazer discos mais comerciais. É simples, acontece em todos os setores. Começa idealista e depois ela começa a perceber que ganha mais, é mais feliz e tem menos trabalho fazendo uma coisa que atinja um público maior. Acontece com cinema, literatura, música, com todo mundo.
R7: Você entrevistou mais de 100 pessoas para o livro. Há algo que você descobriu nesta apuração que te surpreendeu?
Barcinski: A história dos Carbonos para mim foi surpreendente. Eu fiquei com vontade de fazer um livro só sobre eles, porque pelos cálculos que a gente fez, eles poderiam estar no Livro dos Recordes como a banda que mais gravou músicas. Por 25 anos eles gravaram todos os dias. Eu tive a ideia de ir a fundo na história porque comecei a ouvir o nome deles em todos os lugares e fui entrevistá-los. Eles são heróis anônimos do pop, porque o público não sabe quem eles são, mas amam as músicas que eles gravaram.
R7: Como surgiu o nome do livro?
Barcinski: De uma música do Ednardo, Pavão Misterioso. Eu gosto da música e eu comecei a pensar que muitos desses artistas do livro eram pavões no sentido de serem exibicionistas, visualmente impactantes. Ney Matogrosso, Raul Seixas, as Frenéticas, a Rita Lee são pavões no bom sentido, não só porque exibem a sua beleza, mas são figuras sensacionais de olhar. O Guilherme Arantes, o Ritchie. Ao mesmo tempo, muitos desses personagens são misteriosos, porque são pessoas que a gente ainda não leu muito sobre. Então achei que era um nome legal para reunir esses personagens e chamar atenção para o fato de cada um deles serem especiais.
R7: Você tem um pavão misterioso favorito?
Barcinski: O meu favorito, o cara que eu mais venero é o Raul Seixas. Eu acho que no pop brasileiro nunca surgiu ninguém que nem ele. Criativo, radical, transgressor, o que ousou mais em sua música, tanto tematicamente quanto sonoramente. Os discos que ele gravou em parceira com Paulo Coelho, os cinco, são obras primas da música brasileira absolutas. As pessoas precisam conhecer melhor o Raul, tirar esse ranço folclórico, feio, brega, a história do "toca Raul", a coisa dos sósias, do maluco beleza. Ele foi um artista extremamente importante, radical. E hoje virou meio que aquele cara que tinha os fãs chatos. Ele virou meio sinônimo de músico chato de rodinha de violão. Quando pra mim, ele é o grande herói do pop brasileiro.