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Um nome para descobrir

Até onde sei|Octavio Tostes

A Maria Alice Barroso,

em memória e com ternura

Miracema, a cidade onde me criei, festejou neste maio 80 anos de emancipação a município. Mas a história da “Princesinha do Norte-fluminense” não começou em 1936. Foi quase um século antes, se a gente considerar 1846 a data de construção da capela que deu origem ao lugar. Como aprendemos: d. Ermelinda, rica senhora de terras, doou um terreno para a igreja do filho seminarista. Os esteios de braúna brotaram… daí o nome na língua dos índios Puris da região, Miracema, pau que brota, gente que nasce.

Singela como fábula, durante muito tempo foi essa a história que guardei. Agora, pesquisando para escrever esta crônica, descubro que antes do nome indígena, a cidade se chamou Santo Antônio dos Brotos. Em 1883, como as correspondências se extraviassem para logradouro de nome semelhante, sugeriram trocar para Ybiracema, do tupi-guarani ybira, pau e cema, nascer, brotar. Ybiracema acabou virando Miracema, de mira, gente, e não mais pau que brotasse por sugestão do médico, poeta e vereador Ferreira da Luz.


O mesmo Dr. Ferreira da Luz que dá nome ao grupo - hoje colégio estadual - onde fui aluno de d. Ruth e d. Orlanda que me falaram de d. Ermelinda. A fazendeira e o poeta são dois dos vultos miracemenses. Há vários outros. No capítulo da emancipação, quando Miracema se separou de Santo Antônio de Pádua, até aparece, discreto, meu avô Octavio - de quem herdei o nome falecido.

A maioria dos registros da história de Miracema se baseia nas vidas, atos e recordações de seus vultos. É um dos jeitos de se escrever história, mas a História é feita de várias histórias. A dos escravos dos primeiros fazendeiros, entre outras. Foram trazidos de que região da África? Formaram quilombo? E os índios? Se eram Puris, povo do sertão que falava macro-jê, por que se inspirou no tupi-guarani - outro grupo, do litoral - para batizar a cidade?


Para além do resgate das memórias, fundamental, responder a perguntas sobre o passado parece ser o melhor caminho para se escrever a História. Buscar as verdades por trás dos relatos e dos nomes. Ou enveredar pela trilha não menos desafiadora de recriar com imaginação. Como fez a miracemense Maria Alice Barroso em “Um nome para matar”. No romance premiado que mereceu elogios de Guimarães Rosa e Jorge Amado, a saga de Parada de Deus são cem anos de espanto.

A História, alertam os historiadores, não é exata. O que já aconteceu não se repete, mesmo quando ressurge muito parecido. Conhecê-la ajuda a entender o presente. Embora não resolva de todo a angústia de se posicionar - contestando ou aderindo - quanto aos caminhos para o futuro.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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