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'Infinity Pool' é um retrato sangrento e nada lisonjeiro da burguesia

Novo filme do filho de David Cronenberg traz Mia Goth como líder de uma quadrilha de ricos sádicos

Cine R7|Filipe Siqueira, do R7

Infinity Pool mistura violência com crítica social
Infinity Pool mistura violência com crítica social Infinity Pool mistura violência com crítica social

É bem possível que muitos assistam Infinity Pool (2023) pela presença inigualável de Mia Goth na tela. A atriz britânica filha de brasileira (e com sobrenomes Mello da Silva) não tem apenas o rosto cinematográfico perfeito da atualidade (algo como uma herdeira de Tilda Swinton), como também ganhou uma trilogia de horror só para ela — os filmes X, de Ti West.

Infinity Pool parece já moldado ao sucesso da atriz, um espaço para ela brilhar com uma personagem violenta aparentemente capaz de tudo. Mas há muito mais aqui.

O longa é o terceiro de Brandon Cronenberg, filho de David Cronenberg — o agora octogenário mestre do horror corporal. Em certa medida, Brandon parece a fim de levar os filmes do progenitor (Crash - Estranhos Prazeres, Videodrome) a um patamar de violência gráfica que dissipa qualquer dúvida da mensagem.

Possessor, seu filme anterior, nos apresentava pessoas capazes de controlar o corpo de outras com o uso de um estranho aparato científico, com resultados sangrentos. Infinity Pool também explora possibilidades narrativas para nos apresentar uma orgia de sangue e nos faz questionar até onde o dinheiro pode comprar impunidade absoluta.

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O filme apresenta um escritor fracassado chamado James (Alexander Skarsgård) de férias com a esposa rica Em (Cleopatra Coleman) na violenta ilha fictícia de La Tolqa, na América do Sul, em busca de inspiração para um novo trabalho. É lá que ele encontra Gabi (Mia Goth), que se declara fã e sorrateiramente o seduz para um passeio fora da propriedade fortificada do hotel, junto com o marido.

Após uma série de eventos que culminam em um atropelamento homicida, o escritor é condenado a pena típica da região: ser morto pelo filho mais velho da família. Mas, como La Tolqa é um destino turístico, existe uma saída para visitantes estrangeiros e diplomatas: por um pagamento substancial, é possível o condenado ser clonado e assistir sua cópia ser executada a facadas.

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O alívio de James de continuar vivo praticamente impune logo se transforma na descoberta de que seus novos amigos se divertem com a prática de assassinatos, violações, abusos, e constantemente assistem aos próprios doppelgängers morrerem. Junto com James, percebemos que tais turistas são como versões menos high tech dos visitantes do parque temático da série Westworld, que usam o lugar como um escape para a civilização, apenas para praticar os atos mais sangrentos possíveis.

Mia Goth é uma das protagonistas do filme
Mia Goth é uma das protagonistas do filme Mia Goth é uma das protagonistas do filme

Há uma série de discussões no filme, algumas mais diretas do que deveriam. Os personagens conversam sobre masculinidade (tanto sua versão tóxica, quanto uma possível domesticação masculina levada a cabo por mulheres, como pode ser o caso de James), identidade (principalmente à medida que mais clones morrem), violência e moralidade. Boa parte da trama é conduzida por Gabi, cada vez mais embriagada pela violência.

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Infinity Pool escancara o poderoso apuro visual do diretor, que consegue até mesmo sair sombra do pai, mas também é prova das falhas narrativas dele. No último terço, o filme acaba por dispensar seus momentos de sátira social, enquanto a violência extrema torna-se apenas cansativa. Aparentemente, Brandon confia demais na premissa do filme e na dupla de atores principais, e se perde nas conclusões de seu longa.

Seu grande defeito é falhar em unir suas ambições de discurso social com sua correnteza sangrenta. No fim, o filme é mais uma exaustiva exposição de violência do que uma intrincada crítica social, que só não se torna exaustiva pelas capacidades estéticas do diretor.

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