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Eu, samoano

Para Beto, Igor, João, Rodrigo, Romeu e Topo

Até onde sei|Octavio Tostes

Os sinais vieram em ondas. A clínica de surfe era justo no fim de semana do plantão na TV em São Paulo. Meu chefe pediu para trocar a escala. Lembrei uma folga pendente e ganhei também a sexta-feira. Liguei para Igor Pitasi, o professor, no Rio. Ele: “cara, teve uma desistência. Cê tá com sorte”.

Sexta de manhã, Carlos, nutricionista, pesou, mediu e elogiou os resultados do plano para emagrecer. Ele faz doutorado em obesidade, é surfista e iogue. Quando nos despedimos, sorriu meio mestre, meio bróder: “vai, mergulha e caça tua pérola”.

A pousada Todas as Luas, em Itamambuca (SP), é hotel oficial de campeonatos. O telão do restaurante - varanda rústica - passa direto um canal com todas modalidades de surfe mais um cardápio de esportes radicais. Reggae o tempo todo. Jantei com o Beto, amigo há 30 anos que começou a surfar aos 60.

No sábado, na areia da praia da Fazenda, as havaianas de surfista compradas havia dois anos fizeram sentido pela primeira vez. Igor demonstrou o movimento para subir na prancha que eu tinha “aprendido” quatro anos antes na escola do Rico no Rio: um, flexionar os braços; dois, posicionar o pé da perna de base; três adiantar a perna da frente, erguer o corpo e abrir os braços. Tão fácil de falar quanto quase impossível de executar - ainda mais na água.


Entrei no mar com uma prancha de stand up paddle. Para quem já surfa, a stand é um transatlântico. Ou um graneleiro no meu caso. Empurrava-a até onde dava pé, esperava uma rebarba de onda e … em quatro horas, trocentos tombos, outros tantos caldos e um joelho ralado, fiquei em pé três vezes na espuma do rasinho. Alegre feito menino sonhando acordado.

Na manhã seguinte, enquanto aguardávamos o café, Rodrigo, também professor, explicou que além da subida há outros fundamentos: remar deitado, estabilizar a prancha, sacar a direção da onda e manobrar. Aprender a surfar depois dos 50 é quase como fazer um doutorado, pensei. Como o do Carlos e o meu em andamento e os concluídos de poucos amigos e amigas tenazes como caranguejos. Requer concentração, disciplina, esforço.


Entanto tentarei.

Para que os carrinhos com prancha de surfe colecionados um a um a cada verão passem de suspiros a troféus. Os samoanos e maoris do Pacífico deixem de ser o alento de que os gordos também surfam. A longboard azul e branca, depois de quatro anos, seja libertada do sótão do meu prédio. Para hoje grisalho e amanhã de cabeça branca, encarar o deus tempo dropando as ondas em que puder entrar; acariciar seu dorso de água e força; escutar o vento e no breve espaço de manobrar, lembrando o poeta, apanhar alguns raios de sol para meu sustento num dia de vida.

Em busca das pérolas.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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