As muitas camadas de amor construídas por Charles Burns
Sem Volta: Recém-lançado no Brasil, quadrinho viaja por várias linhas do tempo e fala sobre o amor
Apuração HQ|Do R7
Nos Estados Unidos foram lançados três volumes - X’ed Out, The Hive e Sugar Skull – Aqui no Brasil, a Companhia das Letras, fez um compilado dos três volumes com 196 páginas. Decisão mais que acertada, até porque fica mais fácil grudar os olhos na incrível arte de Charles Burns. A história começa com um garoto deitado na cama e com um ferimento na cabeça – Essa é única parte que vou me lembrar, diz ele – O personagem persegue um gato em meio a uma terra devastada e cheia de perigos. É absolutamente o tipo de sonho maluco que você corre e não chega a lugar nenhum. Burns amarra toda obra dessa mesma forma, são pelo menos quatro linhas do tempo, que juntas contam apenas uma história. E amarrar toda essa trama foi simples para o autor, em nenhum momento a história fica confusa, ela te prende e não solta mais.
O quadrinho é cheio de referências ao cenário punk dos anos 70, artistas e muitas músicas são citadas. Discos aparecem jogados no chão e são usados como pano de fundo para dar clima a história. O personagem principal é claramente inspirado no personagem belga Tintim. E em muitos momentos até quadrinhos são usados dentro da própria história, os personagens são fãs de leitura. Esse talvez seja o trabalho mais pessoal de Burns, suas influências e gostos são vistas a todo momento.
Charles Burns é mestre em construir tramas usando adolescentes, mas uma simples história de amor se transforma numa grande ficção científica. Em Sem Volta, o jovem Doug tenta juntar as peças do seu último relacionamento com a estudante de arte Sarah. Uma das linhas do tempo mostra os dois juntos e narra toda a paixão do casal. Em outra, Doug se vê perdido num mundo pós-apocalíptico dominado por homens-lagarto que comandam um esquema muito misterioso. Para não deixar o leitor perdido, Burns sempre acaba dando pequenas dicas para mostrar que mudou de ambiente e está narrando outra história.
Burns costuma trabalhar em preto e preto e carregar muito nas sombras, mas em Sem Volta ele colocou muitas cores e vida nas imagens. Fez isso para conseguir trabalhar melhor todos os mundos que estão nesta história. Durante toda a HQ manchas e imagens que não fazem sentido são colocadas entre os quadros, mas tudo vai fazer sentido apenas no final.
Quem é Charles Burns
Nasceu em Washington, D.C., Estados Unidos, em 1955, e cresceu em Seattle. Seu trabalho começou a ser conhecido na lendária revista RAW, editada nos anos 1980 por Françoise Mouly e Art Spiegelman. Por sua obra-prima, Black Hole (2005), Burns foi premiado com os maiores troféus da indústria de quadrinhos, o Eisner, o Harvey e o Ignatz, além do Fauve D’Or, concedido pelo Festival de Angoulême, na França. Burns vive atualmente na Filadélfia, com sua esposa e um gato.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.