A ciência por trás da letra de Chico Science
“Da Lama ao Caos” junta duas teorias científicas, de duas áreas de estudos diferentes

Não é só uma letra de música. Tem ciência por trás dela. Pode parecer trocadinho, mas estamos falando da canção “Da Lama ao Caos”, do Chico Science e Nação Zumbi.
Francisco de Assis França, o Chico Science, foi um dos maiores colaboradores do movimento da década de 90 que ficou conhecido como Mangue Beat. Junto com a Nação Zumbi, foram um dos maiores expoentes
É dele a letra “Da Lama ao Caos”, que dá o título ao primeiro disco do Chico Science & Nação Zumbi, lançado em 1994. Chico, que faleceu em 97, considerava essa uma das suas melhores letras.
Ela foi escrita em uma “tacada só”, como dizem. Era um final de semana e Chico ia para o ensaio da banda de ônibus. No trajeto, escreveu toda a letra da música.

Mas se para escrever foi rápido, a concepção dela não foi tão simples assim. Para fazer essa letra, Chico utilizou como referência dois estudos científicos. Um deles está relacionado ao estudo desenvolvido pelo pernambucano Josué Apolônio de Castro, médico e cientista social e com reconhecimento internacional pelos seus estudos sobre a fome. Para ele, o maior drama da humanidade é o drama da fome. E mais: o problema da fome não está nos limites da produção e sim na distribuição dos alimentos.
Chico Science referenciou Josué na letra da seguinte forma: “o Josué, que nunca vi tamanha desgraça, Quanto mais miséria tem, mas urubu ameaça”.

O autor da canção conseguiu entrelaçar as teorias de Josué com a Teoria do Caos. Certa vez, Chico e o H.D. Mabuse, também do movimento Mangue Beat, foram para um barzinho e de lá para a Universidade Federal de Pernambuco. Ficaram andando no campus, viram uma porta aberta e entraram.
Nesta sala estava sendo exibido um documentário sobre a geometria fractal, que está relacionada com a Teoria do Caos, desenvolvida pelo matemático e meteorologista Edward Lorenz, nos anos de 1960 que, em resumo, defende que pequenas mudanças nas condições iniciais de um sistema podem levar a resultados muito diferentes e imprevisíveis ao longo do tempo, ou o que se definem como “efeito borboleta”.
Os dois ficaram fascinados pela Teoria do Caos. Saíram de lá, passaram em uma banca e compraram a revista de divulgação científica Ciência Hoje que falava sobre a Teoria do Caos.
Chico entendeu que essa teoria tratava de uma “desordem organizada” e na letra da música ele mencionou esse estudo da seguinte forma: “Posso sair daqui para me organizar, posso sair daqui para desorganizar. Da lama ao caos, do caos à lama. Um homem roubado nunca se engana”.
Essa última frase tem a ver com uma história do próprio Chico Science. Quando ele tinha um pouco mais de 20 anos, foi para São Paulo, na casa de um primo. Como já integrava o movimento Hip Hop, quis comprar um tênis que era característico desse movimento. Foram para o centro da capital paulista, entraram em uma dessas lojas “duvidosas” e o atendente falou que tinha o tênis, mas como era uma mercadoria difícil, ele precisaria buscar em outro local. Chico pagou e o atendente nunca mais voltou.
E ainda na letra, ele fala sobre o roubo de cebola, de cenoura na feira. Ao mostrar a letra para a banda, houve quem dissesse que essa parte estava deslocada. Mas Chico defendeu que tinha a ver com a Teoria do Caos, afinal: “Que eu desorganizando posso me organizar. Que eu me organizando posso desorganizar”
Fonte: O Livro do Disco - Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama ao Caos. Lorena Calábria. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
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