Sou millennial, li Sally Rooney, detestei e achei uma afronta à minha geração
Vou dar uma chance a ‘Intermezzo’, que acaba de ser lançado no Brasil e diz falar de luto e relações familiares
Como boa millennial (sou de 1985), fico curiosa sempre que ouço falar de alguém que resolve pôr em palavras essa nossa geração, que nasceu analógica, mas atingiu a maioridade no mundo digital — meu primeiro email foi criado aos 16 anos, quando uma amiga foi fazer intercâmbio; eu checava uma vez por mês.
Daí meu encanto quando ouvi falar da Sally Rooney, que era a autora “expoente da geração millennial”, traduzindo suas angústias, sua melancolia e tal.
Confesso que com um “pouco” de atraso, já que a escritora irlandesa lançou Pessoas Normais (R$ 69,90, 264 págs. Cia. das Letras), o livro que eu decidi ler, em 2017.
Nessa época, ela já tinha publicado Conversas entre Amigos (R$ 69,90, 264 págs. Alfaguara).
As duas obras meio que giram em torno da mesma temática, com relações de poder, amizade e amor via Snapchat.
Bom, a leitura é fácil, flui, parabéns. Mas, quando já estava lá pela página 50, começou a me incomodar. Não acontecia nada.
O livro era aquilo mesmo, aquela descrição superficial dos personagens, aquela relação estranha — sim, ponto para ela, percebeu que somos perdidos. Na prática, estava na página 100. Mas me sentia na dois, num constante in medias res.
O que mais me afrontou é Rooney ter feito uma literatura infantojuvenil para seu público e, de certa maneira, ter acertado. Foi ovacionada, ganhou prêmio, série na tevê.
Vai me desculpar, mas não me representa: sou mais complexa do que minha envergonhada percepção de “anormalidade”.
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