'Nosso Sonho', cinebiografia de Claudinho e Buchecha, acerta nos protagonistas sem exagerar no drama
Filme que conta a história da dupla de funk melody estreia nesta quinta (21) nos cinemas
Cine R7|Mariane Reghin, do R7
"Nossa história vai virar cinema." Como já previa a letra de Coisa de Cinema, de Claudinho e Buchecha, a cinebiografia da dupla estreia nesta quinta-feira (21) nas telonas. Nosso Sonho acerta ao escalar Lucas Penteado e Juan Paiva para a missão de interpretar os cantores que popularizaram o funk melody no fim da década de 1990.
Lucas Penteado e Juan Paiva dão vida a Claudinho e Buchecha, respectivamente, e têm entrosamento de sobra em cena. A dupla de atores conta a história, que termina em tragédia com a morte de Claudinho, com leveza e garante boas risadas ao público.
Das dificuldades no início da carreira ao sucesso, Lucas e Juan prendem o espectador, sendo fiéis aos trejeitos dos cantores, como ao reproduzir a “língua presa” de Claudinho, sem apelar para os artifícios clássicos do drama.
Usando o recurso de flash foward logo no início ao traçar paralelos entre o passado e o futuro, o filme resgata a infância simples da dupla de funk em uma comunidade de Niterói. Vinicius “Boca de 09” e Gustavo Coelho fazem Claudinho e Buchecha na infância, respectivamente, e complementam bem o trabalho de Lucas Penteado e Juan Paiva.
Destaque para a cena de afogamento de Buchecha em um rio, quando ele acaba sendo salvo por Claudinho, o que retrata a força dessa amizade que se fortalece ainda mais na vida adulta.
Após passarem anos separados, Claudinho e Buchecha se reencontram na adolescência na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), e começam a frequentar bailes funk, mostrando o poder do ritmo e da poesia da periferia. É aí que surge o Rap do Salgueiro, escrito para participar de um concurso que lança os jovens à fama.
Apesar de ressaltar a importância de Claudinho para a criação da dupla, Nosso Sonho mostra o ponto de vista de Buchecha. Dessa forma, seus dramas pessoais e familiares têm maior destaque na trama. Tanto que a sua história de amor com Rosana, interpretada pela atriz Lellê, é bem mais desenvolvida do que a de Claudinho e Vanessa, papel de Clara Moneke. A participação da atriz, que chamou atenção em novela recentemente, merecia mais tempo de tela.
A relação conflituosa de Buchecha com seu pai, Souza, interpretado pelo ator Nando Cunha, permeia toda a narrativa e convence o público. O homem, que sofre de alcoolismo e é violento com o filho, acaba incentivando indiretamente sua carreira ao provocá-lo dizendo: "Quem tem talento não tem patrão".
Sem preocupação com a cronologia de músicas da dupla, o diretor Eduardo Albergaria foca o processo de composição até a gravação de Nosso Sonho, que dá título ao filme, e entrega uma sequência divertida. Até o significado da palavra "adjudicar", do trecho “Se o destino adjudicar, esse amor poderá ser capaz, gatinha”, é explicado de forma didática e bem-humorada.
Da metade para o fim, a cinebiografia acelera ao mesclar a ascensão da dupla de funk melody com o sucesso das músicas Fico Assim Sem Você e Só Love, com acontecimentos marcantes da vida pessoal dos cantores, como a gravidez de Andressa, filha única de Claudinho. A reprodução do trecho de uma entrevista com Jô Soares dá a dimensão do alcance da fama.
Nas cenas em que a emoção e a tensão se dividem, o recurso de tela preta é amplamente utilizado. Nesse momento, de ausência de imagem, o filme sai da tela e implica toda a sala de cinema nele, no limite do apelo ao drama.
Com quase duas horas de duração, Nosso Sonho simboliza o poder da amizade e da música para transformar a vida das pessoas. A cinebiografia é envolvente, vai agradar aos fãs e até inspirar os mais jovens que não tiveram o privilégio de nascer na mesma época de Claudinho e Buchecha.
Vinte e um anos após a trágica morte de Claudinho, o filme cumpre seu papel de homenagear o cantor e mostrar o legado da dupla para o funk com suas letras e coreografias divertidas. A trama consegue terminar para cima, exibindo trechos de gravações antigas dos cantores e emociona a todos que se permitem ficar na sala até o fim dos créditos.
Confira o trailer:
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