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Preto no branco

Até onde sei|Octavio Tostes

Robson Ramos e Diego Pereira, que divulgaram o vídeo do comentário racista de William Waack
Robson Ramos e Diego Pereira, que divulgaram o vídeo do comentário racista de William Waack

Dia da Consciência Negra. O que você sente diante da efeméride de 20 de novembro? Mais um feriado ou uma data para lembrar a tomada de consciência dos negros? Vitimismo ou uma pausa para a beleza da negritude? Eu tamborilava estas ideias, atiçado e receoso pela tensão do tema, quando estourou o caso do vídeo do jornalista William Waack.

Pouco antes de entrar ao vivo de Washington, onde cobria a vitória de Trump, ele se irritou com uma buzina. Virou-se para a rua, xingou o motorista - “seu m…. do cacete” - e comentou com o entrevistado, o jornalista Paulo Sotero: “É coisa de preto”. O comentário de Waack foi gravado dia 8 de novembro do ano passado por Diego Rocha Pereira, que trabalhava na técnica da Globo em São Paulo, e divulgado há pouco.

A emissora afastou o âncora do Jornal da Globo. A hashtag #ÉCoisaDePreto bombou nas redes sociais exaltando Obama, Mandela, Lupita Nyongo´o, Pelé, dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e o geógrafo Milton Santos, entre outros políticos, ativistas, atletas, artistas e intelectuais negros.

O debate se incendiou no mundo virtual e suas fronteiras, a mídia e o dia a dia. Racista! Não, não é bem assim... Aqui se faz, aqui... Quem nunca falou uma coisa dessas... Por que o vídeo só apareceu agora? Hum...aí tem...Conheço o Waack e ele não… Eu também conheço e não me surpreende - rebateu uma ex-colega. É um dos melhores jornalistas do país, reconhecido até pelos desafetos. Está expiando os erros da Globo, Proconsult, Diretas, Debate Lula x Collor.


Tão rápido quanto incandesceu, o assunto apagou. E deixou uma sensação de muito barulho por nada. Discutiu-se, xingou-se e continuou quase tudo igual, fora a saída do âncora. Do que pude ler, poucas observações - não por acaso de ativistas negros – relacionaram o racismo brasileiro à face sombria de nossa sociedade: desigual, autoritária e fundada em privilégios. Regida por uma mentalidade que primeiro, torna invisíveis negros, pardos e brancos pobres; e ao menor atrito, explode no quem você pensa que é, ponha-se no seu lugar e nos precipita a dois, três séculos atrás.

Ao lado dos movimentos negros, uma consciência de direitos, deveres e oportunidades iguais para todos, forjada em uma educação pública de qualidade e massiva, talvez nos protegesse desses recuos que volta e meia nos assaltam. Realizaria o ideal republicano esboçado pelos educadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, não à toa interrompido. No Brasil pós-trauma de 2016, este sonho é utopia. Mas ela inspira a nos reconhecermos em Zumbi, Machado, Lima, Maria Firmina, Carolina de Jesus, Pixinguinha, Cartola, Luís Melodia, Rincón Sapiência e MC Soffia entre tantas pérolas negras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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