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Estante da Vivi

Mordaz e violento, ‘Brás Cubas’ estoura nas redes e lidera lista de mais vendidos nos EUA

Livro de Machado de Assis, maior escritor brasileiro de todos os tempos, detalha os abusos da alta sociedade e o horror da escravidão

Estante da Vivi|Vivian MasuttiOpens in new window

Capa do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas

O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra-prima de Machado de Assis publicada em 1881, estourou em vendas nos Estados Unidos após uma resenha da influenciadora americana Courtney Henning Novak viralizar no Tik Tok, na última semana.

O vídeo, no qual ela se diz totalmente obcecada pelo livro, já soma mais de 879.900 visualizações e 172.200 curtidas na plataforma.

“Eu absolutamente amei Memórias Póstumas. Este é meu novo livro favorito. Com certeza lerei mais desse autor e mais da literatura brasileira”, diz a booktoker, de 45 anos.



@courtneyhenningnovak

I have a hundred pages left of The Posthumous Memoirs of Bras Cubas by Machado de Assis and this is already my favorite book. End of discussion. I do not care if the last hundred pages is just the word “banana” printed 10,000 times. Best. Book. EVER. #readaroundtheworld #booktok

♬ original sound - Courtney Henning Novak


“Tenho três grandes problemas com esse livro. Primeiro, a minha edição apenas tem 300 páginas. Só faltam 100 páginas para mim. E, se eu for muito cuidadosa, elas vão durar até o fim de semana. E aí o quê? O que eu deveria fazer com o resto da minha vida? […] Eu acho que é meu novo livro preferido”, completa.


A edição mostrada nas redes é da editora Penguin Classics e tem uma tradução impecável de Flora Thomson-DeVaux, americana especializada em Machado que mora no Rio — o trabalho é fruto de seu doutorado, realizado na Universidade de Brown.

Machado de Assis

O romance foi publicado pela primeira vez em 1880, no formato de folhetim, na Revista Brasileira, e só tomou o formato de livro no ano seguinte.


Símbolo da literatura realista, a obra, revolucionária para a época, é marcada pelo humor cáustico do escritor, que critica duramente a escravidão e a hipocrisia da estrutura de classes, assim como o próprio ser humano.

Para isso, Machado lança mão de um “defunto-autor”, que não mede as palavras ao escrever sua própria biografia. Filho da elite carioca do século 19, Brás Cubas acostumou-se a fazer “romantismo prático e liberalismo teórico” de sua vida, desfrutando do privilégio de não ter que trabalhar para viver.

Uma das passagens mais lembradas, que representa a falta de crença do autor no ser humano e a violência de seu caráter, descreve o personagem Prudêncio — filho de escravos, ele é visto pelo narrador montado em cima de um negro que ele mesmo comprou, divertindo-se ao lhe dar as mesmas chibatadas que recebeu do menino Brás, quando era criança.

A última frase do livro também é memorável e vai ao encontro do ceticismo com o qual o autor via a sociedade de seu tempo: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Na lista de mais vendidos da categoria latino-americana da Amazon, Memórias Póstumas aparece à frente de clássicos como O Amor nos Tempos do Cólera, do colombiano Gabriel Garcia Márquez.

O vídeo de Courtney faz parte de um projeto pessoal no qual ela se propõe a ler e resenhar um livro de cada lugar do mundo, seguindo uma lista de países em ordem alfabética.


Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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