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Prazer, Museu. Não vivo no passado

Até onde sei|Carmen Farão

Chato chamar de melancolia uma saudade. Fazer parecer coisa ruim. Não é. É gostoso. Tanto quanto descobrir um novo som. Um novo sabor.

Quero loucamente uma impressora 3D. Um novo smartphone ultra sensorial, um chip localizador no meu punho, um carro elétrico e a paz mundial. Quero tudo o que tenho agora. E o que não tenho.

E o que não tenho não é só o que falta. Tem. Mas, acabou. Relações humanas, compaixão, respeito pela história. Ética no presente. Conquistas sociais alinhadas com ser humano.

Todos já devem ter cooptado com patrulhamento intelectual, o frescor arrogante que rasga um sorriso desdenhoso quando se fala de experiências do passado, músicas pop, bregas, alegres, interessantes. E o contrário também. Quando a empolgação toma conta a diversão com com erros, acertos, gírias, roupas e políticas incorretas. Diversão.


Definir me incomoda. Divergências são bem vindas. A questão é expandir uma "simples" opinião como verdade absoluta. Ruim pra qualquer lado.

Quero numa nave hipersônica aterrisar no meio da floresta e reflorestar.


O mesmo frescor arrogante que desdenha o passado, é eletivo e vive do que lhe faz noveaux, descolado. Ouve Jazz, blues, Bachianas bacanas, gosta dos drink dos 1950-1960, compra objetos vintage em feiras de antiguidade, volta a consumir discos de vinil, sonha com a própria jukebox na sala.

O que tem ali? O que tem aqui? O que nos falta? Por quê definir quem gosta de algo que já aconteceu como "melancólico", "saudosista empacado"? Desde quando um nostálgico deixou de ser entusiasta do futuro? Qual é o tempo que o tempo tem? assista e leia. Tem doc no Netflix e livro .


Olhe para a lente da verdade e me responda: qual o problema com revivals e aquela sensação deliciosa que vem junto? Conhecemos o passado. Talvez ele tenha que ter outra definição. "passado" parece com coisa que perdeu a validade, passou do ponto.

Toda iniciativa que traz recordações é sucesso. Um quadro novo no programa de rádio sobre músicas que gostamos sim, e daí? Um outro programa que olha no retrovisor e trás os hábitos e comportamentos dos ouvintes que congestionam o wifi com lembranças. Que ligam à piadas, à tempos engraçados e bons de viver. Risadas e alívios. Não filosofo profissionalmente, só sou assim-assim. Sinto e acordo com o que vivi. Perdemos um tempo precioso sem divagar. Na pressa, não divagar.

O novo salvou minha vida. Literalmente. E está salvando muitas outras. O novo é insubstituível e sempre vem. Novas mudanças vão acontecer em breve. Graças à Deus. Só não compreendo por quê da necessidade de separação terminante entre tempos. Mercado? Capital? Ismos inexplicados? Interesses econômicos? Defesa? Espera. Ficar preso ao passado, não. Viver dele, não. Viver nele, não. Mas tratá-lo com desimportância - retumbantemente - não! Ta. Sem radicalismos. Mas é assim que a humanidade está caminhando. Quase não escrevemos à mão. Quase não temos letra. E letra era bom. Era bom ter letra.

Se você se identificou até aqui, não se aflija. Não estamos sós. Posts, clipes, revivals, vídeos-se-você-reconhece-isso-você-teve-infância, remixes disco, rocks, MPB, fotos antológicas comovem e têm milhares de visualizações e compartilhamentos. Deve ter alguma coisa aí além da dita maldição de viver com o passado. É alegre! É bom! Tem alguma coisa ali que insiste aqui. Perdura. Embora desarmônica.

A Atômica de Charlize... a trilha, o muro, o tudo. E revisitado, redesenhado, remixado, reinterpretado. Ui. Gosto.

A tristeza não mora no passado. Humildemente e com a pouca experiência nas questões sobre análises e terapias que me coube, acredito que o triste arrasta o que acha que teve de bom e ruim e que depois dali, nunca mais terá ou será. É o mesmo que viver olhando para o lado. Para baixo. Para cima. Não só para trás. Restringir a visão e apoucar as possibilidades. Isso é melancólico.

Stephen King, no seu Novembro de 63, diz: “os seres humanos foram construídos para olhar para trás, é por isso que teos essa junta giratória no pescoço”.

Doris Day, canta: “perhaps, perhaps, perhaps...”

Adoramos fantasias. Não neguem. Películas digitóides falam de tempo, e volta e vinda. Países promovem festivais da idade máxima e da pedra por diversão, o mundo se empanturra com séries em terras médias, longas, curtas, vastas, verdes, ocres, cinzas. Dragões e mortos-vivos alimentando o (in)consciente ávido pelo fantástico mundo

possível se tais mistérios existissem. Corredores de casas brancas gestálticos, nos chamando atenção para o que já está acontecendo, enquanto assistimos embasbacados Frank Underwood esmagando pessoas entre o indicador e o polegar. Uau, isso é método! Passo à frente. Frente.

Mesmo a tecnologia que nos distancia dos outros, aproxima nossos quereres mais secretos e nos trazem experiências imersivas e solitárias como se não fossem. A tecnologia está a grande responsável pelo nosso sentir. Pode? Pode. Ta podendo.

Prazer, Museu. Vivo de grandes novidades

Autor de IT - A Coisa, Carrie, a Estranha, O Iluminado, Doutor Sonho, Misery entre outros acertos absurdos, Stephen King, hipnotiza com Novembro de 63. Um senhor tijolão de quase 800 páginas. Conta a história de Jake, um viajante - adivinhe - no tempo, que tem a oportunidade de mudar a história evitando o assassinato do presidente Kennedy em Dallas.

J.J. Benitez e a física quântica para tornar um astronauta testemunha dos os últimos dias e flagelo de Jesus no primeiro tomo de Cavalo de Tróia 1. Com detalhes que nem toda sede de sangue de Mel Gibson conseguiu impressionar igual. Como King, Benitez foi, de certa forma, testemunha da história. Voltou ao passado com toda a tecnologia que lhe era disponível. King, com todas as informações que lhe garantiriam sobreviver anos na Terra de Antigamente apostando em vencedores nas pistas, nos campos, nas quadras.

Dan Brown investiu em pesquisas sobre símbolos e mistérios do passado para desvendar um futuro possível com o auxílio luxuoso da Sra. Brown que permitiu que ao marido mergulhar no presente plausível do seu Código Da Vinci. Baseado no passado a ficção rende.

Nos últimos anos de chumbo do século XX, um amigo na faculdade falava baixo no balcão do café durante o intervalo que a coisa estava feia. Que perderíamos o que restava de nossos direitos. Eu dizia que lia muito sobre tudo e todos, tinha amigos de extrema esquerda, centro e moderados. Nenhum deles havia sinalizado nada sobre nosso

fim. Ele, praticamente sussurando atrás da barba enorme parecida com neo lumberboys de hoje não tão bem cuidada, encostou o ombro no meu: "procure nos cantinhos dos jornais... Procure aqui, ali... Alguém sempre está dizendo alguma coisa, enviando sinais, dando informação". Tão certo quanto ele queria me doutrinar, minha vontade de não ser nunca manipulada consolidou-se ali. Passei a ler muito mais de tudo, assistir tudo o de mais, meus debates nos botecos universitários eram intermináveis.

Não dá pra esquecer que o que sou hoje depende de você, que me beijou a boca sem que eu esperasse, que tomou meu coração nas mãos e brincou de circo, de você também, que ergueu panfletos no Pacaembú contra a opressão do meu lado e me levou à festa Radicais e Reluzentes; e tem o inesquecível você, que pixou o muro da minha casa dizendo que me amava, e me mandava flores todos os dias. Que se encantou com a cor da minha pele nas marcas do biquini enquanto ouvíamos o que ouvíamos. E você que deitou comigo na areia branca de madrugada olhando as estrelas ouvindo a Cor do Som e as ondas do mar? Lembra? De todos os sons e notícias nos jornais. Dos olhos farristas do meu pai e o esperançoso da minha mãe.

Definir é Limitar, dizia Wilde.

Saudade, pode. Desde que seja boa. Gosto assim.

(to be continuous...)

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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