João Carlos Martins se despede dos palcos internacionais com casa cheia no Carnegie Hall
Maestro e pianista vai se apresentar em palco histórico de Nova York no próximo dia 9
Música|Do R7

O maestro e pianista João Carlos Martins, aos 84 anos, vai se despedir dos palcos internacionais no mítico Carnegie Hall, em Nova York, na sexta-feira (9), com ingressos esgotados. O concerto simboliza o encerramento de um ciclo iniciado há mais de 50 anos no mesmo palco.
Apesar do recente diagnóstico de câncer e da recomendação médica para se abster de tocar piano, Martins insiste em dividir sua atuação entre maestro e pianista, contrariando as limitações impostas pela distonia focal, doença que afeta o controle das mãos.
Para driblar as dores musculares, o maestro adotará um ritual de imersão das mãos em água quente durante o intervalo do espetáculo. A primeira parte do programa será dedicada a Johann Sebastian Bach e Heitor Villa-Lobos, promovendo um diálogo musical entre Brasil e Europa. A segunda parte trará composições de Tom Jobim, Piazzolla, John Williams e Morricone, refletindo a amplitude do repertório de Martins.
O palco do Carnegie Hall guarda memórias marcantes para o músico. Sua estreia em 1962, a convite de Eleanor Roosevelt, foi o início de uma trajetória que se entrelaçou com superações pessoais e musicais. Após afastar-se dos palcos por problemas nas mãos, Martins protagonizou um retorno impactante em 1978. Mesmo desacreditado por seu empresário, que colocou ingressos a apenas um dólar, a casa lotou e o público o ovacionou.
A preparação para aquele retorno foi marcada por obstáculos. Três dias antes da apresentação, Martins caiu do palco durante um ensaio e lesionou justamente a mão que tentava recuperar. Somente com uso de anestésicos e gelo conseguiu reunir condições para tocar. No dia da apresentação, surpreendeu-se com a multidão que lotava as imediações do teatro, sem saber que era ele o motivo da mobilização.
O concerto de 1978 tornou-se lendário. Martins executou por mais de duas horas o primeiro volume de “O Cravo Bem Temperado”, enfrentando dúvidas e dores, mas sendo recompensado com nove chamadas ao palco. A profundidade emocional da execução e a resposta do público consagraram o momento como um marco em sua carreira. O episódio evidenciou sua capacidade de vencer o próprio corpo e reconquistar o espaço artístico perdido.
Agora, ao retornar ao Carnegie Hall para o que seria seu adeus internacional, Martins admite que talvez essa não seja sua última apresentação. Apesar do anúncio oficial de aposentadoria dos palcos fora do Brasil, o maestro parece ainda nutrir esperanças de continuar compartilhando sua arte. No Brasil, ele pretende manter uma agenda mais leve, mas com o mesmo propósito de tocar e ensinar.
Mais do que um concerto, sua apresentação em Nova York é uma celebração da persistência, do talento e da superação. João Carlos Martins não apenas enfrentou doenças e limitações físicas; ele transcendeu as barreiras da arte, deixando um legado de paixão pela música e de inspiração para gerações futuras, especialmente no campo da educação musical.
Apesar dos desafios enfrentados ao longo dos anos, Martins deseja deixar um legado na educação musical para crianças, enfatizando a importância de ter objetivos contínuos na vida.