Dissabores
Até onde sei|Do R7 e Octavio Tostes
Você que votou no Aécio contra a Dilma e considerou uma saída o impeachment que levou o Temer ao Planalto, bem-vindo ao clube. Dos decepcionados. Imagino como se sente diante das denúncias do Joesley da JBS. Afinal, você votou de boa-fé e apoiou com a melhor das intenções. Esse travo eu senti lá no mensalão do PT; depois em junho de 2013 quando o país pegou fogo e continuou na Lava Jato dos desvios na Petrobras.
Para mim que vivi sob a ditadura dos cinco aos 27 anos, fiz movimento estudantil e de bairros na redemocratização e sempre votei à esquerda, doeu ver condenados e presos alguns ídolos de meus sonhos juvenis. Na hora a gente oscila entre não acreditar, negar, vontade de desistir ou mudar de lado, raiva, pensa tem mais é que pôr na cadeia mesmo, medo. Quando o lodo jogado no ventilador respinga nos adversários, sente algum consolo. Mas, na verdade, logo percebe que este alívio de roto redimir-se pelo esfarrapado pouco ajuda para a melhora geral que se deseja.
E a escalada das propinas, multas e acordos? Duzentos mil para um parlamentar, trezentos, quinhentos mil para outros, dezenas de milhões para partidos, meio, um bilhão, onze bilhões... Dinheiro voando em cueca, mochila, mala preta e conta no exterior... Cifras que só se conseguem pensar como prêmio de megassena referidas pelos empresários nas delações como se fossem trocado.
A revelação do dono da Friboi saiu quando eu esperava o melhor dia para pagar, no cartão, o supermercado do mês e um par de pneus para meu Gol 2012, com mais de 100 mil quilômetros rodados; lembrei dos salários de policiais, médicos e professores atrasados no Rio e outros estados; pensei que trabalho oito horas por dia de segunda a sexta - mais duas para ir e voltar do serviço, fora um fim de semana de plantão por mês – e tive um riso nervoso, mudo diante do absurdo.
Passado o susto, a gente reflete. Tomando bordoadas há pelo menos dez anos, cheguei a algumas conclusões. A corrupção não é exclusiva de um partido, mas do sistema. O combate a ela se tem uma parte bem-intencionada, em sua maior parte foi apropriado como arma de luta política. É disfarce. Por trás estão em choque visões distintas do papel do Estado e do rumo do país. Cadeia só não resolve, Eduardo Cunha preso influía no governo Temer e cobrava propina. E justiça não pode ser feita como catarse ou vingança.
Se há uma vantagem nesse dissabor todo pela perda de ilusões e orfandade de esperança é a possibilidade de conversarmos a sério sobre o que queremos para o Brasil. Fechar um acordo acima das divergências e sairmos à rua. Que é a única coisa que os donos do poder – econômico e político – ainda levam em conta em suas tenebrosas transações.
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