Bruno Gouveia mostra fôlego do Biquini (ex-Cavadão) aos 40 anos de carreira e diz que rock está mais underground
Confira a entrevista exclusiva com o vocalista da banda carioca
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Tédio? Não no Carnaval de Diamantina deste ano. A cidade mineira escolheu o Biquini (antigo Biquini Cavadão) como a atração principal do Carnaval deste ano. A banda carioca, liderada pelo vocalista Bruno Gouveia, toca na praça do centro histórico da cidade na sexta-feira (28).
O Biquini é uma das bandas mais longínquas do rock brasileiro, remanescentes da era de ouro da cena carioca dos anos 80 junto, principalmente, com Paralamas do Sucesso e Kid Abelha.
Inclusive, duas bandas com histórias entrelaçadas no surgimento do Biquini, conforme entrevista concedida por Bruno Gouveia ao blog Essa Eh do Rock.
Para o blog, Bruno também falou sobre projetos futuros. “Estamos completando 40 anos de carreira. É uma vida né? Estamos preparando um disco agora muito especial para falar sobre isso. A vida. Como ela é, como ela é com o passar dos anos. Sobre os vários olhares sobre ela”, adiantou o cantor.
O vocalista também contou sobre Minas Gerais, terra natal de Bruno, o Carnaval e o futuro do rock brasileiro. Veja a entrevista:
A arte no Rio de Janeiro é vibrante e capaz de reverberar no Brasil inteiro. Como é para você fazer parte da história do rock carioca na mesma geração em que Paralamas do Sucesso e Kid Abelha?
Você citou dois grupos que foram realmente muito importantes no surgimento do Biquini. O Kid Abelha através do seu ex-baterista, o Carlos Beni, que nos deu uma força tremenda, quando nem nós tínhamos ideia do que nós estávamos fazendo. Ele que vislumbrou, nas canções que nós fazíamos, algo que pudesse ser levado adiante. Ao longo da nossa história, ele foi produtor musical, empresário... Nos dá uma saudade imensa, já que ele partiu há alguns anos. É uma pessoa muito importante em nossas vidas.
O outro é Hebert Vianna, que inclusive deu o nome do Biquini. O Biquini Cavadão foi uma sugestão dele. Nesses dois casos, estávamos realmente muito bem assessorados. Em perfeita companhia e sintonia no momento em que o rock estava florescendo. Rio de Janeiro e São Paulo foram os dois pontos iniciais, mas depois se espalhou pelo Brasil. Rock de Brasília, de Porto Alegre, de Minas Gerais, da Bahia, de Pernambuco. De todo o Brasil.
O Biquini já lançou 14 álbuns de estúdio. E pensar que tudo começou com uma única canção, o Tédio, em 1985. Vocês viveram todas as grandes transformações do mercado fonográfico (rádios, gravadoras, MTV). Hoje, em 2025, na era dos streamings, faz sentido lançar um álbum de inéditas? Ou álbuns com sentidos artísticos como operas-rocks (como Tommy, do The Who, e American Idiot, do Green Day) jamais se repetirão? Estaremos eternamente presos na era dos singles?
Todos os nossos álbuns têm um conceito por trás, um conceito bem amarrado, e até por isso consegue dialogar com o público, com os fãs do Biquini, de uma maneira muito legal. Sobre os lançamentos na atualidade, sempre pensamos que, na verdade, gravamos músicas que vão fazer parte de um álbum. Apenas mudamos a estratégia na hora do lançamento. Ou seja, invés de lançar como um álbum de cara, a gente vai lançando em singles.
Hoje é como a plataforma melhor funciona, não só para nós, mas com a maioria dos artistas. É interessante isso. Quando lançávamos álbuns na década de 80, às vezes, era triste a gente observar como o álbum saía: a gente tinha duas, três músicas sendo executadas, para o conhecimento geral, e o resto virava o que a gente chama de lado B. Hoje a gente tem a chance, com o singles, fazer com que esse “lado B” tenha uma visibilidade maior. Especialmente se é para um fã da banda que está atento aos lançamentos. Nós não estamos presos a isso. Não o Biquini.
Eu ia adorar se você pudesse falar um pouco do conceito dos seus últimos trabalhos, e sobre o que vocês pensam para o futuro.
Nossos dois últimos álbuns de inéditas, por exemplo, foram com essa ideia. O As voltas que o Mundo Dá (2017) foi um disco que falava sobre a imprevisibilidade da vida e como as coisas podem, às vezes, de tão boas, virar de cabeça para baixo e você passar por um momento difícil. Quanto ao contrário. Você está no fundo do poço e uma luz aparece no fim do túnel.
Já Através dos Tempos (2021) foi um disco feito através de uma parceria completamente virtual no qual a gente trabalhou com o produtor à distância, durante a pandemia. Queríamos falar exatamente sobre isso. Sobre sobreviver. Eram tempos difíceis, né? É um disco que fala muito sobre resiliência. Sobre o futuro, vamos continuar fazendo discos assim com conceitos. Estamos completando 40 anos de carreira. É uma vida né? Estamos preparando um disco agora muito especial para falar sobre isso. A vida. Como ela é, como ela é com o passar dos anos. Sobre os vários olhares sobre ela.
Você é de Ituiutaba, cidade do triângulo mineiro. Mesmo tendo mudado para o Rio de Janeiro ainda criança, o que há de Minas Gerais em Bruno Gouvêa e no Biquini?
Essa é uma pergunta muito interessante. Eu acho que a gente nasce em Minas Gerais, e a gente herda não só os traços da família, herdamos também os traços da “nossa Terra”. Eu vim morar no Rio de Janeiro com quatro anos de idade. Por causa do trabalho do meu pai, voltamos poucas vezes em Ituiutaba. Mesmo assim eu tenho memórias muito vivas de lá.
Isso me trouxe uma coisa provinciana, entende? Não me considero um cara nascido numa cidade grande. Com relação ao Biquini, talvez Minas seja o Estado que mais assistiu a shows nossos. Há uma carga emocional, há sempre um prazer tocar aqui.
Neste ano Diamantina promete resgatar a energia contagiante e a essência de um dos Carnavais mais amados do Brasil, e aposta no Biquini em sua programação. Como o Biquini enxerga esses encontros de espíritos festivos do rock e o Carnaval? O rock resiste ao Carnaval ou há harmonia entre guitarras, blocos e fantasias?
Já tocamos no Carnaval de Diamantina em 2015. Foi maravilhoso, tenho uma lembrança muito bonita da praça lotada. Acho que a galera gosta de boa música e o Biquini consegue trazer isso, e acrescentar, no Carnaval. Aliás, o Biquini tem feito muitos Carnavais pelo país. Nossa Expectativa é muito grande.
Quando as bandas nacionais de rock dos anos 80 pararem de tocar, quem herdará o rock brasileiro? Como você vê, e ouve, a nova geração?
Nos últimos 10 anos eu não vi uma banda que pudesse fazer esse papel de pegar o bastão que Paralamas, Legião, Titãs, Kid, Biquini, Capital, Engenheiros, Skank, Pato Fú, Charlie Brown, CPM, Pitty... carregaram. Esse bastão que um passou pro outro e, nos últimos 10 anos, a gente não conseguiu ver isso. A gente vê, naturalmente, um esforço muito grande, de várias bandas surgindo. Mas não a ponto de criar essa mudança. Hoje a gente vive um momento em que o rock ele está mais underground.
Quem pode ser esse herdeiro?
A banda que consiga se expressar, e dialogar com o público através de suas letras inspiradas. Acho que esse sempre foi uma característica do rock. Sempre buscar fazer boas letras. Alguma coisa relacionada a essa própria atitude, pode surgir uma surpresa a qualquer momento. Mas a gente, o Biquini, tem um caminho ainda pela frente. A gente continua a fazer música, continua a compor. Temos orgulho do nosso passado, mas o foco vai estar sempre a frente.
Biquini - Agenda
22/02 CarnaRock Goiânia 2025 - Goiania Arena - Goiânia (GO)
28/02 Carnaval Diamantina 2025 - Diamantina (MG)
15/03 Show Lançamento Nova Tour - A Vida Começa aos Quarenta - Circo Voador - Rio de Janeiro (RJ)