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Gibiteria fecha após oito anos de funcionamento, em São Paulo

A Comic Shop mais charmosa da cidade não resistiu a concorrência com as vendas online e a falta de movimento de compradores

Apuração HQ|Do R7

Sábado (28/04) a Gibiteria ficou lotada
Sábado (28/04) a Gibiteria ficou lotada Sábado (28/04) a Gibiteria ficou lotada

Lembro de entrar na Gibiteria e me perder no meio de tantas opções, material novo, antigo, importado, independente e principalmente gibi nacional. Depois de algumas indicações escolhi comprar o primeiro volume de Saga do Brian K. Vaughan. Fiz o pagamento e sentei perto de uma janela e fiquei folheando meu novo quadrinho. Foi quando Seu Otávio chegou pra mim e disse "rapaz, não perde seu tempo. Esse gibi que você comprou, leva pra casa e lê, enquanto está aqui pega algum quadrinho que não conhece. Pode folhear a vontade. Quando estiver passando pela praça entra aí e pode ler o que quiser". 

O fechamento precoce de um lugares mais legais de São Paulo faz a gente refletir nas atitudes que estamos tomando. As compras online, com descontos absurdos estão acabando com a concorrência. Lojas menores e até as bancas estão sumindo pouco a pouco nas grandes cidades.

Carlos Alves Neto, é youtuber, no canal Papo Zine ele fala sobre quadrinhos nacionais e já participou de diversos eventos na Gibiteria. Encontros com autores, lançamentos e bate papo, eram eventos frequentes no local.

"A gente perde um lugar importantíssimo pra cena e é algo pra gente refletir. O quanto a compra online através de mega store, vai quebrar muitas lojas e espero que não aconteça com outras, com a Ugra e com a própria Comix. Os descontos irreais que a gente vê criam um concorrência desleal, muita gente deixa de comprar numa Gibiteria da vida pra comprar na Amazon. E eu entendo, muita gente não tem grana. Mas muita gente, principalmente, quem acompanha quadrinho nacional tem que ter a consciência que é benéfico pro seu bolso, mas faz mal pra cena num futuro próximo". Finaliza, Carlos.

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E não é ruim apenas para quem vende, autores nacionais precisam de um espaço para divulgar os próximos lançamentos e serem reconhecidos. "Fiz lançamento aqui e antes de lançar frequentava aqui. E nem precisa estar envolvido no meio dos quadrinhos para ficar triste de uma loja como essa fechar. É um dos poucos espaços de Sâo Paulo para curtir quadrinhos" Diz Felipe Folgosi, autor do quadrinho Aurora.

Felipe lembra com carinho de momentos de descontração na Gibiteria "Aqui tem o ambiente, aqui você pode folhear, como sou de outra geração eu gostava de ir em livraria folhear Asterix pra depois conseguir o dinheiro e comprar. E aqui na Gibiteria, até preserva para as próximas gerações criarem este hábito de olhar, tocar antes de comprar. Internet tem a comodidade, mas vamos sair de casa, né? Este sábado vou sair de casa e ir comprar quadrinhos é algo que eu fazia com meu pai".

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Wagner Willian também é autor e reconhecido pelo trabalho em Bulldogma e acredita que o tratamento sempre foi o diferencial na Gibiteria. "A Gibiteria principalmente tem essa coisa de tratar bem, de cuidar, divulgar o quadrinho, eles amam quadrinho. E não é á toa que criaram um lugar para isso. Não é dinheiro, ninguém ganha dinheiro com quadrinho, nem autor". Finaliza.

João Montanaro é ilustrador da Folha de São Paulo, é um dos desenhistas que sempre está por aqui. "É um buraco enorme, a Gibiteria sempre foi minha loja preferida. Ficava num lugar tão bom. Você vinha para Gibiteria e já combinava com os amigos de se encontrar aqui e ficar batendo papo com o Seu Otávio, era um lugara para passar tardes inteiras aqui. Não acho que vou ter isso com outra loja".

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Esta é a última semana de funcionamento da Gibiteria, até o próximo sábado (05/05) quadrinhos são vendidos por até 80% de desconto. No último dia será feito um saldão, segundo o dono da loja. "Agora, estou fazendo descontos de 20 a 30%, mas quando chegar no final de semana vou queimar o estoque. Respeito muito as editoras, os autores que trabaram comigo todo esse tempo". Revela Seu Otávio, enquanto atende vários clientes ao mesmo tempo.

Seu Otávio atende os clientes na última semana de funcionamento da loja
Seu Otávio atende os clientes na última semana de funcionamento da loja Seu Otávio atende os clientes na última semana de funcionamento da loja

O Seu Otávio é uma pessoa conhecida e querida no meio dos quadrinhos. E diz que não quer ficar parado após o fechamento da loja. "Quero descansar, tirar um ano sabático, tenho planos, vou ficar parado um tempo, mas não estou morto. Tenho alguns planos, mas que não quero falar nada agora. Tenho até histórias na minha cabeça que podem ir pro papel." Revela, emocinado.

A loja vive dias movimentados. Está cheia como há muito tempo não acontecia.

"Quando eu vim me senti um pouco canibalizando a Gibiteria, tipo um abutre pegando os restos... Pensei em como fazia tanto tempo que não vinha até aqui e vim agora que está fechando, fiquei até chateado'. Revela o desenhista Cash, enquanto procura quadrinhos.

Filas enormes se formam na hora de fazer o pagamento, todo mundo conversa e se distraí, mas a opinião de todos é que a Gibiteria vai fazer muita falta.

Filas enormes, colecionadores aproveitam promoções da loja
Filas enormes, colecionadores aproveitam promoções da loja Filas enormes, colecionadores aproveitam promoções da loja

"Eu frequento outras lojas de quadrinhos, mas não é a mesma coisa. Nenhuma outra Comic Shop tem esse clima. Não é só a questão de comprar e ter. Quando postaram que iriam encerrar, já deu um aperto, estou triste". Afirma, Lucas Faustino, colecionador de quadrinhos.

Gibiteria

Praça Benedito Calixto, 158 - Pinheiros, São Paulo

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