Fotógrafo vai lançar livro com imagens inéditas de Cássia Eller
Marcos Hermes liberou, em primeira mão, foto da cantora para o R7
Pop|Daniel Vaughan, do R7

Marcos Hermes é um dos principais fotógrafos de música do Brasil. Em quase 30 anos de carreira, o carioca já fotografou de Reginaldo Rossi a Paul McCartney, passando por Nelson Ned e Amy Winehouse.
No currículo de Marcos estão mais de 600 capas de discos, nos mais variados gêneros e formatos, sem falar nos incontáveis shows registrados desde 1990.
Para homenagear a música brasileira, Marcos vai lançar o livro Brasilerô, trazendo diversas personalidades que ele flagrou ao longo dos anos. A obra está em pré-venda exclusiva por meio de campanha virtual.

Entre os destaques do livro, estão imagens inéditas de grandes nomes da nossa música, como Cássia Eller. O trabalho com a cantora foi tão intenso que o profissional se tornou amigo da artista, meses antes da morte dela, em 2001.
— Passei alguns dias convivendo com a Cássia em um sítio em Teresópolis (RJ). A primeira coisa que ela fez quando me viu foi mostrar os seios e dizer que não curtia posar... (risos) Então, fizemos algo bem natural. Por isso, o material dessa sessão de fotos é muito autêntico. Além da amizade que começou ali, eu mal sabia que estava participando de uma obra histórica, que mudou minha vida.
Marcos Hermes liberou para o R7 uma das duas fotos até então inéditas de Cássia que estarão no Brasilerô (veja no destaque).
Para saber mais sobre a carreira e o livro do fotógrafo, conversamos com Marcos.
R7 — Por que você se tornou fotógrafo?
Marcos Hermes — Minhas primeiras lembranças me remetem à vontade eminente de um adolescente em conhecer os ídolos e ao sonho de ver minhas fotografias impressas em revistas internacionais, que foram as minhas primeiras inspirações em tempos que não havia internet. Fui tape trader (trocava discos/fitas K-7 pelo correio com correspondentes de vários lugares do mundo) por muitos anos e, a cada disco recebido, as fotos sempre me seduziram, e isso também me ajudou a traçar os primeiros passos como fotógrafo. Naquela época, no final dos anos 80 e começo dos 90, o Rio era um lugar complicado, violento e com pouquíssimas referências fotográficas fora do fotojornalismo. Foi aí, justamente, que abracei uma oportunidade de trabalhar em jornais diários. Isso mudou completamente a minha vida.
"A fotografia é minha forma favorita de conhecer as pessoas"

R7 — Qual foi seu primeiro trabalho profissional?
Marcos Hermes — Em 1989, eu colaborava com o programa Guitarras, da célebre rádio Fluminense FM, e consegui me credenciar para fotografar o Metallica, lançando o disco And Justice For All, no Brasil. Fotografei a coletiva de imprensa e o show deles e aquele contato com uma das minhas bandas favoritas mudou a cabeça de um adolescente de 15 anos, que sonhava em fotografar os ídolos. Depois, em 1991, eu estava na porta do hotel onde se hospedaram os astros da segunda edição do Rock in Rio, buscando alguma foto milagrosa e, de repente, me vi conversando com argentinos reclamando que suas câmeras fotográficas estavam com problemas. Um deles colocou uma credencial no meu pescoço e me levou para dentro do hotel, onde frequentei as coletivas. Ou seja, estou nessa estrada até hoje.
"Fotografia é amor"
R7 — Você foi amigo da Cássia Eller. Como aconteceu esse encontro?
Marcos Hermes — Foi através de um convite da gravadora. Ela ficou umas semanas em um sítio em Teresópolis (RJ), que era uma antiga casa de reabilitação, para fazer os arranjos do Acústico MTV. Passei um tempo fotografando um making of e convivendo com a banda. A primeira coisa que ela fez quando me viu foi mostrar os seios e dizer que não curtia posar! (risos) A Cássia queria curtir o momento e fazer algo natural, por isso, o material dessa época é muito autêntico. Ela era uma figura! Estava sempre acompanhada pelos amigos, cuidando do filho ou na piscina sem camisa... Uma mulher engraçada, incrível, que se mostrava de verdade quando você a conhecia na intimidade. Eu mal sabia que estava participando de uma obra histórica, que mudou minha vida. A partir dessas fotos, eu fiz trabalhos importantes e me tornei amigo da família Eller.
R7 — Qual foi o artista que mais te emocionou e aquele que te decepcionou?
Marcos Hermes — Acho que trabalhar com Stevie Wonder, me marcou muito. E uma das grandes decepções aconteceu recentemente, quando encontrei o Ross Halfin (fotógrafo britânico) e ele se mostrou um escroto completo. Ele é um mal exemplo para qualquer fotógrafo musical que se preze. Também tive uma experiência desagradável com o Coldplay.... Mas a maioria dos casos, é sensacional. Tenho sorte!
"A Cássia Eller não curtia posar%2C pois gostava de fazer fotos espontâneas"
R7 — Quais foram os trabalhos mais importantes?
Marcos Hermes — Em 28 anos de carreira, são muitas memórias e momentos marcantes. Eu lembro de momentos incríveis com Amy Winehouse (incluindo uma consultoria para o premiado filme Amy), Paul McCartney (quase 20 projetos), Cássia Eller, Dorival Caymmi, João Gilberto, Gil com Caetano, Black Sabbath e Robert Plant com Jimmy Page. Também já cobri nove edições do Rock in Rio e hoje sou parte do festival, colaborando diretamente com fotografias para projetos especiais, além de produzir conteúdo para shows do Palco Sunset, na equipe do diretor Zé Ricardo.

R7 — Qual é a importância da fotografia na sua vida?
Marcos Hermes — Fotografia é amor. É minha forma favorita de conhecer e me relacionar com as pessoas. Conquistei amigos, paixões e grandes parcerias profissionais. Não posso responder pelos outros, mas, para mim, a fotografia é como uma religião... e sinto isso da forma mais intensa quando estou por trás de uma câmera. Ela se transforma em parte do meu corpo.
R7 — Qual é o segredo para fazer uma boa foto?
Marcos Hermes — No contexto profissional costumo dizer que uma foto se divide sempre em três partes: a ideia, o click e a edição... E, se um dos processos falhar, a chance da imagem ser banal é enorme. Resumindo, nesse caso concordo com o clichê de que a boa imagem é aquela que não requer legenda.

R7 — Os celulares atrapalham seu trabalho? Como você consegue diblar os "concorrentes"?
Marcos Hermes — Atrapalha quando estou na house mix (mesa de som) há 30 metros do palco, pronto pra fotografar o Paul McCartney e centenas de pessoas levantam o celular ao mesmo tempo e trocam a emoção do momento por vídeos e fotos ridículas. Claro que esses celulares atrapalham e eu adoraria que todos queimassem no inferno. (risos) Acho que o público, em geral, joga seu dinheiro no lixo, trocando a emoção dos shows por imagens horríveis e sem qualquer utilidade. Espero que, em breve, hajam regras mais rígidas para que as pessoas parem com essa paranóia de registrar todas as notas do artistas no palco, a todo custo.

R7 — Mas a tecnologia ajuda no trabalho...
Marcos Hermes — Meu sonho é poder obter fotos de extrema qualidade com celulares e câmeras compactas. Assim, os fotografados se portariam de uma forma mais espontânea e eu não teria que carregar tanto peso e volume no meu dia a dia.

R7 — Qual é o trabalho que você mais curte? Shows, estúdio, fotojornalismo...
Marcos Hermes — Curto fotografar pessoas e artistas autênticos, talentosos e expontâneos, que valorizam o papel da imagem em seus trabalhos e carreiras. Independente do cachê, equipamento utilizado ou da situação.
R7 — Como surgiu a ideia de fazer o Brasileirô?
Marcos Hermes — A ideia surgiu a partir do momento em que percebi que eu estava documentando uma linha do tempo ainda não registrada em um livro fotográfico. É uma diversidade de estilos em paralelo à evolução do mercado musical brasileiro. Eu trabalhei durante dez anos maturando essa coleção, somando e subtraindo fotos, artistas, e só agora acho que as imagens representam a cara da nossa música. Sou um privilegiado por ter muitos acessos especiais, mas também dou muito crédito a minha mamãe, a professora Lucia, que sempre me disse que eu deveria começar cedo para poder gozar do sucesso ainda sem rugas. Pelo menos, eu mantenho o sorriso no rosto todos os dias para que elas não se transformem em caos. (risos)

R7 — Qual é a importância de publicar o Brasileirô?
Marcos Hermes — As fotos do Brasilerô pertencem a memória da nossa música popular brasileira.
No livro, é possível ver, lado a lado, artistas de vários gêneros, consagrados e completamente desconhecidos. Porém, são imagens relevantes que o levaram a estar ali. O desafio agora é conseguir alcançar a meta da campanha de crowdfunding para lançar o livro até o final de 2017.
Para participar da campanha de crowdfunding: https://kickante.com.br/marcoshermes