Jair Rodrigues foi o grande menino da MPB
Vida do cantor foi marcada pela irreverência e o amor à música
Música|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
Jair Rodrigues não perdia uma oportunidade de brincar. E não o fazia só diante das câmeras. Era divertido em seu cotidiano. Nunca deixou que a infância fosse embora. Sempre estava disposto ao riso, a pilhéria. Com sua morte, nesta quinta (8), aos 75 anos, a MPB perde seu maior menino.
Desde que começou, ainda na década de 1950, como cantor da noite no interior paulista, nunca mais parou de trabalhar. Morreu com a agenda de shows movimentada. No último dia 5 de abril, fez performance potente no palco do Auditório Ibirapuera, onde lançou disco duplo Samba Mesmo, com 26 canções que ainda não havia gravado de nomes como Tom Jobim, Lamartine Babo e Ary Barroso. Não queria saber de aposentadoria.
Em São Paulo, Jair Rodrigues era rei. Seus shows no Bar Brahma e na Terra da Garoa sempre foram concorridos. Porque eram a certeza de ver um artista intenso no palco. Foi uma espécie de mestre-sala da MPB na terra que alguém um dia disse ser o túmulo do samba. Pura balela. Jair mostrava que o samba paulista é vivo e teima em sobreviver.
Recentemente, foi assistir ao espetáculo Elis, a Musical, em cartaz no Teatro Alfa. Ficou emocionado ao se ver representado ao lado daquela que foi sua maior parceira, Elis Regina, com quem fez história na Record com o programa Fino da Bossa. Foi aplaudido de pé.
E Jair fez história nos Festivais da década de 1960. Ao lado de Chico Buarque, compositor e defensor ao lado de Nara Leão de A Banda, levou o primeiro lugar do Festival da Record de 1966, defendendo a música Disparada, clássico de Geraldo Vandré que jamais saiu de seu repertório.
Jair Rodrigues deixa dois filhos imersos também em nossa música: Jair Oliveira, o Jairzinho, e Luciana Mello, ambos sempre orgulhosos do pai. Quando estavam juntos, muitas vezes parecia ser Jair Rodrigues o filho, e os filhos os pais. Tamanha sua energia. Sua força. Seu carisma.
Junto de sua família, o Brasil chora a perda de nosso grande menino.