Na indústria do barulho, Beyoncé chega em silêncio e lança melhor CD de 2013
Cantora divulgou novo trabalho de surpresa e dominou as paradas mundiais
Música|Felipe Gladiador, do R7
No mundo dos famosos, chamar atenção e fazer barulho significa ganhar dinheiro. Poucos artistas conseguem vender shows, CDs ou qualquer outra coisa sem uma boa divulgação. Dessa forma, o marketing por trás dos grandes cantores e bandas precisa ser perfeito e nem assim é possível dizer se o sucesso estará garantido.
Aparições em programas de TV, capas de revistas, presença forte nas redes sociais, inúmeras prévias para lançar uma música ou um clipe e aumentar a ansiedade. São muitas as estratégias usadas para promover os novos trabalhos das estrelas.
Na contramão de tudo isso, surge Beyoncé com uma estratégia arriscada e até mesmo transgressora para a indústria atual. Na madrugada de uma sexta-feira, a cantora simplesmente lançou um novo CD na internet, sem avisar ninguém que sequer estava gravando alguma coisa. Para deixar tudo ainda mais empolgante, o álbum já vinha acompanhado de 17 clipes, um para cada uma das 14 canções e mais três de bônus.
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Para quem está de fora do mundo pop, talvez a escolha de Beyoncé não tenha nada de especial, mas é só dar uma olhada nas estratégias usadas por outros artistas que a diferença fica explícita. Muitos lançam uma música antes mesmo de anunciarem um CD completo só para que esta faixa seja usada como um termômetro para o que está por vir. Dependendo do sucesso atingido, alterações podem ser feitas no álbum em produção.
Lady Gaga, por exemplo, anunciou a música Venus como segundo single de trabalho de seu novo CD ARTPOP. No entanto, quando a sensual Do What U Want começou a bombar sem nenhuma divulgação, logo foi colocada no lugar de Venus. É claro que tudo faz parte de escolhas das gravadoras e empresários, já que os contratos milionários assinados pelos astros implicam em grandes limitações.
A escolha de Beyoncé, mesmo que tenha sido combinada com sua gravadora, é corajosa pois trata-se de um CD fechado, sem interferências. É uma obra pensada para ser de um jeito e lançada deste mesmo jeito. Não existem alterações, não existem “pressões do mercado”. E isso não significa que Beyoncé tenha ignorado os desejos de seus fãs, mas ficou claro que ela acredita piamente em sua arte.
E o CD, que leva apenas o nome da cantora, é exatamente isso: um grito de liberdade criativa. Beyoncé é um CD cru, poderoso e muito autoral. A cantora colocou a mão em todas as músicas e em todos os vídeos. Os vocais impressionantes da diva parecem ter evoluído ainda mais, se é que isso é possível. Em cada faixa, ela mostra diferentes habilidades. Em XO, sua voz é suave e angelical. Já em ***Flawless, voltamos a ouvir toda a força e precisão de sempre. Em Drunk in Love, dueto com o marido Jay-Z, ela mostra uma técnica impressionante.
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Os temas tratados no CD também são louváveis e importantes. Grande parte do trabalho é marcado pelo feminismo, mas sem chatices politicamente corretas ou forçadas de barra. É simplesmente uma mulher poderosa falando sobre o poder que todas as mulheres têm. Assim como fez em Single Ladies (Put A Ring On It) e Run The World (Girls), a americana mostra aqui que sempre vai retratar o sexo feminino de todas as formas que puder. Em Pretty Hurts, ela fala sobre a preocupação exagerada com o corpo e impressiona com a letra forte que diz “Perfeição é a doença da nação. É a alma que precisa de cirurgia”. No vídeo para a música, ela aparece em um concurso de beleza, fazendo de tudo para ficar mais bela, até mesmo insinuando um distúrbio alimentar em sua personagem. Já em Blow, a cantora fala do prazer sexual como algo que deve ser recíproco. Na emocionante Blue, ela mostra seu lado mãe e se declara para a filhinha que dá nome à canção. A cantora também abre seu coração em Heaven, que fala sobre um outro filho que ela teria perdido. A bela letra diz “O céu não podia esperar por você, então vá em frente, vá para casa”.
Toda a experiência de ouvir o álbum do começo ao fim fica potencializada quando assistimos aos vídeos, todos também gravados em segredo e igualmente incríveis em qualidade. Não à toa, Beyoncé está vendendo o novo trabalho como um “CD visual”.
Se existiam dúvidas sobre o sucesso, os números não mentem. Em sua primeira semana, o CD vendeu quase 700 mil cópias nos EUA e agora, duas semanas depois, já está próximo da marca de um milhão. O álbum também ficou em primeiro lugar em mais de 100 países. Na indústria em que o barulho impera, Beyoncé chegou em silêncio e dominou. O marketing da surpresa deu mais que certo, mas mesmo que não tivesse sido desta forma, Beyoncé ainda seria, sem dúvidas, o melhor CD de 2013.