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‘Paris, Texas’, clássico de Win Wenders sobre solidão, volta ao cinema

As estradas do vasto deserto do Texas ganham novos contornos neste relançamento em 4K

Cine R7|Lucas Tinoco*

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Harry Dean Stanton em uma paisagem solitária de 'Paris, Texas' Divulgação

Road movie é um gênero de filmes que tem como foco a jornada de seus personagens por uma vasta estrada e como esse caminho os influencia, sendo extremamente explorado pelo cinema americano. O que acontece, então, quando pessoas de outros lugares do mundo exploram essa temática?

A resposta vem com Paris, Texas, o longa mais reconhecido do diretor alemão Wim Wenders, que decidiu se aventurar pelo cenário arenoso do Texas e mostrar a sua visão desse tipo de filme no contexto americano. A obra, que estreou em 1984, está sendo relançada agora nos cinemas.

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Na trama, acompanhamos Travis (Harry Dean Stanton), um viajante em estado catatônico que não come, não bebe e apenas anda pelas vastas regiões desertas do estado texano. Após passar mal certo dia, Travis é forçado a reencontrar o irmão Walt (Dean Stockwell), que não o vê há muito tempo.

Já em sua sinopse, o filme destoa do seu gênero de origem. Um road movie tende a mostrar ao espectador cenários vastos e considerados belos, com histórias edificantes e esperançosas. Em Paris, Texas, entretanto, temos um homem perdido em um cenário perigoso e desértico, que dá uma sensação ao público de constante estranhamento.


O ritmo é bastante lento. Minutos e minutos se passam apenas com Travis e suas pequenas interações com o ambiente seco. Harry Dean Stanton não possui expressões. Ele anda com uma cara fechada para tudo o que está à sua volta. Algo claramente ocorreu com personagem e, assim, o longa mostra seu ponto mais intrigante: quem é esse viajante?

Com o passar da história, Travis reencontra sua família e vai para o ambiente urbano, mas o filme insiste em continuar nesse tom de desesperança. Ele começa a se recordar de suas memórias e parece não gostar tanto das ações que tomou nessa sociedade já conturbada, transmitindo uma sensação de melancolia acumulada.


A direção de Wenders intensifica ainda mais esse sentimento ao mostrar diversas vezes ao longo da obra, principalmente após sua metade, o rosto de Travis em planos fechados, com, agora, expressões decepcionadas. O filme reforça esse sentimento ao mostrar a escuridão e os tons de azul que passam pelo protagonista.

Tudo em Paris, Texas parece remeter a um passado que não existe mais, um sonho de uma família ideal, sendo ela a de Travis, que foi quebrada pelo mundo. Um mundo com um vazio constante, com um silêncio que passa pelo filme todo e uma falta de diálogos perceptível, assim como o deserto que assombra o personagem principal no início de sua narrativa.


Ao chegar ao final, o decadente andarilho toma novas direções, ficando intimidador ao confrontar certas pessoas de suas histórias passadas. Os tons de azul são encobertos por um ofuscante amarelo neon, remetendo a regiões desertas e solitárias que estiveram em sua jornada. A história de Travis não possui uma solução positiva, fechando o filme em seu auge de solidão.

Com isso, Wim Wenders explora ainda mais o gênero. Não para mostrar a costumeira alegre aventura de pessoas em regiões lindas do território norte-americano, mas, sim, o oposto, ao colocar um homem quebrado se aventurando pelos mais solitários lugares que tal país pode oferecer.

*Sob supervisão de Lello Lopes

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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