Caetano Veloso prova que segue atento e forte em noite de trajetória viva
Com projeções de sua história, cantor une presença rara a um público que, acima de tudo, queria ouvi-lo
Música|Maria Cunha

Em tempos em que luzes de telas costumam disputar cada segundo de atenção, o show de Caetano Veloso, no último sábado (29), em São Paulo, foi um raro intervalo de presença verdadeira. Quase não havia celulares erguidos, como se o público intuísse que nada daquilo caberia num vídeo de 15 segundos.
Com 1h15 de duração, a primeira apresentação de Caetano nos Festivais fora de um festival passou rápido demais. As transições fluíam com naturalidade, unindo diferentes fases de sua carreira.
A viagem pela própria história ganhava reforço nas projeções ao fundo do palco: imagens de Caetano ao longo das décadas, em diferentes shows e fases artísticas, criavam uma espécie de linha do tempo visual que acompanhava o repertório e ampliava a sensação de trajetória viva.
A plateia do Espaço Unimed, inicialmente mais observadora do que participativa, se abriu de vez quando o artista entoou a música Divino, Maravilhoso. Foi o ponto de virada: o público cantou em uníssono, dando ao local uma sensação de despertar coletivo.
Depois disso, a sintonia só cresceu. Mesmo com poucas interações verbais, Caetano dialogava o tempo todo com a plateia por meio da linguagem corporal. Ele não fica parado: dança, se move, gesticula, vive cada compasso com uma presença tão magnética que contagia sem esforço.
Entre os momentos mais marcantes, Sozinho foi o auge emocional. Uma chuva de aplausos tomou o local, e após a pergunta “onde está você agora?”, todos gritaram “aqui” — um momento divertido e representativo de um show com presença de sobra.
Já “Cajuína” apareceu como o único momento em que Caetano realmente abriu espaço para o público cantar. E a plateia correspondeu, mas com delicadeza: porque, no fundo, todo mundo estava ali para escutar.
Logo depois vieram clássicos que atravessam gerações: Você Não Me Ensinou a Te Esquecer cantada em coro afinado e na hora certa, e a libertadora Alegria, Alegria, que fez até quem estava mais contido balançar o corpo.
E, mesmo quando errou, o cantor não perdeu o rumo e, muito menos, o sorriso. Com a serenidade de quem sabe exatamente onde pisa, seguiu adiante como se o tropeço fizesse parte do roteiro.
No fim, ficou a sensação de que tudo passou depressa demais. Caetano transformou a noite de sábado em “dia da alegria”, mostrando que, em um show seu, “a tristeza nem pode pensar em chegar”. E, usando as palavras de Djavan, deveria ser obrigatório, uma vez na vida, “caetanear o que há de bom.”
