‘Capitu não traiu!’: americana que viralizou ‘Memórias Póstumas’ acaba ‘Dom Casmurro’ pondo Bentinho no banco dos réus
Influenciadora Courtney Henning Novak terminou o livro em menos de uma semana, após se apaixonar por Machado de Assis
A influenciadora americana Courtney Henning Novak, 42 anos, que fez Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) estourar nos Estados Unidos após elogiar o livro no Tik Tok, terminou nesta quarta-feira Dom Casmurro (1899), também de Machado de Assis.
Para ela, não há dúvidas: Capitu não traiu Bentinho — narrador ciumento criado pelo autor que, ao longo da obra, apresenta “indícios” do adultério da própria mulher com o melhor amigo dele.
“Eu acho que o narrador não é confiável. Ele está destruído pelo seu próprio ciúme”, afirma Novak, na publicação.
No enredo, Dom Casmurro, nome escolhido por Bentinho para escrever sua autobiografia, é um homem solitário e amargurado que acredita ter sido traído pela mulher.
Ele chega a duvidar, inclusive, da paternidade do filho. Daí o trecho famoso que diz que Capitu “tem olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.
Cada vez mais interessada pelo Brasil, Courtney acabou entrando em uma das maiores polêmicas da literatura nacional.
A infidelidade de Capitu só foi questionada meio século depois da publicação do romance, quando a brasilianista americana Helen Caldwell (1904-1987) foi traduzi-lo para o inglês, em 1954.
Ela, então, inverteu a leitura do história, “absolvendo” a personagem ao se dar conta de que a narração de Bentinho não era confiável.
Depois disso, Capitu chegou a ser “formalmente julgada” por um tribunal que teve os escritores Carlos Heitor Cony e Marcelo Rubens Paiva como testemunhas, em 1999. Ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos encarregou-se da acusação, enquanto a defesa ficou por conta da advogada criminal Luiza Nagib Eluf.
O adultério só deixou de ser crime no Brasil em 2005. Até então, o artigo 279 da Constituição previa que “a mulher casada” que o cometesse seria punida com a pena de prisão que iria de um a três anos.
O curioso é que, ao ler Dom Casmurro, Courtney acabou “traindo” o próprio desafio. Ela se propôs a ler apenas uma obra de cada país do mundo, em ordem alfabética. Mas tinha um Machado de Assis no meio do caminho.
“Ele deveria estar no topo com William Shakespeare”, diz ela.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.