Brega funk e emo rap: estilos podem ditar os rumos da música em 2019
Gêneros baseados em fusões revelaram novos artistas neste ano e ganharam força entre o público em plataformas de streaming e YouTube
Música|Helder Maldonado, do R7
Dois estilos baseados na mistura de gêneros musicais pré-existentes ganharam espaço e revelaram diversos artistas em 2018.
No Brasil, o papel coube ao brega funk, espécie de fusão entre arrocha, forró, música eletrônica e funk carioca. No exterior, o fenômeno é o emo rap, que traz as batidas da música negra urbana, mas com vocalizações mais parecidas com as do ritmo que bombou no início da década passada por meio de bandas como Good Charlotte, Fall Out Boy, Panic at the Disco, Simples Plan e Dashboard Confessional.
Segundo o Spotify, o brega funk é o quinto novo estilo mais ouvido do momento, enquanto o emo rap lidera a ascensão dos gêneros novatos.
Mas embora as nomenclaturas pareçam diferentes e estranhas, foi impossível passar pelo ano de 2018 sem ter escutado ou ouvido falar em artistas dos dois estilos.
No Brasil, é até possível determinar o momento em que o público descobriu essa produção musical cujo foco de efervescência está no Nordeste do País (mais especificamente em Pernambuco). O papel de ser um divisor de águas é o hit Envolvimento, de MC Loma e As Gêmeas da Lacração.
O sucesso do Carnaval de 2018 fez com que outras regiões prestassem atenção para nomes como MC Troia, MC Bruninho e Aldair Playboy.
Esse último é o mais bem-sucedido expoente do subgênero, ajudando a emplacar o nono vídeo mais visto de 2018 no YouTube: Amor Falso. A música de Wesley Safadão, que conta ainda com a participação de Kevinho, foi gravada após o cantor conhecer e gostar da versão original, do próprio Aldair. Além da parceria, o músico ainda fechou contrato com a Luan Promoções, escritório que também cuida da carreira de Safadão.
Estrelas locais
Aldair Playboy, no entanto, não é o único ícone do brega funk. Um dos nomes que se consagraram em 2018 é MC Troia. Com milhões de visualizações em cada clipe lançado no YouTube, ele virou um astro local, com agenda de dez shows por semana e equipe composta de mais de 20 funcionários.
O reconhecimento do artista é tanto que, neste ano, ele foi convocado para tocar no festival Coquetel Molotov, em Recife. Reconhecido como palco de artistas promissores e consagrados de rock, MPB, rap e música eletrônica, o espaço abriu a grade pela primeira vez para um representante de gênero ultrapopular na edição de 2018.
Assim como Aldair Playboy, Troia também caiu nas graças de Safadão, que incluiu no repertório a música Balança, Balança. Mas se por aqui o gênero soa como novidade, na periferia do Recife ele é uma realidade há mais de dez anos.
E, aos poucos, o movimento sai do gueto para ganhar o Brasil. Não é mais incomum ouvir artistas de outros estados querendo soar parecidos com esse estilo. Jerry Smith e MC WM são exemplos de cantores que inserem elementos do brega funk em seus trabalhos e não cresceram na periferia de Recife.
E a própria Kondzilla, produtora de vídeo mais popular do Brasil, já produziu clipes de artistas do estilo, caso de Dadá Boladão, que soma 15 milhões de visualizações no canal do paulista, e da própria MC Loma.
Mistura inusitada
A aproximação do emo com o rap é algo que o norte-americano e consequentemente o mundo também tem aceitado de braços abertos.
Gênero em ascensão nas plataformas de streaming, tem como característica as melodias emo, letras sobre relacionamentos e tristeza e artistas com visuais bastante chamativos: tatuagem no rosto e cabelos coloridos já viraram marcas registradas.
Além do som, as polêmicas e tragédias também têm se tornado uma parte indissociável desse subgênero. Em 2018, se alguém ouviu nenhuma música desses artistas, ao menos leu as notícias das trágicas mortes de XXXTentacion e Lil Peep, além das prisões de Tekashi 69 e Lil Pump.
O primeiro morreu assassinado aos 20 anos no meio da rua em Derfield Beach, na Flórida, no mês de junho. Após a morte, a música dele atingiu um mórbido sucesso em nível mundial.
Lil Peep foi encontrado morto no ônibus de turnê em novembro de 2017, aos 21 anos. A causa? Overdose acidental de remédios. E, por último, os garotos problemas Tekashi 69 e Lil Pump estão com problemas com a Justiça norte-americana. Tekashi é acusado de integrar uma violenta gangue e pode pegar prisão perpétua, enquanto Pump foi detido por posse de drogas em 15 de dezembro.
Mas e a música?
Assim como as polêmicas, o som faz bastante sucesso. Awful Things, de Lil Peep, soma nada menos que 120 milhões de visualizações no YouTube. ?, de XXXTentacion, foi o terceiro disco mais ouvido no Spotify no mundo todo. Ele também foi o terceiro músico mais ouvido na plataforma em 2018 e teve a segunda música mais bem-sucedida (SAD!), atrás apenas de God's Plan, do astro Drake.
Formado principalmente por millenials, o estilo segue uma linha que já é encarada como uma revolução do hip hop — e um resgate do emo. Saem as letras baseadas em crítica social e entram versos que se importam mais com os sentimentos, a melancolia e, claro, um pouco de violência e vingança, porque ainda existe rap nessa mistura. A divisão rítmica e as produções também são diferentes do rap mais tradicional.
O ponto inicial desse movimento é, no entanto, um disco de um rapper que já pode ser considerado veterano: Kanye West. No disco 808 and Heartbreak, de 2008, ele adotou o caminho das composições mais românticas e cantadas. Resultado: foi criticado pela imprensa, mas aparecentemente influenciou toda uma geração que estouraria na década seguinte.