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Essa eh do Rock

Febre irremediável da inteligência artificial contamina a indústria da música

Conheça a história da banda artificial sucesso na cidade de São Paulo; e o Lemmy que canta versões de hits BRs

Essa eh do Rock|Antonio De PauloOpens in new window

LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • A inteligência artificial está transformando a indústria da música, com exemplos notáveis como a banda fictícia The Velvet Sundown e o uso de IA para simular performances.
  • Augusto Junior, criador do canal FakeNews, explora como a IA pode reinventar versões de clássicos brasileiros na voz de artistas virtuais.
  • Artistas como Sebastian Bach e Billy Corgan expressam preocupações sobre a IA, considerando-a uma ameaça à autenticidade e ao processo criativo musical.
  • A regulação do uso de IA na música é debatida no Brasil, com foco em questões de direitos autorais e o impacto na criação artística.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Motörrossi canta a versão em inglês de 'Garçom' Divulgação/Youtube/@FakemusicBr

Blue Nigthclub. Road of Life. Strand of Hair. Quem “manja” de inglês já sabe que a tradução destas “canções” são grandes clássicos da música brasileira. Boate Azul, Estrada da Vida e Fio de Cabelo.

Canções que, surpreendentemente, ganham nova vida na voz do lendário baixista Lemmy Kilmister, do Motorhead.

Uma mistura esquisita... e que fica incrivelmente boa. E perigosa, quando não falamos de uma performance ou interpretação, mas sim uma simulação feita por inteligência artificial.

Desde maio deste ano, quase 50 mil usuários já visualizaram Bartender, a canção Garçom simulada por uma inteligência artificial, de como seria a versão de Lemmy para a música de Reginaldo Rossi, publicado no canal do youtube FakeNews.


“Passei a mexer com essa fermenta de IA na música quando começou. Gosto de punk rock e hardcore, e fiquei curioso de como iam ficar as versões de bandas como Ratos de Porão, Garotos Podres e Os Replicantes em outros estilos musicais, como samba, bossa nova e forró. No começo não ficavam boas. Mas hoje as IAs estão melhores”, contou, para o blog Essa Eh do Rock, o criador da página, Augusto Junior.

Na “discografia” do canal, há diversos sucessos. Além dos já citados, Black Beetle (Fuscão Preto), Outlaw Cowboy (Caubói Fora da Lei) e I’m Not Dog No (Eu não Sou Cachorro Não).


A invasão da IAs na música

Algumas plataformas de streaming, como o Deezer, já passaram a usar em algumas músicas selos as identificando como feitas por IA.

O exemplo mais integrante acontece com a banda fictícia The Velvet Sundown, que surgiu nas plataformas em junho deste ano, já com dois álbuns prontos e um terceiro em produção, com um som folk rock psicodélico com uma pegada dos anos 70, com mais de 1.446.560 ouvintes mensais, segundo a Spotify.


Segundo dados da plataforma, São Paulo está entre os cidades que mais ouvem a banda digital, com 19.707 ouvintes mensais.

A própria banda, ou quem está por trás do projeto, atualizou sua biografia no Spotify: “Não totalmente humano. Não totalmente máquina. The Velvet Sundown existe em algum lugar entre os dois.”

O texto complementa que é um “projeto musical sintético guiado por direção criativa humana”, com composições e interpretações “com apoio da inteligência artificial”.

Vários são os softwares de IA populares, utilizados em diversas atividades da produção e criação musical, como na composição (Suno AI, AIVA, Soundraw, Boomy), na assistência criativa (Moises, LANDR Composer, Amadeus Code, SongStarter e Magenta do Google), Produção e Masterização (LANDR Studio, Kits AI, Ditto Music Mastering e Orb Producer Suite), restauração de áudio (iZotope RX, Adobe Audition, Acon Digital Restoration Suite e Moises.

“Vejo com entusiasmo o potencial da IA na criação musical. Novas tecnologias sempre geraram resistência inicial, como ocorreu com o surgimento dos DJs, rap e funk. No entanto, a inteligência artificial pode servir como uma ferramenta valiosa para impulsionar a criatividade, permitindo que pessoas sem conhecimento musical criem suas próprias composições. As vezes a pessoa não tem o instrumento, não toca o instrumento... e usa a IA para criar algo”, analisa Augusto Junior.

O criador de conteúdo também vê outras funcionalidades. “Você também pode criar algo com a IA, e depois executar com a banda. A IA evoluiu muito nos últimos meses. Hoje as músicas de IA estão bem melhores. Acho que não tem como segurar isso. O futuro da música vai ser, pelo menos, com a IA ajudando direta ou indiretamente no processo da criação musical”, enxerga o dono da página do YouTube.

Pra onde (v)AI?

No mundo do rock, ninguém foi mais direto contra as IAs do que Sebastian Bach, ex-vocalista da banda de hard rock Skid Row.

Em uma entrevista para o podcast Surviving Rocklahoma (projeto multimídia focado no festival de rock Rocklahoma, que acontece anualmente em Pryor, Oklahoma, nos Estados Unidos) em agosto, ao ser perguntado sobre o futuro do rock, Bach deixou claro que vê a inteligência artificial como uma ameaça à essência do ritmo.

Segundo o músico, o rock vive de autenticidade, paixão e até das falhas humanas, enquanto a IA é capaz de cuspir algo pronto, sem alma, sendo preguiçoso e tirando o valor do processo criativo.

Preciso abordar isso. Principalmente nos últimos três meses, mais ou menos, estamos entrando neste mundo da IA, onde os músicos estão ficando muito assustados, porque agora parece que qualquer um pode simplesmente dizer a um prompt de IA: ‘Me dá uma música de rock dos anos 70 sobre festa e garotas”, e pronto, você ganha uma’. Mas tudo o que posso dizer é o seguinte. Estou apenas lhe dando minha garantia e minha palavra de que nunca farei isso. Nunca lhe darei nenhuma IA. Nem mesmo lhe darei ‘I’ e certamente não lhe darei ‘A’. Prefiro um erro humano de verdade a uma inteligência artificial perfeita É isso que você receberá de mim até o dia em que eu parar de fazer isso

(Sebastian Bach)

O crescimento da IAs na música assusta... mas não é um novidade. Vários roqueiros no passado já refletiram sobre essa possibilidade

Em março deste ano, para o podcast muscial Broken Record, Billy Corgan, vocalista do Smashing Pumpkins, demonstrou preocupação com a facilidade de replicar estilos musicais sem o esforço criativo genuíno, o que ele descreveu como uma espécie de “copiar e colar” cultural.

As pessoas hoje podem usar tecnologia para fazer algo soar como qualquer coisa, como se fosse de uma era passada, mas isso é só copiar e colar. Não tem o peso do processo criativo, da luta pra encontrar sua voz.

(Billy Corgan)

Essa não foi a primeira vez que tecnologia é tema nas entrevistas de Corgan. Em agosto do ano passado, para a revista musical americana Goldmine Magazine, Billy Corgan disse que “haverá um novo nível de artistas de IA”.

Você pode fazer com que a IA escreva suas memórias e pode chamar a atenção online, mas tudo o que podemos tentar fazer é dizer: ‘Existe uma outra maneira que tem mais a ver com o coração humano’. Há coisas que não se ensinam à IA. Há uma dança que, quando bem feita, parece mais pesada do que o riff

(Billy Corgan)

(Billy Corgan)

“Você pode fazer com que a IA escreva suas memórias e pode chamar a atenção online, mas tudo o que podemos tentar fazer é dizer: ‘Existe uma outra maneira que tem mais a ver com o coração humano.’”

“Há coisas que não se ensinam à IA”, diz ele, antes de mergulhar na vibe dos Pumpkins ao criar Aghori Mhori Mei, do único jeito que sabiam. “Há uma dança que, quando bem feita, parece mais pesada do que o riff.”

E no Brasil?

Em plena era da cultura da convergência, a discussão das IAs na música brasileira navega “a remo no Atlântico”, principalmente no universo do rock.

A não ser que estejamos falando sobre monetização.

Em junho deste ano, a Câmara dos Deputados requiriu o convite de vários artistas, entre eles o Frejat (ex-Barão Vermelho) para audiência sobre o projeto de regulamentação da inteligência artificial no Brasil.

Esse é um tema defendido pela Associação Brasileira de Música e Artes, a Abramus. A preocupação da associação é com os direitos autorais, protegendo o patrimônio intelectual e cultural do Brasil, já que, segundo define, a “IA generativa permite a criação de textos, imagens e sons a partir do processamento de referências já existentes”.

Sobre o uso das IAs no processo de produção e criação musical, as únicas manifestações vieram fora do universo do Rock.

Para a revista Veja, em agosto deste ano, DJ Alok disse:

Acredito na força criativa do ser humano. Nisso somos insubstituíveis. Para fazer arte, é preciso alma humana. Não é tratar a tecnologia como inimiga, mas como aliada; Acredito ter propriedade para falar do assunto. Enxergo em meu trabalho uma resposta a essa pergunta: a tecnologia está aí para ampliar as experiências de vida, e não para substituí-las. A gente pode entrar numa era de excesso de conteúdo gerado automaticamente, onde tudo soa muito bem produzido, mas sem alma, sem identidade. E tem as questões éticas: uso de vozes sem autorização, direitos autorais, manipulação de imagem. Precisamos construir uma base ética sólida. E, principalmente, não deixar que a facilidade da IA substitua o processo de desenvolvimento artístico individual. O que eu diria a um jovem: use a tecnologia, mas não se esconda atrás dela. O que você quer dizer com a sua música? Qual a sua história? Quais sentimentos você quer transmitir? A IA pode ajudar a traduzir isso em som, mas ela não vai criar isso por você. A autenticidade vem da experiência, da vulnerabilidade, da coragem de ser único."

(DJ Alok )

Vários outros produtores musicais, ainda da indústria pop nacional, já se manifestaram sobre as IAs.

Para a Gama Revista, em uma matéria sobre a IAs na música pop em 2023, o produtor musical Mulú (que já trabalhou com artistas como Pabllo Vittar), afirmou que usa algoritmos de IA para criar demos, testando vozes de cantores antes de gravações em estúdio, como também na mixagem, masterização e separação de áudio.

Para o Estadão, o produtor e músico Diogo Tupinambá afirmou ter usado uma IA para criar uma dupla sertaneja fictícia, João Miguel e Pedro Henrique, com a música “ChatGPT”.

IA Sports, it’s a game?

Quando uma pessoa aprende a tocar violão, imediatamente, ela se torna um violonista?

O que é um músico?

Em que parte da aprendizagem posso definir o iniciante do violão, em músico?

No primeiro acorde? Na primeira música? Na execução da primeira música completa sem erros?

Seria necessário conhecimento musical? Saber as escalas mais complexas, dominar os campos harmônicos... ou depois do primeiro show, conserto, apresentação...

São perguntas subjetivas. Cada um... uma nova resposta.

Vou de novo: um músico poderia, ainda sim, ser um violonista sem saber afinar seu próprio violão?

Considere que ele tenha a habilidade total, instintiva, sobre-humana, ao tocar violão (de forma maestral), menos ao afinar o instrumento. Para isso necessita de um afinador (para suprir a incapacidade).

Ainda assim, é um violonista?

Compreendemos aqui a importância para o músico afinar o próprio instrumento, por mais cômodo e rápido que seja o aparelho eletrônico. Mais do que um processo, “seu o do som”, de harmonização e conhecimento, mas também de estar em sintonia. Se for um violão, também tê-lo como uma extensão de seu corpo.

O que estamos terceirizando com a inteligência artificial?

As IAs trilham em campo aberto. Não é um caminho fechado.

E, “desde os primórdios, até hoje em dia”, utilizamos a técnica como ferramenta para facilitar (otimizar) as habilidades humanas. Desde a roda.

Para esse texto, usei uma IA como ferramenta de pesquisa.

Não quero aqui demonizar nenhuma inteligência. Nem a artificial, nem a sua. Mas refletir. Com a precarização dos serviços (na era pós Cultura da Convergência) o que estamos terceirizando?

No jornalismo, é a checagem? É a afirmação na construção textual? Estamos terceirizando a curiosidade, habilidade primária, de um jornalista? Se sim, pode substituir o jornalista por uma IA.

E na arte? O que estamos terceirizando para uma IA? A essência da arte, em si?

Curto e grosso: desde os anos 90, o rock não cria um novo (sub)gênero musical. Vivemos de nostalgia. Muito por causa dos meios, da forma como a sociedade interage e se conecta, e como a arte emula a sociedade (em busca de engajamento), em vez da arte moldar e inspirar a sociedade (como aconteceu no século passado, como no nascimento do rock, a era de ouro, a era clássica, a era do heavy metal e do rock alternativo).

Talvez o último álbum de rock popular no mundo foi o American Idiot, do Green Day, lançado em 2004. O rock tornou-se vintage*, vivo graças ao heavy metal, presente na cultura pop como um easter egg em um novo filme de James Gunn.

O cover (a música de tributo) já é uma certa castração, celibato, do rock. Em vez de criar, lapidar, essa “pedra lascada”, emulam um som (em busca de sobrevivência e monetização) para um público carente de nostalgia.

O que vai acontecer quando uma IA fazer letras, melodias e músicas sozinhas? O que vai acontecer quando a inteligência artificial passar a, em vez de auxiliar como ferramenta, exercer a função primária e protagonista em uma obra musical?

O que vai acontecer quando as rádios (as poucas), as streamings e os festivais tocarem músicas totalmente criadas por IAs?

Nada.

O que aconteceu com o rock desde aos anos 2000?

Nada.

Não me leve a mal. “Nada” de pessimismo. Peguem suas guitarras (e baixos), e toquem bem alto “iê iê iê” para as IAs. Mesmo errado. Aposto que será bem rock. E as obras de James Guun são ótimas (apesar do formato). A trilha é “educa”.

Mas filmes da Disney e Warner são poucos para o rock. Pro meu rock pelo menos..

E demonizar a inteligência artificial? Meu amigo... há 100 anos fizemos isso com Robert Johnson no Mississippi pelo seu jeito de tocar violão.

Acho que evoluímos um pouco desde lá, você não acha?

IA pode ser divertida. Como Gabriel Dualiby Lourenço, usuário do Youtube em comentário na página da Fakemusic, Lemmy Kilmister fazendo uma versão livre, traduzida, da canção Garçom de Reginaldo Rossi, é “um clássico que nunca existiu e precisava ser criado”. E só uma IA permitiria existir.

Que tal ser diferente?

IA Sport. Faz parte do jogo

* Vintage é um termo inglês que se refere a algo antigo, de excelente qualidade e com um design que remete a uma época passada

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