‘Luta de Classes’: Spike Lee reimagina clássico de Kurosawa em thriller sobre desigualdade
Em vez de apenas surfar na onda dos remakes, o diretor reimagina o enredo sob sua perspectiva
Cine R7|Jean Werneck*
LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Os famigerados remakes — novas produções baseadas em obras já existentes — têm predominado em Hollywood. A reciclagem de histórias feita pelo cinema americano leva muitos a questionarem aspectos como a originalidade e o ineditismo dos roteiros mais recentes.
Luta de Classes, novo filme do diretor Spike Lee, responsável por Faça a Coisa Certa (1989) e Infiltrado na Klan (2018), se inspira no clássico Céu e Inferno (1963). O filme acaba de chegar ao streaming.
Veja também
Contudo, apesar de partir da mesma premissa, o cineasta estadunidense segue um estilo próprio e aborda temas distintos da obra consagrada de Akira Kurosawa, ainda que faça referências ao mestre do cinema japonês.
Em vez de apenas surfar na onda dos remakes, Lee reimagina o enredo sob sua perspectiva, trazendo para o centro elementos recorrentes de sua filmografia, como a cena urbana e a negritude afro-americana.
Em Luta de Classes, acompanhamos David King (Denzel Washington), um magnata da música prestes a fechar um acordo milionário para salvar sua gravadora.
Ele enfrenta um dilema moral quando o filho de seu motorista e braço direito (Jeffrey Wright) é sequestrado após ser confundido com o verdadeiro herdeiro de seu império. A dúvida sobre pagar o resgate ganha peso quando o valor exigido ameaça colocar em risco tudo o que King construiu.
Até esse ponto da narrativa, ambos os longas guardam semelhanças. O que realmente os distingue é o contexto histórico e social em que cada cineasta nos insere: Kurosawa retrata a ascensão econômica e a desigualdade social do Japão após a Segunda Guerra Mundial; já Spike Lee foca no racismo estrutural e nas fissuras do sistema capitalista, tendo Nova York como pano de fundo.
Nesse sentido, as críticas sociais de Highest 2 Lowest (título original, que preserva mais subtexto do que a tradução) vão além. O roteiro de Alan Fox também comenta as transformações da indústria cultural, em que músicas inteiras podem ser criadas por inteligência artificial e as redes sociais dominam os debates públicos a partir de polêmicas e espetáculos. Como sintetiza um dos diálogos: “a atenção é a moeda mais forte”.
Além disso, o diretor imprime uma intensidade e uma dinamicidade à narrativa que contrastam com o ritmo do original. Lee explora técnicas como o split-screen (quando divide a tela em duas) e o dolly-zoom (que provoca uma distorção visual ao alterar o zoom e mover a câmera simultaneamente).
Sem contar a batalha de rap entre Washington e A$AP Rocky, que confronta a realidade luxuosa do empresário em sua cobertura com a do aspirante a rapper que grava músicas em um porão.
A valorização da negritude é outro ponto central da obra. A maior parte do elenco é formada por intérpretes negros — da família principal a cantores, detetives e âncoras de jornal.
A direção de arte e a caracterização dos personagens também recorrem a ícones da cultura negra, como Stevie Wonder e Aretha Franklin, que estampam a decoração da sofisticada residência de King e simbolizam sua habilidade em descobrir prodígios musicais.
Assim, Luta de Classes conquista uma personalidade própria, mesmo partindo de uma base clara. Pode causar certo estranhamento pela Nova York estilizada que representa, mas o faz sob a direção firme de Spike Lee, colocando no centro discussões fundamentais para compreender o mundo contemporâneo e suas contradições éticas, artísticas e socioeconômicas.
Estreias da semana no cinema - 11 de setembro
Filmes nacionais, anime de sucesso e relançamentos. Veja o que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (11).
Divulgação
*Supervisão de Lello Lopes
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp