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‘Onda Nova’, banido na ditadura, estreia como retrato anárquico da juventude dos anos 1980

Obra censurada na ditadura é lançada no cinema e conta uma história erótica, ousada e cada vez mais atual

Cine R7|Lucas Tinoco*

Time feminino de futebol está no centro do filme 'Onda Nova' Divulgação

O que fazer para se opor a um regime ditatorial censurador que suprime toda e qualquer forma de expressão artística? Onda Nova (1983), dirigido por José Antonio Garcia e Ícaro Martins, é, certamente, uma resposta.

O longa, censurado logo após ser exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 1983, finalmente estreou em circuito comercial nesta quinta-feira (27), em versão remasterizada.

Indo na contramão do Cinema Novo, celebrado na época por servir como forma de denúncia dos abusos ocorridos durante o período no Brasil, Onda Nova vai em direção ao psicodélico, jocoso, erótico e, até mesmo, escatológico.

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A trama acompanha de maneira bem abrangente a vida das jogadoras do time Gaivotas Futebol Clube, mostrando tanto o que se passa dentro de campo quanto o que acontece fora, em suas noites de bebedeira, relações sexuais e uso de entorpecentes.


No final, o que importa mesmo nessa leve faísca de trama simples é o enfrentamento e a subversão.

Filmado em uma época em que mulheres jogarem futebol era uma ousadia (elas eram proibidas de praticar o esporte até 1979), a obra se propõe a ser bela com o seu erotismo e o que ele causa.


Além disso, com transgressão, uso de psicodélicos e substâncias proibidas, tudo ganha um senso cômico e colorido. O filme, mesmo tendo muitas cenas consideradas imorais, nunca as condena.

Os personagens nunca são afetados pelas coisas que fazem, sendo elas do mais alto grau de deturpação sexual, moral, social ou corporal, o que corrobora ainda mais para tal jocosidade.


A fotografia também segue essa métrica. A dessaturação de imagem aqui é quase inexistente, com nenhum cinza no longa. Isso porque não quer mostrar uma juventude em ruínas, mas jovens aproveitando ao máximo a adolescência tresloucada e amando essa descoberta prematura de mundo. Assim, a coloração é a mais vibrante possível.

Os personagens dessa trama não somente têm essa vibração das cores em figurino, maquiagem e penteados absurdos, mas em suas essências também. Todos ali são retratados como um coletivo narrativo.

Não há espaço para uma protagonista da equipe, mas todas têm seus destaques ampliados. Suas personalidades são as mesmas, pessoas que não se conformam com a vida monótona e responsável que se tem em mente quando a palavra socialização é mencionada. Para eles, a existência de uma sociedade é coisa do passado.

Tudo em Onda Nova se revela como uma batalha contra as convenções do Brasil do início dos anos 80. É uma ode à juventude e ao viver sem preocupações.

Agora, com o lançamento do longa sem censura e em alta definição, a provocação feita na época ganha novos significados. Onda Nova, que antes era afrontamento, se torna uma haste a favor da liberdade e de um senso jovem anárquico.

*Sob supervisão de Lello Lopes

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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