‘Grande Sertão’ não captura profundidade, mas traduz essência do clássico de Guimarães Rosa
Filme baseado em um clássico da literatura brasileira estreou na última quinta-feira (06)
Cine R7|Julia Ataide*
Grande Sertão, que estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (5), é uma ousada tentativa de levar para as telas a rica narrativa da obra-prima de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. A tarefa de transpor para o cinema uma das mais poéticas histórias da literatura brasileira não era simples, mas o diretor Guel Arraes e o roteirista Jorge Furtado conseguiram entregar um filme que, embora não capture toda a profundidade do romance, consegue traduzir sua essência e emoção.
A complexa relação entre Riobaldo (Caio Blat) e Diadorim (Luisa Arraes), é trazida à vida através de atuações intensas do casal principal, permitindo ao público sentir as suas jornadas interiores, desde o início da trama, com a amizade infantil dos protagonistas, até os caminhos se cruzarem novamente na vida adulta.
A história se passa nos tempos atuais. Ao invés das vastas paisagens do sertão mineiro, encontramos Riobaldo e Diadorim imersos no cotidiano das comunidades periféricas, onde são reféns da violência, do crime e da política.
Em meio ao Grande Sertão, uma comunidade regida por Joca Ramiro (Rodrigo Lombardi), Riobaldo, um professor universitário, lida com a violenta realidade após uma aluna ser atingida por um tiro. Nesse contexto, ele se depara com Otacília (Mariana Nunes), mãe da menina, e reencontra Diadorim, antiga amiga de infância que o incentivou a encarar a vida sem medo.
Riobaldo se vê diante de uma nova perspectiva sobre o mundo e seus desafios na comunidade. À medida que uma guerra se aproxima, liderada por Hermógenes (Eduardo Sterblitch) e confrontada pelo comandante da polícia Zé Bebelo (Luís Miranda), Riobaldo é obrigado a enfrentar seus medos e descobrir, ao mesmo tempo, os sentimentos contraditórios que Diadorim desperta em seu coração.
A narrativa, fiel ao espírito original, mantém a essência do romance de Guimarães: a luta entre o bem e o mal, o amor proibido e as complexidades da alma humana. No entanto, Guel Arraes nos apresenta esses temas através de um novo cenário, onde as gangues urbanas substituem os jagunços, e os becos e vielas substituem o vasto sertão.
Ao ambientar a história na periferia, o diretor explora um cenário visualmente cheio de contrastes, com a vibrante paleta de cores das comunidades, desde os grafites nas paredes até as roupas coloridas dos moradores. Ao mesmo tempo, a câmera também revela a dureza do cotidiano, com suas construções precárias, assim como a vida dos personagens.
*Sob supervisão de Lello Lopes
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