Churrasco e cerveja são celebrados com rock direto em São Paulo
Escola de música ‘te ensina’ a como fazer um bom churrasco temperado com rock
O que é isso, seu sambista? Perdeu o trem das onze e, agora, é só amanhã de manhã? Imagina você, um filho único perdido no mundo, livre em São Paulo... e preocupado com a casa? Tira a mão da minha playlist, seu pagodinho. Porque aqui não tem sambinha, sertanejo ou Carnaval. Neste churrasco, neste demônio de garoa, se tempera carne com rock.
Churras do Rock
Caixas de cerveja, barril de puro whisky e quilos de carne vermelha. O churrasco, patrimônio imaterial de todo brasileiro, seja na sua simbologia como ato de luxúria ou dia de descanso, é a cara das composições de Jimmy London (Matanza Ritual). Logo, nada mais natural que Jimmy & Rats seja a atração principal do Churras do Rock, evento que aconteceu neste final de semana (27) em São Paulo.
Mais de 600 pessoas lotaram a sede da School of Rock, que abriu as portas da sua escola de música que fica no bairro Pinheiros, zona Oeste de São Paulo. Junto com a churrascaria Fogo de Chão, eles organizaram evento onde churrasco e cerveja são celebrados com rock.
“Música e gastronomia é uma combinação poderosa. E se há algo que combina bem com rock é o churrasco. O churrasco é um ambiente agregador, uma especial reunião das pessoas entorno do fogo na construção de bons momentos. E quando você rega tudo isso com as melhores músicas do Rock não tem como dar errado", disse João Galoppi, Diretor de Marketing do Fogo do Chão.
Para Fernando Quesada, sócio-diretor da School of Rock Brasil, o conforto que um churrasco lhe proporciona, mesmo da forma mais simples, é capaz de criar momentos animados e inesquecíveis, como uma famosa banda australiana.
“Um espetinho na mão, com uma bebida na outra. Comendo e ouvindo uma música. Pensa, por exemplo, em It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll) do AC/DC. Você começa a ouvir e da vontade de viajar, comer, fazer tudo. AC/DC traz simplicidade, te faz se sentir confortável com um som cru. Combina em cheio com um bom churrasco”, afirma Quesada.
O cantor Jimmy London concorda. Para ele, há todo um jogo entre a naturalidade da confraternização em um churrasco, como também a “arte do insulto” na “odiosa natureza humana” quando, desmascarados pela bebida, nos restam a verdade. Igual uma música que ele canta com Jimmy & Rats.
“Churrasco é uma das atividades mais sagradas do ser humano. Vamos colocar aqui que é muito mais do que simplesmente abrir a boca e mastigar alguma coisa. Churrasco é um momento onde as pessoas realmente estão juntas, xingando mais as outras, falando as verdades que estão presas no seu coração. Dividir o pão é muito fácil. Mas quando se divide a carne... é que a gente ouve a verdade de cada um", pensa Jimmy.
Ele completa. “Tem uma música que a gente fez agora com o Jimmy & Rats, inclusive, chamada O Jogo. Ela fala um pouco sobre a trajetória de vida, fala um pouco sobre o que vai acontecer com todo mundo. A gente sabe... mas ainda assim parece que é uma surpresa. Ao mesmo tempo, é uma música muito solar, de acordes maiores, divertida e bate-bundinha, como eu gosto de chamar. E eu acho que churrasco é mais ou menos isso. Acho que é uma atividade muito louca onde as pessoas se juntam, ficam amarradonas e se divertindo, mas, ao mesmo tempo, enfiam o dedo na cara um do outro. É meio que uma festa de natal em família”, concluí Jimmy London.
Uma Escola, um Festival
No dia também tocaram Polaco & os Indieabrados, X Maiden Evolution e bandas formadas por alunos da School of Rock. Para o sócio-diretor da escola de música, Fernando Quesada, mesmo na organização de um festival, uma escola de música é ainda uma instituição de ensino, e jamais deve esquecer da missão de lecionar.
“Em um festival organizado por uma Escola de Música, tudo é uma questão de aprendizagem. Ensinamos para nossos alunos que, tão importante quanto a performance no palco, é a presença como público. Enquanto uma banda toca, a outra fica ali. Curtindo, agitando. No nosso festival quem toca também é público, e quem é público também toca", ensina Quesada.
Há mais de dez anos na direção da School of Rock, foram os anos de estrada de Fernando Quesada, com bandas como Noturnall, Shaman e Anie, que ensinaram a importante lição, que hoje ele ensina aos alunos.
“A gente vive em um mundo de opiniões. Quando a gente chega em um show, e está vazio, a chance de você olhar e querer ir embora é maior. Em um festival nosso, que tem dez bandas da escola, nove tem que estar ali assistindo. Isso é algo que carrego dos tempos do Shaman. A gente sempre assistia aos shows das bandas de abertura. O que, às vezes, acontece no underground... de uma pessoa ir lá, tocar e ir embora... é muito ruim. Ela vai reclamar exatamente do que está fazendo”, ensina Quesada.
Ainda de acordo com o sócio-diretor, a missão do festival cruza com as diretrizes educacionais da instituição musical, a inclusão.
“A missão social do festival é proporcionar qualidade de vida através da música. Neste caso a música é só o ponto central para a família, que estava mais distante, se juntar. Queremos ver os pais assistindo o filho. E queremos que esses filhos, em vez de estar em um quadro de depressão, tire isso da cabeça e tenha um novo objetivo para se realizar. Uma questão de experiência, autoestima e socialização. É para todo mundo que é tímido, poder perder um pouco de timidez e ser reconhecido com o aplauso em cima do palco, que faz com que a vida dele mude completamente“, explica o diretor.
É tudo sobre isso. Música, família e a nova geração. A verdade é que, mesmo entre os botões play e pause, a música não para. Ela flui. E trabalhar com a juventude é um desafio para todos. Porque se mudam os caminhos, mas a água continua correndo, como afirma Jimmy London.
“Música é como água. É impossível de ser cercada, contida. Ela escorre loucamente das pessoas. E pra onde ela vai fluir agora? Vejo hoje uma garotada tocando, com 10, 15, 20 anos. E fazendo rock, tocando pra cacete. Coisas musicalmente diferentes, ora rock, ora trap. Eles estão decidindo para onde eles vão, para onde vão fluir. Olha essa iniciativa cara, crianças com 8, 10 anos, tocando. Perguntei para eles que música ouviam, e eles responderam ‘Tik Tok’.”
“Na minha época era diferente, não tinha nada disso. Eu achava um vinil na casa dos meus pais, para ouvir uma música com blues que eu gostava. Hoje um garoto pega o celular e não sabe qual das zilhões de possibilidades ele vai dar play. A diferença está em como esse caminho flui. Porque, no fim como eu falei, música é imparável”, explica o cantor.
“São Paulo é um lugar que tem espaço para novos festivais, mesmo os que não são de porte gigantesco. O mundo é feito de nichos. A gente pega essa lacuna do festival familiar, onde os pais saem de casa para ver o filho tocar. Muitos pais e mães ouviram rock na adolescência, é nostálgico. Então oferecemos um line up diversificado. Tem banda de adolescentes, banda de adultos. Muita mulher tocando... hoje temos uma banda de (tributo ao) Iron Maiden só de mulheres tocando (X-Maiden Evolution). A galera compareceu hoje, mas esse é só o começo dessa jornada. Com certeza, o primeiro festival de muitos”, conclui Quesada.
* O blog Essa Eh do Rock foi convidado pela organização para a cobertura do evento
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