Para ‘Back to Black’, Amy Winehouse não passa de uma pessoa viciada em álcool e drogas
Longa se propõe a retratar a carreira da cantora, mas passa longe da realidade
Cine R7|Julia Pujar*
Chegou a vez da cantora Amy Winehouse ganhar o seu filme biográfico. Lançado na última quinta-feira (16), Back to Black tinha em mãos uma história complexa e dramática, o despertar e a derrocada de uma carreira brilhante, a perda de uma estrela cedo demais. Ou seja, um roteiro ideal para o cinema, mas o longa prefere jogar tudo isso fora a troco de nada.
Cinebiografias de grandes nomes do mundo da música seguem um padrão: apresentam o artista antes da fama, sua carreira começa a crescer exponencialmente até atingir seu auge, o cantor fica cego pelo estrelato, começa a ter exageros até que, na maioria das vezes, morre. Mas não em Back to Black.
O filme de Sam Taylor-Johnson escolhe pegar os vícios de Amy Winehouse em álcool e drogas e reduzir a cantora apenas a isso. São raras as cenas em que a personagem aparece sem uma garrafa de bebida na mão. Pouco se mostra do início de sua carreira, de como seus álbuns foram produzidos ou o crescimento e a consolidação de sua fama.
Tudo é extremamente acelerado, quando não completamente cortado, apenas para que o roteiro chegue logo ao ponto da vida de Amy em que ela começa a usar e abusar de drogas, para que assim tenha alguma desculpa para focar apenas nesse aspecto.
E assim o longa segue por quase 1h50min, que parecem durar muito mais. São repetições intermináveis de cenas e convenções que não vão a lugar algum. A quantidade de momentos focados em mostrar Amy apenas fazendo tatuagens chega a ser hilária de tão claramente desnecessária.
O roteiro mostra sua completa fraqueza ao guardar momentos importantes apenas para os diálogos. Problemas de saúde, física e mental, enfrentados por Amy e praticamente toda a sua carreira, são contados por personagens ao invés de mostrados. A trama é tão rasa que só há uma cena de um show de grande público, mesmo que a cantora seja um dos nomes mais famosos dos anos 2000.
O filme, que deveria ser biográfico, pouco se importa com a sua fidedignidade. Personagens de grande influência na vida de Amy tem suas personalidades completamente modificadas e seus atos totalmente minimizados.
A escolha não só desrespeita a história real como atrapalha o andamento do longa, que parece não saber o que fazer com eles. A mudança é tão grande que faz até com que as letras das músicas, que em sua maioria são inspiradas neles, percam o sentido.
Já a protagonista é completamente unidimensional. Amy começa com uma personalidade e vai com ela até o fim, sem um vislumbre de desenvolvimento, algo essencial não só para esse tipo de filme, como para um roteiro competente.
Marisa Bela, que dá vida à personagem, parece ter entendido bem até demais essa falta de desenvolvimento. Sua Amy chega a ser apática de tão simples. A atriz não consegue passar a diferença dos momentos em que a personagem está sóbria ou não, com raiva, triste, feliz… A impressão é que Marisa encontrou um lugar confortável e escolheu ficar nele, sem se entregar emocionalmente mesmo quando é exigido dela.
Por não se parecer em nada fisicamente com a cantora, um erro da maquiagem do filme, a atriz tenta se aproximar da figura fracamente com os trejeitos. Ela força uma voz anasalada que se torna irritante e se esforça para atingir a potência vocal de Amy, o que consegue relativamente bem.
Em geral, Back to Black é um desrespeito. A maquiagem, a produção, as atuações e, principalmente, o roteiro pouco se importam com a vida, a importância e o fenômeno que é Amy Winehouse. O filme não se preocupa em agradar os fãs da cantora, mas também não se esforça para cativar um novo público. Um desperdício de uma história tão triste e profunda.
* Sob supervisão de Lello Lopes
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