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Lembra dele? Veja como está hoje o eterno Rafa do ‘X-Tudo’

Aos 41 anos, Rafael Barioni relembra o sucesso do programa infantil na década de 1990 e fala sobre a carreira atual como diretor, roteirista e produtor executivo

Do Meu Tempo|Renato FontesOpens in new window

Rafael Barioni, o eterno Rafa do X-Tudo, ainda criança nos tempos de TV Cultura reprodução

Impossível falar dos anos 90 e não mencionar um programa que marcou a infância de quem era criança naquela época: o X-Tudo.

Exibido originalmente na TV Cultura entre 1992 e 2002, o programa abordava de forma lúdica e divertida temas como biologia, filosofia, história, esportes, meio ambiente e cidadania. Além disso, ensinava truques de mágica, experimentos científicos e até noções básicas de culinária.

Por falar em culinária, Rafael Barioni, que na época usava o sobrenome Meira, era um dos integrantes da atração, que além de apresentar reportagens, comandava um quadro gastronômico ao lado do boneco X. Lembra?

Hoje, aos 41 anos, ele é diretor, roteirista, produtor executivo e ator. Em entrevista para o blog Do Meu Tempo, Rafa volta no tempo para contar como tudo começou e ainda fala sobre a carreira atual. Confira abaixo a entrevista!


Início da carreira na TV

"Comecei na TV aos 3 anos, atuando em comerciais. Muita gente se surpreende quando digo que tenho 41 anos e 38 de carreira — mas é verdade, tenho até fitas VHS dos meus primeiros trabalhos, de 1986, para provar [risos]. Cresci em set de filmagem, nunca parei, e sigo até hoje envolvido com TV, publicidade e cinema.

No começo, fiz dezenas de comerciais com grandes anunciantes e diretores. Acompanhei toda a transformação técnica e de mentalidade. Era tudo em película, o que exigia outro nível de atenção com fotografia e processos. Por outro lado, a mentalidade era menos regulada — se um diretor queria fumaça na sopa, muitos sopravam fumaça de cigarro por um canudinho, mesmo com crianças no set. Hoje, impensável".


Sucesso no teatro

“No início dos anos 90, eu já era figura carimbada no mercado. Quando Paulo Autran (1922-2007) decidiu atuar com uma criança no palco pela primeira vez, fui considerado um forte candidato. Após uma audição concorrida, fui escolhido para protagonizar O Céu Tem Que Esperar, ao lado de Paulo Autran, Karin Rodrigues, Laura Cardoso e um grande elenco, com direção de Cecil Thiré.

A peça estreou em São Paulo em 4/9/1992, no dia em que completei 9 anos. Foi um sucesso: três anos em cartaz, turnê nacional, mais de 100 mil espectadores e ampla cobertura na mídia. Em uma matéria, Paulo Autran chegou a me chamar de “o ator de maior sucesso da nova geração”. Trabalhar com aquela trupe foi minha maior escola. Um selo de qualidade gravado na alma, com princípios que guiam minha vida até hoje.


Entre os que assistiram estava Maísa Zakzuk, diretora do X-Tudo, que buscava um garoto para apresentar um quadro de culinária. A peça nos aproximou, e fui parar na TV Cultura. Ali começava uma fase incrível, que moldou ainda mais meu espírito como artista e ser humano".

A fama na infância

"Desde cedo, comecei a experimentar reconhecimento nas ruas, fosse por uma campanha marcante ou pela peça com o Paulo Autran, que teve muita repercussão. Fui me acostumando aos poucos, numa espécie de graduação da fama.

Quando chegou o X-Tudo, com uma audiência nacional enorme, eu já estava um pouco preparado. Tinha uns 9 ou 10 anos. E, dali pra frente, muitos amigos me chamavam de “X-Tudo” ou só “X”.

Qualquer passeio em shopping ou mercado, eu já sabia que seria reconhecido por alguma criança ou família. Eu gostava muito. Quando o reconhecimento vem de algo que gera carinho e admiração, como a peça ou o programa, o encontro é sempre positivo, até hoje me faz bem.

O mais curioso é que, como eu tinha a mesma idade do público, hoje essas pessoas têm a minha idade. Em quase todo projeto novo, alguém da equipe eventualmente me puxa de lado pra contar que assistia ao X-Tudo. Isso é muito especial e, muitas vezes, até vira amizade. Vejo como privilégio.

A TV Cultura sempre teve uma conduta rigorosa com os valores transmitidos às crianças. Já naquela época, exigiam que eu fosse cuidadoso no contato com o público. Em resumo, não podia ser um mau exemplo. Isso gerou uma cobrança que carrego até hoje, mas considero saudável. Ser um bom exemplo não é fingir ser um ursinho carinhoso, mas sim entender o impacto dos valores que propagamos".

O envolvimento dos pais

"Meus pais não eram do meio [artístico], então fomos aprendendo juntos a lidar com fãs, imprensa, diretores e produtores. Mas eles sempre tiveram clareza sobre os limites éticos.

Eles sempre respeitaram meu amor pelo trabalho e jamais barraram minha carreira, mas também nunca deixaram de preservar minha infância. Brigavam com quem fosse necessário para defender meus horários, meus estudos, meu direito de brincar.

Chegaram a me tirar de sets — como naquela vez da sopa com fumaça de cigarro — e recusaram projetos grandes, como novelas, quando acharam que não seria saudável pra mim. Com isso, mostravam que a fama nunca viria antes do meu bem-estar.

Gol no Zetti

“O que mais tenho saudade é da rotina mesmo de ir pra TV com minha mãe e meu irmão, almoçar no “bandejão” da TV, passar a tarde no estúdio ao lado do Fernando Gomes (interprete do boneco X), a Maísa, a Fernandinha Souza (atriz Fernanda Souza) e tantas outras pessoas queridas da equipe.

Dois momentos me marcaram em especial: uma vez que gravamos uma matéria para o quadro de reportagens especiais do X-Tudo, no Instituto Butantã (em São Paulo). Como toda criança, eu adorava ir ao Butantã. Entrar nos bastidores do museu e do instituto, ver como criam as cobras e tal, foi muito legal. Outra vez divertida foi gravar no CT do São Paulo, conhecer os jogadores e fazer um gol no Zetti! Sim, tenho um gol no Zetti no meu currículo”.

Menino na cozinha

"A ideia de colocar um garoto cozinhando era justamente pra quebrar o tabu, e deu super certo. Meninos e meninas se identificaram. O mais legal: já recebi mensagens de pessoas que se tornaram chefs profissionais e que dizem que esse quadro foi a primeira influência. Isso é incrível! É esse o verdadeiro objetivo de um programa: tocar a vida das pessoas, e não só vender produtos licenciados.

Mais do que formar chefs, o importante era provocar as crianças a prepararem algo, a pensar sobre os alimentos. Muita gente me conta que assistia e tentava replicar em casa. Demais! Tem até quem guarde cadernos com receitas anotadas. O programa tinha um propósito, e esses relatos são a prova de que funcionou.

Na época, não tive grande preparo, a direção queria que eu agisse naturalmente. Se eu derrubava açúcar ou me enrolava pra quebrar um ovo, ótimo. Como sou meio atrapalhado, esse jeitinho virou meu charme e uma marca do quadro".

Livro de receitas

"Foram mais de cinco anos apresentando o quadro até o encerramento do X-Tudo. Lembro que fui crescendo dentro do cenário. No fim eu já tinha que ficar sentado num banquinho.

Era um programa diário, devem ter sido centenas de receitas. O legal é que a gente recebia cartas das crianças com receitas. Até hoje tenho algumas dessas cartas.

As pessoas lembram muito do pão com manteiga e chocolate em pó. Eu lembro da paçoquinha, porque além de adorar paçoca, foi a maior sujeira naquele balcão para preparar o doce".

Parceria com o boneco X

"O Fernando Gomes foi meu grande parceiro naquela época. Passávamos a tarde gravando atrás do cenário e conversávamos muito. O Fê sempre fez questão de me dar atenção. Falávamos de tudo, desde futebol (foi com ele que entendi a importância do Zico) até questões da profissão. Ele já era super experiente e me dava muitas dicas, tanto éticas quanto artísticas. E é um cara muito divertido.

Em um dos meus aniversários, ele me deu um boneco X de espuma feito por ele especialmente para mim. Sem dúvida, um dos melhores presentes que já recebi, e está guardado até hoje. Tive muita sorte de trabalhar com o maior bonequeiro do Brasil, e possivelmente um dos maiores do mundo".

Ida para os bastidores

Hoje, aos 41 anos, Rafael Barioni é diretor, roteirista, produtor executivo e ator arquivo pessoal

"Desde cedo, fiquei fascinado pela engenharia dos sets. Com 5 ou 6 anos já dizia que queria ser diretor de TV e cinema. Tracei esse destino bem jovem, e segui: fiz faculdade de cinema e fui trabalhar atrás das câmeras assim que pude.

Curiosamente, meu último trabalho como ator na TV Cultura foi como protagonista da série Galera. Depois disso, me formei, e esse foi praticamente o fim de um ciclo e o começo de outro. Sempre gostei muito de cinema. Meu pai via filmes comigo, eu inventava histórias e escrevia muito. Queria fazer meus próprios filmes.

Mesmo com uma carreira sólida como ator desde os 3 anos — só na TV Cultura foram 10 anos — eu sabia que viver de atuação no Brasil era financeiramente instável. Não vinha de família rica ou do meio artístico. Achei que me formar também como diretor, roteirista e produtor aumentaria minhas chances, e aumentou.

Comecei com videoclipes, passei por canais como MTV, HBO e Sony, e logo estava dirigindo séries. Já assinei mais de 120 episódios de diferentes séries, e já criei 4 séries, incluindo Perícia Lab, hoje na terceira temporada no AXN e com ótima audiência.

Em 2024, realizei meu sonho de fazer um longa. Lancei o documentário original HBO Herchcovitch: Exposto e dirigi meu primeiro longa de ficção, O Invisível, contemplado pelo edital Paulo Gustavo.

Sou também diretor criativo da Mood Hunter, estúdio criativo que fundei com minha esposa, Damï VDC. Atuamos no Brasil, Colômbia, Estados Unidos e Bélgica com mais de 100 pessoas criando trailers e projetos para os grandes estúdios de Hollywood. É um trabalho extremamente criativo e alinhado aos nossos valores, o que fortalece muito nossa cultura.

Cinema é um assunto que gosto muito, tanto que lancei pela Ciranda Cultural ano passado o livro Manual do Jovem Cineasta, em parceria com a Vivian Caroline Lopes, focado para o público infanto-juvenil.

Agora, aos 40, com meu primeiro filme feito, sinto que mais um ciclo se completou — e com ele, veio uma enorme vontade de voltar a atuar. Já tenho projetos em andamento e meu plano para os próximos 40 anos é conciliar os dois lados: atuar e dirigir.

Ser ator é uma dádiva, algo que nunca sai de você. Estou ansioso para voltar, escolhendo os projetos certos ou até escrevendo um papel para mim mesmo”.

Programas educativos

"Ainda há iniciativas, mas é fato que a lógica do mercado está cada vez mais agressiva, focando em produtos que fidelizem (ou viciem) as crianças e gerem lucro com licenciamentos. Nesse modelo, o educativo fica em segundo plano. O importante é virar boneco, caderno, joguinho...

Isso afeta todo o mercado. Sem investimento, os criadores deixam de pensar projetos educativos e focam no apelo comercial. Por isso, emissoras públicas e editais são essenciais para fomentar conteúdo infantil independente com foco educativo.

E como a TV Cultura já mostrou, programa educativo não precisa ser chato. Castelo Rá-Tim-Bum é prova disso. Entretenimento de altíssimo nível, com storytelling envolvente e mensagens positivas.

Sinceramente, o que mais me preocupa hoje não é a programação das grandes emissoras — que, mesmo com defeitos, ainda tem certo cuidado artístico e de mensagem. O que mais me dá um alerta é a avalanche de conteúdo infantil na internet feito por produtores sem critério, movidos apenas por views. Muitos vendem a ideia de “equipe pedagógica”, mas basta assistir cinco minutos pra perceber que é balela”.

Mudaria algo caso fosse chamado para dirigir um remake de ‘X-Tudo’?

“Mudaria sim, já temos um plano secreto em andamento e não posso contar muito para não estragar a surpresa. O que posso dizer é: quem assistia naquela época continuará sendo o público principal, mesmo já tendo crescido”.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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