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Liam Neeson subverte próprio legado e desconstrói a imagem do herói de ação em ‘Último Alvo’

Ator interpreta um gângster lidando com os limites da idade e da memória no filme que estreia nesta quinta-feira (27)

Cine R7|Thainá Pereira*

Liam Neeson está frágil e poderoso em 'Último Alvo' Divulgação

Desde que assumiu o papel do vingativo Bryan Mills em Busca Implacável, em 2008, Liam Neeson consolidou-se como um dos maiores ídolos do cinema de ação, tornando-se a personificação do “machão implacável”, que enfrenta hordas de inimigos com punhos firmes e expressão austera.

No entanto, Último Alvo, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27), surge como uma interessante desconstrução desse arquétipo, apresentando um Neeson que, embora mantenha essas características marcantes, precisa lidar com a inevitabilidade do envelhecimento.

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Na trama, dirigida por Hans Petter Moland, Neeson vive Thug, um gângster de Boston que tenta se reconectar com a família e corrigir os erros do passado, mas seu estilo de vida criminoso logo ameaça destruir tudo o que ele mais preza.

O grande diferencial do longa não está em sua história de perseguição, mas na forma como o protagonista enfrenta um inimigo ainda mais implacável: a própria decadência física e mental.


Neeson não se esquiva dos sinais do tempo. Se em Busca Implacável e outros filmes do gênero ele se destacava pela destreza e pelos movimentos rápidos, aqui seus golpes são menos precisos, seus reflexos menos afiados e sua expressão carrega o peso das décadas de violência.

A principal novidade é o declínio cognitivo: Alex Lewis sofre de um estágio avançado de Encefalopatia Traumática Crônica (CTE), uma doença cerebral degenerativa, o que adiciona uma camada de fragilidade e tensão à narrativa. O homem que antes confiava plenamente em sua memória agora lida com lapsos que podem custar sua vida.


O relacionamento de Thug com a personagem não nomeada de Yolonda Ross adiciona uma camada de melancolia ao filme, mostrando um homem que, apesar de toda a brutalidade, busca algum tipo de conexão afetiva.

A tentativa de reaproximação com sua filha Daisy (Frankie Shaw) e o vínculo com seu neto Dre (Terrence Pulliam) reforçam a narrativa de um personagem que, por trás da imagem de assassino implacável, carrega uma masculinidade frágil, marcada pela culpa e pela incapacidade de expressar seus sentimentos. Essa jornada interna dá profundidade ao filme, tornando-o não apenas um thriller de ação, mas um estudo sobre envelhecimento e redenção.


A direção de Hans Petter Moland é funcional, sem grandes invencionices, mas eficaz ao destacar os momentos de hesitação de Thug. O roteiro, assinado por Tony Gayton, aposta na dualidade entre a violência crua e os momentos de introspecção, contrastando o passado do protagonista com seu presente instável.

Embora aparente ser mais um filme de ação estrelado por Liam Neeson, Último Alvo surpreende ao revelar um profundo drama sobre um homem confrontando as consequências de seus atos enquanto encara seu envelhecimento.

Mais do que tiros e perseguições, o filme apresenta um protagonista lidando com a fragilidade da memória e a crueldade humana que permeia as ruas. Em vez de um herói indestrutível, Neeson nos entrega um homem quebrado, que precisa encarar não apenas seus inimigos, mas também sua própria decadência e a difícil jornada da redenção.

Neeson poderia continuar a interpretar heróis inalcançáveis, mas Último Alvo mostra que, ao se permitir ser frágil, ele se torna mais poderoso do que nunca.

*Sob supervisão de Lello Lopes

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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