‘Lições de Liberdade’ transforma amizade real entre professor e pinguim em filme fofo e inofensivo
Longa baseado em história real estreou nos cinemas nesta quinta-feira (24)
Cine R7|Jean Werneck*
RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Lições de Liberdade, que estreou nos cinemas nesta quinta-feira (24), é uma fofura. Um daqueles filmes para sentar no sofá com a família depois do almoço, assistir sem qualquer compromisso e, em seguida, tirar uma soneca.
Esta talvez seja uma das melhores formas de descrever uma produção que conta a história de uma amizade improvável entre um homem ranzinza de meia-idade e um pinguim.
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Mas “fofura” talvez não seja o adjetivo mais adequado para descrever um filme que tem a ditadura militar argentina de 1976 — em que cerca de 30 mil cidadãos desapareceram e a censura aos opositores imperava — como pano de fundo.
Baseado em uma história real, o roteiro segue Tom Michell (Steve Coogan), um professor britânico que começa a ser seguido por um pinguim depois de resgatá-lo na beira de uma praia, no Uruguai.
Sem ter como devolvê-lo ao seu habitat natural, ele leva a ave consigo para o colégio interno em que dá aulas, na Argentina. Entre as tensões políticas e econômicas do país e seu mau-humor costumeiro, Tom e Juan Salvador, como o mascote passa a ser chamado, desenvolvem um afeto inusitado e aprendem lições valiosas um com o outro.
Adaptar uma história para as telonas é um desafio. O que, do material original, deve ser reproduzido e o que deve ser modificado? Como dar novos contornos a essa história sem comprometer sua essência? Ela deve ser inteiramente fidedigna ou guiada pela liberdade criativa? No caso de Lições de Liberdade, quem realiza esse processo de adaptação é o roteirista indicado ao Oscar Jeff Pope.
Ele parte do livro The Penguin Lessons (traduzido livremente como As Lições do Pinguim) e mantém alguns detalhes exatamente como o Tom da vida real relata, enquanto toma liberdade para reescrever outros.
O batismo do nome Juan Salvador, por exemplo, ocorre de maneira totalmente diferente no livro e no filme. Enquanto isso, as cenas do “momento terapia” entre os funcionários e alunos do internato e o pinguim são curiosamente verídicas.
Infelizmente, Pope se atém a imprimir a ternura da relação entre o professor e seu animal de estimação, e perde a chance de ir além nas pinceladas políticas do contexto histórico em que a obra se passa.
Ao mesmo tempo em que utiliza a ditadura militar argentina como fio condutor do enredo, ele a explora de maneira superficial, sem se aprofundar com seriedade nos impactos desse regime autoritário sobre a população.
Leva certo tempo até identificarmos o que exatamente está nesse pano de fundo. Acompanhamos, por alto, a jovem que é sequestrada e torturada pelas autoridades por fazer parte de um movimento rebelde, e a inflação oscilante decorrente da crise econômica.
Ainda assim, tudo é tratado de forma rasa e, por vezes, até boba — como na cena humorada em que Tom recebe seu primeiro salário e precisa gastá-lo o quanto antes para que o dinheiro não perca seu valor.
É como se Pope quisesse transformar Juan Salvador em um símbolo da luta contra a ditadura argentina, ensinando empatia ao seu tutor e contagiando as pessoas ao seu redor com atenção e gentileza ao próximo e, ainda assim, o filme se acovardasse em ser político demais para ser um filme “tamanho família”.
Além disso, Lições de Liberdade não tem grandes méritos. Steve Coogan se destaca dentro de um elenco mediano. Ele foi o nome responsável por propor a adaptação do livro aos cinemas e trouxe traços distintos para sua própria versão de Tom Michell.
O personagem da realidade era jovem e otimista na época em que viveu a aventura, enquanto o da ficção possui uma idade mais avançada e tem o cinismo como base comportamental. As divergências propõem um protagonista com mais camadas, o que dá a oportunidade de Coogan tornar o papel mais complexo.
Ademais, também é interessante como a equipe do longa tornou possível a atuação tão carismática de um pinguim em cena. Foram necessários diversos pinguins para interpretar Juan Salvador, mas dois em especial deram vida à ave: Baba e Rishard.
Em uma entrevista, Coogan contou que os dois eram um casal e, como pinguins escolhem um parceiro para a vida toda, isso facilitava as gravações. Animais robóticos foram utilizados apenas em cenas que poderiam ser desconfortáveis para os bichos — ou seja, pouco ou quase nada de efeitos especiais.
*Sob supervisão de Lello Lopes
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