Sobre as palavras
Até onde sei|Eugenio Goussinsky
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Para ele palavras falam e calam
Em um bosque encantado
Em uma caverna sem luz
Resvalam
Se falam, são um quadro impressionista
Van Gogh em seu retrato na solidão
Olhar impressionista, estático, introspecção
Precisa forma de expressão,
Quando as palavras, mesmo poucas,
atingem essa dimensão
Mas as que calam, consentem em esconder
Aquilo que não aparece, mas que tem poder
Se ele faz poesia dizem que só é poeta
Se sair do script vira pateta
O sábio da moda é como um profeta
Não erra, não chora e não reclama
Olha eu entrando no rótulo que a palavra inflama
Se escreve prosa
É todo prosa
Se falha, mergulha num obituário
Esquecem o que ele fez, não pagam o seu salário
Como um zagueiro que errou
Tem de ir para a igreja confessar que pecou
Dizem a ele que parece cansado
Parece mesmo, mas muito mais contrariado
Imagem pouco fecunda
De uma emoção um tanto profunda
Que não se resume ao que aparenta
Nem à pobreza que enfrenta
Ele anda contra o vento
Mundo de frases sem sentimento
Palavras que chocam, tocam, evocam
Verdades que muitos deslocam e trocam
Pela festa no apê
O gosto do patê,
A negociação, o acúmulo
A ilusão do infinito
Entre a vida e o túmulo
Pífias conversas de botequim
Longo desfile da manequim
As formas e farsas
Das piadas sem graça
Tudo passa, a vida, o canto
A loucura e o acalanto
Ficam marcas de instantes
Sugerem um mundo intrigante
Na música de Louis Armstrong
Nos ossos do vietcong
Na noite que envolve a cidade
No silêncio, na eternidade
Palavras anseiam por segurança
Vagam em becos de esperança
Homens se rendem e clamam
Órfãos de resposta, se cansam
De esperar por um sentido
Daquilo que as palavras não alcançam
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