Orgulho de mãe
Até onde sei|Octavio Tostes
Para Patrícia e Paulina em nome de todas as mães
Uns posts tocantes pipocaram estes dias na minha timeline. Eram amigas festejando formaturas e sucessos dos filhos. “Mãe mais orgulhosa do mundo”, afirmou uma sobre a foto de braços dados com o rapazote em traje de gala. “Tá dentro... passou no vestibular… Deus abençoe sua vida… tô que é só orgulho”, comentou outra o print da mensagem da faculdade recebida no celular. “Aquele momento em que você descobre que seu filho passou direto”, comemorou mais uma.
Em meio a comentários rasos sobre os fatos trágicos do Rio Doce e de Paris, debate da política nacional – ora pasmo como agora com a gravação do senador do PT, ora flaflu surdo -, invocações e exibicionismos, ver a alegria das mães foi um alento. Ou, como diria meu pai, que saboreava as palavras pelo som e pelo sentido, correndo entre elas feito menino que caçasse borboletas, reinventando-as, ser tocado pela emoção delas foi um… refrigério.
Sensibilizado, pensei em como teriam reagido aos posts os filhos de minhas amigas. Ô mãe, que mico. Ah, para. Exclui isso. A julgar pelo moço que fui, tive a impressão de que eles, recém-chegados à onipotência juvenil - que impele, inebria e ofusca -, talvez não compreendam agora todo o orgulho de suas mães.
Quanto tempo e quanta vida para chegar ao momento eternizado nas imagens. A concepção, a confirmação do teste de gravidez, a aventura da gestação, a dor do parto, a maravilha da infância, o cuidado das primeiras limpezas aos remédios das urgências, a educação com nãos irrecorríveis e sins reconciliados, a angústia que mãe e pai na penumbra do quarto na casa adormecida, experimentam envoltos pela dúvida de se acertaram, erraram, onde?, quando?, nas decisões ante o desafio de criar e prover, afirmar a vida na luta constante contra a morte, que perdemos como indivíduos e vencemos como espécie no milagre da reprodução.
Como se fosse pouco, ainda tem, permeando tudo, o conflito de gerações. Fundamental para os filhos se tornarem eles mesmos, indivíduos libertos da imagem e semelhança dos pais; e, para estes, a doída, redentora oportunidade de confrontados com o novo, sinal do futuro, recriarem-se sem perder seus valores.
Nos posts de minhas amigas há um brilho de revelação e esperança. Bem ditas na frase e na foto de outra mãe, rosto colado ao do filho, elegantíssimos: “ele é eu, feliz sempre!”, retrato do instante que vale uma vida; duas, três...
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