A teledramaturgia brasileira em si, em 90% dos produtos, ainda é uma obra aberta. Ainda que o formato de série - mesmo nos streamings - seja fechada, com início, meio e fim, se a obra está em processo de gravação e não foi ao ar, o roteiro pode sofrer modificações até o último instante da exibição. É natural do processo. Logo, soa um certo amadorismo da Camila Queiroz em questionar o seu final em "Verdades Secretas 2" e gerar todo o desconforto exposto em comunicados de ambos os lados, tanto dela quanto da Globo.
A atriz e protagonista da segunda temporada da novela Walcyr Carrasco para o Globoplay alegou ter sido "punida" pelo Grupo Globo com a morte de sua personagem Angel e que, segundo ela, teve seu final "modificado", diferente do que "havia sido prometido a ela", que vislumbrava estar no elenco de uma terceira temporada.
Nos bastidores, a ação da emissora seria uma forma de dispensá-la em definitivo da produção após ela - antes considerada uma das grandes estrelas de seu casting - pedir para modificar o seu contrato de exclusividade para uma atriz por obra e, ao mesmo tempo, assinar com a principal concorrente da Globo no streaming: a Netflix.
O fato é que, dramaturgicamente falando, quem está acompanhando "Verdades Secretas 2" já percebe que Angel não tinha fôlego para render uma grande continuação. A novela de 2021 tem girado em torno de desmascarar a modelo por ter assassinado Alex (Rodrigo Lombardi) no final da novela de 2015. E spoiler: esse ciclo foi encerrado nos primeiros 20 capítulos dos 50 previstos da nova temporada, com direito à prisão da modelo.
A trama agora tem encaminhado para a revelação de uma "new face" das passarelas: a Lara (Julia Byrro), que sim, tem um desejo de vingança por Angel e que, devido ao imbróglio desta última quarta (17), foi revelado que ela conseguirá matar a "veterana" no final.
É óbvio que se Walcyr Carrasco quisesse, poderia criar uma nova trama para Angel numa possível terceira continuação de "Verdades Secretas". Mas por motivos dramatúrgicos, ou não, optou por encerrar o ciclo desta protagonista. Como atriz, cabia a Camila Queiroz gravar o desfecho determinado - ainda que modificado em longo prazo, ou até mesmo aos 45 do segundo tempo, porque faz parte do processo.
É comum atores não gostarem de certas cenas que gravam, mas ainda sim o fazem por serem profissionais. Querer bater de frente para garantir um novo trabalho por obra, ainda tendo outro contrato com uma empresa concorrente, soa egoísmo por parte de uma artista que não entende que contratos por obra são sim: volúveis e temporários. Essa é uma verdade nada secreta que é preciso aceitar. Assim é o showbiz.