Tensão e sadismo: filme 'Uma Família Feliz', que estreia hoje, expõe degradação dos super-ricos
Produção com roteiro de Raphael Montes inspirou livro de mesmo nome do autor; romance recém-lançado já é sucesso de vendas
Estante da Vivi|Vivian Masutti, do R7 e Vivian Masutti
Esqueça as sequências de horror explícito e os detalhes de revirar o estômago que marcam os livros de Raphael Montes — principal nome do gênero policial do país. São o suspense e a tensão que conduzem a trama de Uma Família Feliz, filme com roteiro do autor de 33 anos que estreia hoje nos cinemas.
Esta é a primeira vez que Montes escreve um romance a partir de uma produção audiovisual, caminho inverso, por exemplo, da série Bom Dia, Verônica, sucesso no streaming após bom desempenho nas livrarias.
A personagem principal, Eva, inclusive, foi criada sob medida para Grazi Massafera, que vive boa fase na dramaturgia nacional e convence muito mais em cena do que Reynaldo Gianecchini, seu marido na ficção.
O enredo do thriller, gravado em apenas 20 dias, não é lá muito engenhoso e aposta na tática do “quem matou?” para fisgar o público. E até consegue. A primeira cena já mostra a atriz cavando uma cova e enfiando uma criança morta lá dentro.
Depois, pega outra menina, entra do carro, berra, acelera fundo e se joga com ela, sem cinto de segurança, contra um caminhão. Barulho de vidro quebrando, estilhaços na tela. Escuro. Silêncio.
É aí que, de fato, começa o filme. Assim como o livro, ele volta no tempo para mostrar a tal família feliz do título: casal lindo, branco e rico, filhas gêmeas, descoberta de nova gravidez, condomínio de luxo, colégio de elite, festinha de aniversário — a única criança negra que se vê é uma menina adotada por uma madame, quase uma "boa ação".
O conto de fadas começa a ruir quando Vicente, papel de Giane, percebe um hematoma na barriga do filho. Com depressão pós-parto, Eva passa a ter apagões. Logo o casal descobre que as meninas também foram espancadas. Um começa a desconfiar do outro. A escola é acionada, a polícia entra no jogo. Os vizinhos promovem o linchamento histérico da mãe na internet. Nada muito além disso.
Bruscamente, o público vai do tédio à irritação, já que o enredo carece urgentemente de movimento.
No livro, tudo fica ainda mais confuso, já que a narrativa é construída a partir do ponto de vista da protagonista, traumatizada e um tanto perturbada. Pouco a pouco, a história vai ganhando fôlego até que sofre uma reviravolta e chega ao capítulo final, idêntico ao que abre o romance, assim como ocorre no longa.
O leitor ou o espectador atento consegue matar a charada e montar ali o quebra-cabeça proposto por Montes. Mas a maior parte do público vai precisar voltar alguns capítulos ou rever o filme para sacar as dicas, meio soltas, fornecidas ao longo da história. É, de longe, o mistério menos interessante desse talentoso autor.
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