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Epifania

Até onde sei|Octavio Tostes

Arpoador, RJ
Arpoador, RJ

Você sabe o que é epifania? Se sabe, parabéns. Se não, toca aqui. Só conheci esta palavra aos 52 anos no mestrado em História.

O professor, historiador do humor, a dizia toda hora. “Fulano, numa epifania…”, “então eu tive uma epifania” e a aula fluía na sala lotada, ele alto e piadista com um microfoninho daqueles ao lado da bochecha.

Na língua portuguesa epifania é uma palavra do século XV. Mais antiga que o Brasil que vimos inventando desde Cabral. Vem do grego epipháneia, ‘aparição’, ‘manifestação’, pelo latim epiphanīa, ae, ‘aparição, manifestação de Jesus aos Reis Magos’.

Os sentidos listados no Houaiss vão de festa cristã que comemora o batismo de Cristo a manifestação reveladora de Deus ou de uma divindade e até manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de alguma coisa. Ainda: apreensão intuitiva da realidade por meio de algo geralmente simples e inesperado.


A palavra me veio na manhã morna do sábado 12 de março, véspera dos atos pelo impeachment da Dilma no domingo. Tinha acabado de pousar no Santos Dumont. Escovava os dentes antes encontrar minha namorada. Pilotamos há um ano e meio um namoro em ponte-aérea e neste tipo de navegação, cultivar algum frescor faz bem. Aliás, em todas.

Depois de bochechar, batendo a escova na pia, me vi de relance no espelho, feliz, lembrei de epifania, do professor Elias e juntei à palavra uma nuvem de sentidos. Inspiração. Encanto. Criação. Ânimo. Susto de quando ouvimos uma canção que toca a alma; ou nos salta aos olhos um trejeito de criança, uma flor, uma aquarela. Sorriso de ser amado no saguão do reencontro.


Se chegou até aqui, você deve estar me dizendo pô, Octavio, que papo é esse? O país rachado, se afundando, a política se (des)articulando, a justiça exorbitando e você aí, suspirando sua nuvenzinha?

Sim. É do que precisamos. Clareza, entendimento e alguma alegria. Epifanias. Agora e sempre. No reino íntimo de cada um e na praça pública onde jogamos nosso destino. Entre outros motivos, para seguirmos inventando o Brasil. Melhor, mais justo. De todos. Para todos.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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