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Gal Gosta completa 50 anos de carreira e se reinventa em novo álbum: “Não tenho medo de envelhecer"

Cantora se aproxima de público jovem em Estratosférica e mostra mais uma faceta de Gal

Pop|Ana Paula de Freitas, do R7

Gal Costa se reinventa em novo álbum, Estratosférica
Gal Costa se reinventa em novo álbum, Estratosférica Gal Costa se reinventa em novo álbum, Estratosférica

Em 2015, Gal Costa atinge novas marcas. Completa 70 anos de vida, e 50 de carreira. Mas não são os números redondos que importam para a cantora da MPB. Em seu novo álbum, Estratosférica, Gal não olha para trás e desvenda uma nova faceta da mulher que segurou o bastão da Tropicália no Brasil enquanto Gil e Caetano viviam o exílio.

Para descobrir um novo lado seu, ela contou com um time de compositores bem eclético e com sangue jovem, que vai de Caetano Veloso a Mallu Magalhães.

Marcelo Camelo, Marisa Monte, Tom Zé, Céu, Arnaldo Antunes, Criolo e Milton Nascimento são mais alguns dos nomes que dão forma — e letra — à nova identidade da cantora.

Depois do eletrônico Recanto (2011), produzido e idealizado por Caetano Veloso, Gal Costa quis romper mais um estigma em sua carreira e se reinventar. 

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“Eu tinha de fazer um disco que fosse palatável, mais na linha. Que fosse eletrônico, jovial e com arranjos diferentes, como os mais estranhos de Tom Zé”, disse a cantora, em entrevista ao R7.

A música Estratosférica exerce um fascínio em Gal, tanto que foi eleita para dar nome ao disco.

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— Ela tem tudo a ver com a cara do disco, com o cabelo, as fotos. É uma coisa que está no ar, para cima, mas não acima de ninguém.

Ao R7, Gal Costa falou sobre a identificação com o público jovem, a passagem do tempo, saudade e a pressão de ser quem é.

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Leia a entrevista completa abaixo:

R7 — Depois de embarcar em Recanto com Caetano e todo o estardalhaço em torno desse disco, o que você tinha em mente na hora de fazer Estratosférica?

Gal Costa — Eu tinha de fazer um disco que fosse palatável, mais na linha, que fosse eletrônico, jovial, com muitas facetas, com arranjos mais estranhos de Tom Zé. Um pouco parecido com canções mais arrojadas que se harmonizam. Um disco como esse que está aí.

[O produtor] Marcus Preto é uma pessoa que gosto muito e decidimos que íamos trabalhar com outras pessoas, mais jovens. Ouvimos muitas canções, me identifiquei com algumas, outras nem tanto. Todas foram avalizadas por mim, e me identifico com todas.

R7 — Como foi o trabalho com os compositores “estreantes”?

Gal Costa — Conheço a Mallu Magalhães desde o início da carreira dela, acompanho, ouço ela cantar. Também conheço Céu. Marisa Monte mandou aquela música especialmente para mim e acabou entrando. Marcelo Camelo, eu gosto do jeito dele.

Camelo tem um jeito bem João Gilberto de fazer rock, fui tomada por essa canção, Espelho D’água, uma parceria entre ele e o irmão, Thiago Camelo. Tem a cara dele. E ele me mandou outra também, que estou pensando em tocar apenas nos shows. Essa é mais diferente e foge do estilo dele, foi feita para mim. É bacana mostrar para o público também. 

R7 — Por que Estratosférica dá nome ao álbum?

Gal Costa — É mais para cima essa canção, foi pensada para mim. O título do álbum seria muito mais filosófico — não vou falar qual seria —, as pessoas não iam entender. Aí [os compositores] Céu, Pupillo e Junio Barreto resolveram mudar e botaram Estratosférica. Não teve como, virou o nome do disco. Tem tudo a ver com a cara do disco, com as fotos, o cabelo. É uma coisa que está no ar, para cima, mas não acima de ninguém. 

Gal Costa completará 70 anos em setembro deste ano
Gal Costa completará 70 anos em setembro deste ano Gal Costa completará 70 anos em setembro deste ano

R7 — Sem Medo Nem Esperança tem uma letra muito forte e fala: "sou mais tola, não mais me queixo, não tenho mais medo". Além disso, traz o lado do rock de Gal Costa, né? 

Gal Costa — Essa música é tudo o que quero dizer e o que eu quis dizer. Quando vi a letra pela primeira vez, ela bateu forte, fiquei com os olhos marejados. Ela foi feita para esse momento, para dizer essas coisas. "E se me entrego às imagens do espelho sob o céu/ Não pense que me apaixonei por mim de fora de si" é lindo. É um momento de quebrar barreiras.

R7 — Você se sente mais próxima dos jovens hoje em dia? Eles estão descobrindo a sua música?

Gal Costa — Foi um movimento natural, nada forçado. Nos shows, tem muita gente jovem, é bem misturado. Na rua, eles me abordam, até mais que os fãs mais “antigos”. Quando Caetano produziu Recanto, todo mundo virou e falou: “A juventude está olhando para a Gal. Os jovens estão de olho”. O Caetano me ofereceu o projeto e eu topei, adoro o que ele faz. Ele é o meu compositor, ninguém escreve tão bem para mim como ele.

E foi um rompimento da Gal clássica para a Gal do Recanto, que agora desembocou na Gal Estratosférica. São várias rupturas, eu sou feita de várias rupturas. Essa é mais uma.

R7 — Você tem redes sociais, posta com frequência. Você gosta desse mundo?

Gal Costa — Gosto bastante, é uma coisa muito espontânea, não é um esforço para mim. Não sou viciada, mas não vivo sem celular. [risos]. Fico vendo e-mails, mensagens, comentários... Fui atraída para as redes sociais há muito tempo. Desde o início, eu queria saber o que elas eram. 

R7 — É uma pergunta bem chata, mas dá para escolher uma música que te defina?

Gal Costa — É muito difícil escolher, afinal são 50 anos de carreira, mas diria que principalmente as músicas de Caetano Veloso. Ele fala para mim o que eu quero dizer e o que eu nem sabia que queria dizer. Eu diria, então, Vaca Profana, que foi feita para mim por Caetano, Sem Medo Nem Esperança e Minha Voz Minha Vida.

Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso juntos em Londres, nos anos 60, em foto postada pela cantora no Instagram
Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso juntos em Londres, nos anos 60, em foto postada pela cantora no Instagram Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso juntos em Londres, nos anos 60, em foto postada pela cantora no Instagram

R7 — Nos anos 70, você fez parte da Tropicália, movimento musical que influenciou diretamente a política no Brasil, incentivando a liberdade. Hoje em dia, quando o brasileiro está se voltando de novo para a política, com tantas discussões e manifestações, como você avaliar o poder da música neste contexto?

Gal Costa — O poder é diferente. Naquela fase, muitos amigos foram exilados, eu fiquei no Brasil defendendo a Tropicália, cantando músicas de Gil e Caetano. Hoje, o País vive um momento difícil, mas diferente. O Brasil está sofrendo com essa roubalheira. Esse dinheiro todo que foi usurpado, enviado para fora, poderia ter melhorado tanta coisa. Há um engajamento por parte da nacionalidade, mas é diferente. Era um momento de ditadura, é uma outra coisa, não tem como comparar. As pessoas participam de outra maneira. 

R7 —Sendo a Gal Costa, as pessoas esperam muito de você e querem que um álbum seja melhor do que o outro. Depois de Recanto, que é bem diferente, você sentiu pressão na hora de fazer Estratosférica?

Gal Costa — No passado, eu sofri pressão de mim mesma. E era uma coisa que vinha de dentro, que eu mesma impunha essa pressão. Mas nesse, não. Não me senti pressionada. Acho que é a maturidade que a idade me deu, uma tranquilidade também. Chamei o [Marcus] Preto e comecei a fazer o disco. É a minha gana, o meu canto. Eu estava tranquila. E é aquilo de viver o aqui e o agora. Sempre tive isso e agora, mais do que nunca. Agora é viver, o futuro a Deus pertence. 

Gal Costa na juventude: mais uma foto do acervo online da cantora
Gal Costa na juventude: mais uma foto do acervo online da cantora Gal Costa na juventude: mais uma foto do acervo online da cantora

R7 —Muita gente hoje fala que sente saudade dos anos 80, 70. Você, pelo jeito, não faz parte do time dos saudosistas.

Gal Costa — Não, não sou saudosista, até porque vivo um momento tão incrível, não tem porque se apegar ao passado.

R7 — Você tem medo de envelhecer?

Gal Costa — Não tenho medo de envelhecer, principalmente em relação a minha música. Ela é o reflexo da minha alma, e me sinto com tanta vontade, com tanta energia. Não há motivo para ter medo.

R7 — Já tem em mente alguma comemoração para a chegada dos 70 anos?

Gal Costa — Não sou muito de comemorações. Ainda não sei o que fazer, não pensei nisso ainda. Em torno dos 50 anos de carreira, há uma movimentação das pessoas, querendo comemorar, mas eu não sou muito de celebrar datas. Ainda não pensei nisso.

R7 — O que ainda falta fazer, depois de 50 anos de carreira?

Gal Costa — Sempre há algo para romper. Vamos primeiro com o Estratosférica e depois a gente vê o que faz. Temos muitos shows pela frente ainda. A vida é sempre uma surpresa.

R7 — Ah, e pra encerrar, quem é a Gal Estratosférica?

Gal Costa — Será que ela existe? Será que é de verdade? Só sei que ela é real [risos].

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