Débora Falabella afunda o público na violência do estupro e no abismo da Justiça em peça brutal com temporada renovada
É impossível sair do teatro a mesma pessoa após ver o monólogo contemporâneo ‘Prima Facie’
Conhecida pelos papéis na TV, que nem sempre dão a real dimensão de sua grandeza, Débora Falabella faz seu 1,59 metro virar dois ou até três em cima do palco.
Aos 45 anos, ela é ovacionada por crítica e público pela atuação no monólogo Prima Facie, indicado a três categorias do Prêmio Shell — e com temporada prorrogada até o fim de março no Teatro Vivo, zona sul da capital paulista.
A peça, escrita pela dramaturga australiana Suzie Miller, estreou em 2019 em Sydney, e seu título remete a uma expressão jurídica latina que significa “à primeira vista”. O termo é usado para se referir a uma evidência ou a um conjunto de fatos que, se não forem refutados, são suficientes para provar uma determinada acusação.
Já no teatro, “prima facie” pode ser sinônimo de “parada obrigatória”. E é mesmo. O monólogo é violento e se torna necessário ao questionar a capacidade do sistema Judiciário de conduzir e julgar um crime de estupro.
Na trama, Débora é Tessa, uma advogada criminalista em ascensão que costuma defender, de forma metódica e bem-sucedida, homens acusados de abuso sexual contra mulheres.
Sua vida muda completamente quando é estuprada por um colega de escritório e nota em sua própria história os elementos que usaria para desqualificar friamente uma mulher que leva adiante a denúncia desse tipo de crime.
Estava bêbada, na própria casa, com um homem que conhecia e havia convidado para estar ali. Percebe?
São 90 minutos desconfortáveis para o público, que, tenso, aflito, ri em breves momentos, antes de despencar numa queda livre moral, social e jurídica sem fim. Débora termina a peça gigante como começou, mas quem a viu não sai dali a mesma pessoa.
Prima Facie | Teatro Vivo (SP)
Nova temporada a partir de 7 de fevereiro
De sexta e sábado, às 20h | Domingo, às 18h
Duração: 90 minutos
Classificação: 12 anos
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