Concorrente do Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, ‘A Garota da Agulha’ é um retrato cru do sofrimento humano
Longa dinamarquês apresenta história de abandono e violência em cenário pós-guerra
Cine R7|Giovane Felix

Perturbador, melancólico, sombrio. Se eu tivesse que condensar A Garota da Agulha em três palavras, seriam essas. Elas capturam a essência do filme, uma sucessão implacável de adversidades, onde a esperança se dissolve diante da brutalidade da existência e o sofrimento humano se torna protagonista.
O longa dinamarquês, dirigido por Magnus von Horn, é um retrato cru da dor. Ambientado em uma Copenhague pós-guerra, mergulhada em miséria e apatia, a obra acompanha a trajetória de Karoline (Victoria Carmen Sonne), uma jovem grávida e sem emprego, que luta para sobreviver. Tudo muda quando ela é acolhida por Dagmar Overbye (Trine Dyrholm), uma mulher que comanda um esquema de adoção clandestina.

A grande questão de A Garota da Agulha está na representação da barbárie, que permeia o filme desde o primeiro instante. O suspense europeu nos revela que a crueldade não está apenas no sanguinário ou no explícito, mas também na indiferença, no abandono, na repulsa e na desumanização. A verdadeira violência se mostra na ausência de cuidado e na falta de empatia.
A obra foi indicada ao Oscar de Melhor Filme Internacional, e não é para menos. O concorrente do brasileiro Ainda Estou Aqui oferece uma narrativa incômoda, difícil de digerir, mas impossível de ignorar.
A estética preto e branco, sob influência do expressionismo do início do século XX, destaca ainda mais a angústia presente na atmosfera do filme. A câmera não se intimida diante do horror em cena, pelo contrário, se mantém fixa nas personagens, capturando cada gesto, cada desconforto, como se evitasse desviar o olhar. Tudo isso embalado por uma trilha sonora misteriosa, de tirar o fôlego.

Mérito também das atrizes, que entregam ótimas performances em papéis complexos. Em quase duas horas de filme, elas exploram com profundidade as nuances emocionais das personagens, com poucos diálogos.
A minha torcida para o Brasil na cerimônia do Oscar, no dia 2 de março, permanece firme, sem dúvida. No entanto, A Garota da Agulha é uma grata surpresa que merece a atenção do público. Embora não seja um filme para todos, com seu drama crescente (não lento) e o visual monocromático, que podem afastar alguns, no final das contas, é uma experiência arrebatadora.