‘GOAT’ usa surrealismo e terror psicológico para questionar idolatria esportiva
Filme que estreou na quinta-feira (2) impressiona por estética marcante, mas escorrega na narrativa
Cine R7|Giovane Felix

Outubro é tradicionalmente marcado por estreias de terror. Todos os anos, o mês recebe lançamentos que abrangem diversos subgêneros, de continuações de obras consagradas a adaptações e remakes de histórias já conhecidas. Entre eles, novas produções tentam ganhar espaço, apresentando propostas originais e diferentes visões do gênero.
É o caso de GOAT, novo horror psicológico ambientado no universo dos esportes, que entrou em cartaz na última quinta-feira (2). A sigla em inglês significa “Greatest Of All Time”, ou em português, “O Melhor de Todos os Tempos”. Expressão usada para destacar alguém que se torna referência ou atinge o mais alto patamar de sucesso em determinada área. No filme, o termo se aplica ao futebol americano.
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Cameron Cade (Tyriq Withers) é um quarterback em ascensão que dedicou a vida ao esporte. Após sofrer um ataque que quase põe fim à carreira promissora, ele recebe uma proposta inesperada: seu ídolo, o veterano Isaiah White (Marlon Wayans), se oferece para treiná-lo como atleta em seu ginásio isolado. Durante o período de preparação intensa, Cameron começa a perceber que nem tudo é exatamente o que parece.

Vale destacar, sobretudo, dois pontos positivos do longa: as boas atuações e a estética particular que dá identidade à narrativa.
Marlon Wayans, que é conhecido por seus papéis em comédias besteirol, surpreende ao entregar uma performance de impacto, sombria e séria, bem diferente daquela à qual o público está acostumado a vê-lo em cena.
Tyriq Withers, por sua vez, faz jus ao protagonista, sem as mesmas nuances de Wayans, mas ainda convincente. Já Julia Fox surge em cena com a sua presença excêntrica, quase como se encarnasse um alter ego de si mesma, e, mesmo com pouco tempo de tela, se torna marcante.
A direção de arte e a fotografia dão o tom do filme. O visual de caráter épico, com referências renascentistas e neoclássicas, faz com que muitas composições em cena se assemelhem a pintura, sugerindo uma crítica ao culto em torno de atletas como ícones de força e beleza.

No meio de tudo isso, há um enredo interessante e promissor, mas que derrapa na execução. O filme tenta fugir do óbvio e, para isso, o diretor recorre a simbolismo e metáforas, elementos que, quando bem aproveitados, são instigantes. No entanto, o excesso acaba desgastando a narrativa: falta substância e a mensagem se perde antes de chegar à audiência.
Ao mesmo tempo em que o filme busca manter essa subjetividade, em alguns momentos a trama se torna explícita demais. Exemplo disso é a divisão em capítulos, que entra em tela deixando clara de maneira quase didática as ideias que a história pretende comunicar.
Vale mencionar que toda a divulgação e venda de GOAT está sendo pautada em um nome: Jordan Peele. O cineasta aparece aqui como produtor do filme, e apenas isso. Se engana, quem vai ao cinema pensando em assistir a uma nova história da mente por trás de Corra (2017) e Nós (2019). Apesar de alguns aspectos que se assemelham ao estilo do diretor, o longa está longe de ser uma obra assinada por ele.
De todo modo, GOAT é ousado e propõe uma experiência cinematográfica que se distancia do comum. Com um tom surrealista que conduz o espectador por uma espiral de controle, obsessão e loucura, o longa expõe temas como masculinidade tóxica, sacrifício e ambição, tudo isso mergulhado em sangue e violência.