CDs raros de bandas brasileiras podem custar até R$ 1.000
Fora de catálogo, alguns discos do grupo Charlie Brown Jr. CPM 22 e RPM são disputados por fãs em lojas físicas e pela internet
Música|Daniel Vaughan, do R7
Apesar do streaming ser um competidor voraz contra o CD, muitos fãs ainda procuram músicas gravadas em mídia física. Porém, títulos fora de catálogo são vendidos a peso de ouro quando se tornam raridades.
Entre os nomes nacionais mais caros do momento, estão Charlie Brown Jr., CPM 22 e RPM, com CDs que podem custar quase mil reais. Na maioria dos casos, são álbuns que a gravadora parou de fabricar, singles de divulgação e gravações independentes de início de carreira.
O R7 pesquisou em duas das maiores galerias musicais no centro de São Paulo e descobriu quais são os brasileiros mais "caçados" na região.
André Fiori, dono da Velvet, relembra três títulos underground que são bem vendáveis.
— O CD A Sétima Efervescência (1997), do Jupiter Maçã, vai embora rapidamente mesmo sendo usado. É o primeiro álbum do cantor, não foi relançado nem mesmo saiu em vinil, então virou raridade. E existem os fãs dos anos 90 que procuram bandas independentes como Brincando de Deus e a estreia fonográfica da Pelvs.
André também destaca algumas diferenças entre colecionadores de CD e vinil.
— A ideia de querer algo original de época tem mais a ver com o comprador de LP. Na minha opinião, o fã que procura por um CD quer isso lançado em qualquer momento, pois ele não liga se é a primeira tiragem. Agora, muitos cultuadores de vinil curtem o objeto fabricado naquele ano, observam até detalhes do lançamento.
Na tradicional London Calling, o punk rock é a primeira opção de procura. Walter Thiago, que comanda a loja desde 1986, está acostumado com tal obsessão musical. Ele diz que, entre os discos mais visados, estão CDs brasileiros lançados fora do País.
— Esse tipo de produto tem um nicho de mercado. Por exemplo, o grupo punk Lixomania é um dos mais procurados aqui. O registro deles de 1982 saiu em CD muitos anos depois, exclusivamente, no Japão e, em seguida, ganhou uma edição limitada no Brasil. E também existem discos históricos de MPB que só ganharam edições japonesas. O problema dos produtos sumirem do mercado tem a ver com a cultura do nosso País. Muitas coisas são fabricadas em pequenos números e outros títulos sequer são recolocados em estoque.
DJ Reginaldo, gerente da loja A Mágica do Hip Hop, diz que, apesar do local ser especializado em rap, os CDs do Charlie Brown Jr. são os destaques da prateleira. Ali, Bocas Ordinárias (2002), da banda santista, custa R$ 180.
— Apesar do preço salgado para alguns bolsos, os fãs compram os discos pelo amor a música. E muitos CDs de ícones do rap nacional deixaram de ser fabricados, então você não vai achá-los em qualquer lugar, muito menos em ótimo estado. Entre os mais procurados aqui estão RZO, De Menos Crime, 509-E e até a primeira tiragem dos Racionais MCs, Sobrevivendo no Inferno (1997).
Afro-X, um dos fundadores do 509-E, avisa que pretende relançar os discos do finado grupo. Hoje, os CDs da dupla não custam tão caro, mas só aparecem usados de época. Ele diz que a obra pode ser atualizada em breve, apesar de problemas na justiça.
— Quero relançar os dois trabalhos em um só CD. Estamos em uma briga judicial e creio que, após 18 anos de "exploração", vamos reaver nossos direitos. Os fãs merecem ter uma recordação dessas em sua coleção.
"Eu não achava o segundo CD do Charlie Brown... Nem a gravadora tinha mais! Daí%2C um fã me deu" (risos)
Preços elevados
No comércio online, discos novos e usados são disputados em clima de leilão, pois cada vendedor coloca o preço que quiser. O primeiro trabalho do CPM 22, A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum (2000), é vendido por R$ 780. Na época, a banda ainda era underground. Quatro Coiotes, do RPM, é exposto pelo altíssimo valor de R$ 999. E o single de Vícios e Virtudes, do Charlie Brown Jr., com apenas uma música, vale R$ 450. Também foram encontrados na sessão de raridades títulos da Fresno, Camisa de Vênus, Gang 90 e até trilhas sonoras de novelas brasileiras.
Com preços exagerados ou não, o guitarrista Marcão Britto, ex-Charlie Brown, entende o desejo do público.
— Não é só uma questão de ouvir a música... O CD traz a parte fotográfica e informações sobre o material. Tudo isso é importante para quem curte o grupo e o Charlie Brown sempre foi generoso com os fãs nesse sentido. Eu concordo com os compradores, pois eu também ainda sou colecionador.
Há pouco tempo foram relançados e remasterizados o primeiro disco da banda, Transpiração Continua Prolongada (1997) e o Acústico MTV (2003). Porém, Marcão confessa que até ele já ficou sem ter seus próprios trabalhos.
— Por incrível que pareça, certa vez eu não achava o segundo disco do Charlie Brown... Nem a gravadora tinha mais. Daí, um fã me deu de presente. E eu também tenho minhas relíquias em casa, como os singles de Rubão, Papo Reto, Lugar ao Sol, entre outros. Eles tiveram uma tiragem limitada, só para divulgação na época. É um mundo muito louco esse da música! (risos)