Madonna tira músicas do fundo do baú e lança ‘Veronica Electronica’; vale a pena ouvir?
Novo disco de remixes da cantora poderia ser melhor trabalhado, mas é uma afirmação do potencial criativo de ‘Ray of Light’
Música|Leonardo Devienne*

Após percorrer o mundo em uma turnê que celebrou os 40 anos de sua estreia como cantora, Madonna lançou na sexta-feira (25) uma das peças que faltavam em sua discografia. Anunciado como um álbum de remixagens de seu premiado Ray of Light, Veronica Eletronica foi nomeado a partir do alter ego assumido por Madonna no disco original.
Esse novo trabalho contém sete faixas feitas a partir de um novo ponto de vista, além de uma música inédita. Apesar de alguns remixes não conseguirem se sustentar sozinhos, a maioria da obra consegue servir entretenimento como uma carta de amor aos fãs.
Mas quem é essa tal de Veronica?

Este disco foi originalmente pensado como companheiro do experimento da cantora na área da música eletrônica. Em um cenário pop dominado por artistas jovens como Britney Spears, com letras românticas e produção inspirada nos clubes da Europa, Ray of Light foi uma das várias reinvenções de Madonna, que misturou música e estilo de vida para buscar algo mais sutil, ainda que em um modelo estigmatizado pelos exageros nas festas.
Após o sucesso além do esperado, que rendeu quatro premiações no Grammy, o lado B do projeto foi postergado indefinidamente. Alguns singles receberam remixes de produtores renomados como Victor Calderone e Sasha, mas o trabalho completo só seria entregue 27 anos depois.
Faixa por faixa
Quando se fala em um álbum de remixes, existe a oportunidade de reconfigurar as músicas, seja complementando seus pontos fortes ou criando algo oposto, como em um efeito de sombra.
A faixa de abertura, Drowned World/Substitute for Love, é um retrabalho interessante nesta dualidade. Os tons tristes e a produção minimalista são varridos para dar lugar a uma batida açucarada, que logo se desenvolve em um ritmo elástico, que dá mais energia e otimismo à faixa. O resultado é uma reimaginação criativa que prova o potencial dos remixes.
Em Skin, o contrário acontece. A demora em introduzir os instrumentos é rapidamente acompanhada de vivacidade com um estilo techno que mistura a produção eletrônica, que causa impressões futurísticas.
A versão de Ray of Light tem um tom mais alegre. Já a de Veronica Eletronica mistura as letras intimistas ao eco digital para formar uma experiência que te leva para fora do corpo.
O mesmo não pode ser dito de Ray of Light e Nothing Really Matters. São as músicas mais fortes do disco original, mas seu retrabalho acabou ficando monótono e com impressão de serem masterizadas às pressas, sem atenção aos detalhes e deixando pouquíssimo espaço para a voz de Madonna, justamente um dos pontos fortes desta época.
A única canção inédita do disco, Gone Gone Gone, nos explica o motivo de não ter entrado na edição final de Ray of Light. Sua produção e letra soam raivosos demais para uma direção de arte focada em temas leves e superação do amor mal-sucedido. A abertura é muito forte, sendo um chamado para o pop da virada do milênio. A melodia possui altos nos vocais de Madonna, que entra em cena numa personagem rancorosa.
Misturando elementos dançantes com lirismo expandido, esta demo é, de longe, o ponto alto de Veronica Eletronica.
Afinal, ‘Veronica Eletronica’ é bom?
Considerando que este álbum foi pensado como metade de um dos melhores empreendimentos de Madonna, ele consegue atingir sua proposta original. Os remixes desinteressantes são ofuscados pela visão criativa da equipe de produtores da cantora.
Serve como aperitivo para o 15º álbum da cantora e para mostrar o carinho que a rainha do pop nutre pelos fãs mais ferrenhos de seu catálogo.
*Sob supervisão de Thaís Sant’Anna