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‘Malês’ é grande convite para o brasileiro entender melhor as suas raízes

Filme conta a história da Revolta dos Malês, um dos levantes de escravizados mais importantes da história do Brasil

Cine R7|Gabriel Ferreira*

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Antônio Pitanga é o grande nome por trás de Malês Divulgação

Com direção e atuação de Antônio Pitanga, o drama histórico Malês revisita um episódio essencial da história do país: as movimentações que envolveram a Revolta dos Malês, um dos levantes de africanos escravizados mais relevantes do Brasil, quando 600 manifestantes marcharam pelas ruas da então capital do país, Salvador, em combate com as forças policiais.

O filme, que estreou no mês passado, conta com a participação de Camila e Rocco Pitanga, filhos de Antônio. O patriarca da família continua escrevendo a sua trajetória no cinema nacional aos 86 anos, cerca de 60 anos depois de se tornar um dos rostos mais conhecidos do Cinema Novo.


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Na época, os papéis que Antônio desempenhava nas telas o permitiram provar que ele sabia dar vida a personagens negros complexos. E foi depois de uma sessão do filme Amistad, de Steven Spielberg, em 1997, que o ator traçou para si a meta de executar um filme sobre a história negra, feito por um negro. Este filme é Malês.

Com colorimetria muito bem aplicada e planos bem definidos, Malês cumpre o papel de expressar o peso que a história tem. A intenção fica clara ao espectador do início ao fim, sem muito espaço para confusões nesse sentido. Além destes fatores, as atuações encontram as cargas dramáticas necessárias para representar a história.


O filme começa com uma cerimônia matrimonial na África que logo é interrompida por uma cena frenética de violência. Capitães do mato invadem o casamento de dois malês e, apesar da resistência das vítimas, os sequestradores conseguem levá-las para serem vendidas como escravos no Brasil.

O amor contra a violência

Malês lida com o tema da escravidão de maneira diferente de outros filmes. O peso e a densidade da história não ficam de lado; a direção mostra presentes as angústias que pairam na condição em que os escravizados estão. Essas angústias são expressas em diálogos reflexivos sobre o valor da liberdade, bem como a consciência de que a vida de pessoa livre existe como possibilidade para os africanos escravizados.


Estes dilemas entre o sonho da vida possível e o trauma da vida real estão presentes em todo o filme. No entanto, Malês aposta na potência do amor como antítese à violência desoladora daquela vida real. A cena do reencontro do casal sequestrado na África, no início do filme, após alguns anos, é capaz de expressar este poder que o roteiro entrega aos laços de amor.

Como o filme dá conta de tanta informação?

No processo de adaptação de uma história real, cheia de complexidades e singularidades, Malês parece tentar dar conta de todas elas. Na maioria das vezes, os diálogos precisos e as cenas bem compostas conseguem alcançar a profundidade necessária para dar luz a todos estes temas. Mas em alguns momentos o longa se mostra conciso demais para tratar bem de tantas temáticas.


Talvez o maior exemplo dessa falta de tempo para lidar com tanta informação seja o arco que envolve Sabina da Cruz (Camila Pitanga). Em dado momento, quando o filme consegue desenvolver melhor a articulação da revolta, a personagem é limitada a cenas curtas, ante ao longo tempo de tela que havia ganhado no início do longa. Ela faz falta na história, e só aparece de novo no fim, delatando o plano dos malês às forças policiais.

O enredo parece seguir um ritmo muito mais acelerado na terceira parte do longa, sem tanto espaço para diálogos reflexivos e cenas profundas, com os quais foi construído nas primeiras duas partes inteiras. Até que chega o momento da execução do levante.

É curioso o clima construído no final da obra. A frustração da revolta não é tratada como tragédia. A sensação construída pela trama é que a tentativa do levante valeu a pena. Malês, então, serve como um grande convite para o brasileiro entender melhor as suas raízes.

*Sob supervisão de Lello Lopes

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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