Heróis dos Andes: livro traz o que filme sobre jovens que viraram canibais para sobreviver não conta
Desastre de avião dos anos 1970 volta a ficar em destaque com estreia de produção que deve concorrer ao Oscar
Estante da Vivi|Vivian Masutti, do R7 e Vivian Masutti

Apontada por muitos como a maior história de sobrevivência de todos os tempos, a inacreditável saga dos jogadores de rúgbi que saíram vivos de um acidente de avião nos Andes e esperaram 72 dias para serem resgatados volta a ficar em evidência agora, com a estreia do filme A Sociedade da Neve na Netflix.
Essa é a versão contada pelo jornalista Pablo Vierci, famosa por ser a mais completa e que deu origem a essa nova adaptação para os cinemas — forte concorrente ao Oscar deste ano, após ser ovacionada no Festival de Veneza.
Vierci é da mesma geração dos 16 jovens sobreviventes e tem uma amizade de décadas com Nando Parrado, o responsável pela salvação do grupo, ao caminhar por 60 quilômetros nas montanhas, ao longo de dez dias, em uma missão perigosa e sem volta, em busca de ajuda.
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Passados anos conversando, gravando e escrevendo reportagens sobre o tema, o autor começou a rascunhar o livro, de 2008, que alterna os capítulos narrados pelos sobreviventes em primeira pessoa com um relato geral dos fatos em tempo passado.
Obviamente está presente ali, em detalhes, a maneira como eles conseguiram se manter vivos: comendo a carne dos amigos mortos. Primeiro com extremo pudor, mas depois naturalizando a prática até os ossos, não sem muito sofrer.

O que salta aos olhos, porém, e muito mais profundo do que o sensacionalismo sanguinolento, é o pacto de solidariedade firmado entre os sobreviventes, o que fez com que os que iam morrendo após o acidente fossem dando, um a um, a permissão para que os outros comessem seus órgãos e continuassem lutando pela vida.
As quase duas horas e meia de filme não dão conta de abordar algumas tramas interessantes que ficam em segundo plano no livro, como a incrível sorte daqueles que escaparam de embarcar por um triz.
Uma delas é a de Tito Regules, integrante do time de rúgbi que não acordou, após uma noitada em um cassino, e perdeu o voo. Ele só morreu 20 anos depois, ironicamente ao dormir no volante e bater o carro.
Ao não chegar a tempo de decolar, Tito automaticamente cedeu seu assento a Graziela Mariani, que preferiu adiantar seu voo, rumo ao casamento da filha, para economizar tempo e dinheiro. Ela morreu na primeira noite após a queda.
Nessa série de ironias macrabras do destino, dois dos 16 sobreviventes embarcaram por pouco: Eduardo Strauch, que esqueceu o passaporte e chegou minutos antes da decolagem, e Daniel Fernández, que quase não conseguiu comprar a passagem por falta de dinheiro e acabou pegando um empréstimo com a irmã.
Ficaram de fora do filme também informações sobre o que aconteceu após o resgate, quando os jovens que sobreviveram visitaram familiares dos mortos para levar cartas de despedida e objetos pessoais de valor sentimental.
No Brasil, a Companhia das Letras lançou, em 2023, uma edição comemorativa dos 50 anos do acidente. Os R$ 114,50 são salgados, mas o ebook, por R$ 29,90, é bem mais acessível. Impresso ou virtual, o livro vale cada página.
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