‘Guerra Civil’ causa desconforto no público, mas se perde em tentar falar de muitos assuntos
Ainda que retrate bem cenas de ação e tiroteio, o roteiro é de certa forma decepcionante
Cine R7|André Barbeiro*
Filmes como Guerra Civil têm como objetivo causar desconforto. A ideia, ao retratar uma realidade distópica, é espantar. A nova obra estrelada por Wagner Moura consegue esse efeito sem nenhum esforço.
O longa, comandado por Alex Garland, apresenta os Estados Unidos em conflito interno. Dividido por uma polarização política e ideológica, o filme não tem nenhuma pretensão de evidenciar os reais motivos para o confronto tomar conta do país. Mas, não por acaso, a obra é lançada meses antes de uma eleição presidencial totalmente polarizada entre Joe Biden e Donald Trump.
No filme, não existem territórios marcados como inimigos. A briga em questão é quase como uma grande discussão das redes sociais, de grupos contra grupos, de ideologias contra ideologias, de um lado contra o outro — mesmo que não saibamos quais são eles.
Para conduzir a história, a produção acompanha Joel (Wagner Moura), um repórter de guerra; Lee Smith (Kirsten Dunst), uma fotojornalista de guerra; Jessie (Cailee Spaeny), uma garota que quer se tornar uma fotojornalista de guerra; e Sammy (Stephen Henderson), um jornalista experiente. Eles vão a Washington tentar uma declaração oficial do presidente dos Estados Unidos (Nick Offerman) sobre o conflito retratado e questioná-lo sobre suas ações violentas contra a população.
Mas, até que consigam chegar ao objetivo, os jornalistas passam por grupos com diferentes pontos de vista. Os mais emblemáticos, porém, são aqueles que preferem “não fazer parte disso” e fingem que não está acontecendo nada pelo país.
Outro momento marcante é a presença do personagem de Jesse Plemons. Armado, ele causa sentimento de angústia no público cada vez que se mexe.
Ainda que seja um ótimo filme, que retrata com perfeição cenas de ação, tiroteio e a polarização cruel que ideologias podem causar, Guerra Civil tem rodeios no roteiro que são exageradamente desnecessários.
Jessie tem Lee como uma de suas heroínas na profissão. A falta de experiência dela fica evidente já no primeiro momento de cena e, apesar de não gostar da ideia, a profissional com anos de carreira concorda em levar a novata para fotografar cenas devastadoras da guerra.
Ainda que essa seja uma informação importante para o decorrer da história, é algo reiterado a cada dez minutos, o que se torna uma retórica cansativa. Além disso, Cailee Spaeny para interpretar a personagem jovem pode não ter sido a melhor escolha, visto que ela parece ser até jovem demais para o papel.
Já Wagner Moura segura a história nas costas. Com produções de peso no currículo, como Tropa de Elite e Narcos, o ator brasileiro é um dos protagonistas de Guerra Civil. Faz o papel com tanta excelência que rouba a atenção do público. Ele consegue transparecer sem dificuldade a angústia que seu personagem enfrenta e, ao mesmo tempo, a excitação de caminhar para o seu objetivo.
O longa tenta retratar tantos temas ao mesmo tempo, que fica difícil saber qual o objetivo principal dele. Pode ser falar sobre uma sociedade ideologicamente dividida, apresentar as dificuldades e a falta de segurança de ser jornalista, criticar o armamento da população e a falta de conhecimento de um povo. A questão é que o diretor se dispôs a falar sobre muitos assuntos ao mesmo tempo, e não tratou nenhum com maestria.
O fim do filme envolve Jessie, Lee, Joel e o presidente dos Estados Unidos. Chega a surpreender, mas é sem sal.
*Sob supervisão de Carla Canteras e Lello Lopes
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