O pai
Até onde sei|Marcio Zebini
Desafiei a mim mesmo para tentar escrever em poucas linhas sobre os pais. Confesso que não é uma tarefa fácil.
Depois de muito esforço mental, apelei para uma conversa que tive com um amigo quando ele foi pai. Perguntei sobre a experiência e ele discorreu sobre o tema: “É como atravessar a rua.”
Obviamente não entendi e ele prosseguiu: “Quando estamos solteiros, atravessamos sem olhar, distraídos. Quando casamos, passamos a olhar pelo menos para o lado que vêm os veículos. Ao engravidarmos, olhamos para os dois lados, mesmo que a rua seja de mão única. E… depois que nasce… olhamos para os dois lados, de novo, mais uma conferida e, pra fechar, aquela olhadela pro céu pra ter certeza que não vem vindo um meteoro.”
Confesso que continuei sem entender muito bem. Até ser pai. Proteger a si mesmo para poder doar efetiva e sensorialmente proteção. É a percepção inconsciente que não sou invencível, ao mesmo tempo em que tenho a certeza que assim sou. Só sentindo essa verdade para entender a metáfora do meu amigo.
Proteger. Eis a maior missão e dádiva de um pai. E o maior perigo. Quando permitir e encobrir tornam-se verbos fortes, tá lá o girino de um sapo que será fraco, mole, inseguro. Mas o que pode fazer um pai diante do choro ou do sorriso de apelo de um filho? Tudo. Quem ama é inflexível para o certo.
Pais estão longe. Pais estão perto. Os pais veem tudo. O tempo todo.
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