Veronica Debom: ‘é preciso proteger o cinema brasileiro’
Atriz integra o elenco de O Clube das Mulheres de Negócios

Filmado em São Paulo, na represa do Guarapiranga, o longa “O Clube das Mulheres de Negócios” será lançado durante o Festival de Gramado, entre 9 e 12 de agosto. Veronica Debom, atriz, dramaturga e roteirista, integra o elenco no papel de Zulmira, uma defensora do uso de armas com visões conservadoras. Ela que também esteve presente em um grande (e recente) sucesso do nosso cinema - escreveu e participou de “Minha Irmã e Eu”, estrelado por Tatá Werneck e Ingrid Guimarães.
Na conversa a seguir, Veronica fala sobre esse novo trabalho e faz um alerta: “é preciso proteger o cinema nacional”.
O Clube das Mulheres de Negócios, seu novo filme, aborda quais temas?
O filme retrata a crise do patriarcado, ambientado em um mundo imaginário onde os estereótipos de gênero estão invertidos, ou seja, as mulheres ocupam posições de poder enquanto os homens são criados para serem socialmente submissos.
Questões emergentes também são abordadas, não apenas do machismo, mas do racismo, do classicismo e da corrupção, enraizados na cultura patriarcal do Brasil e do mundo.
Fale um pouco sobre sua personagem!
A personagem se chama Zulmira, uma defensora do uso de armas com visões conservadoras. É irmã de Zoraide (Maria Bopp), sobrinha de Zarife (Katiuscia Canoro). Estão envolvidas na política e tem uma paixão por armas. Também estão no elenco Rafa Vitti, Luiz Miranda, Irene Ravache, Ítala Nandi, Louise Cardoso, Cristina Pereira, Grace Gianoukas, Polly Marinho, Shirley Cruz e Helena Bergaria. A direção é de Anna Muylaert.
Como você está vendo o momento atual do cinema brasileiro?
Como eu vejo: é preciso proteger o cinema nacional com leis, com investimento porque o cinema é ferramenta de dominação cultural. E é isso que essa sequência infinita de blockbusters americanos está fazendo em todas as salas. O cinema faz parte da identidade de um povo e o seu enfraquecimento é o enfraquecimento das nossas próprias histórias, do nosso senso de importância no mundo enquanto povo.
Sinto que o momento é esse: precisamos de investimento, de proteção, pois as produções estão muito escassas e as salas, vazias. Estamos passando por um período de transição no audiovisual como um todo. Meio como foi o cinema mudo para o falado. Porque a presença da internet muda nossa maneira de produzir tudo. E toda transição se dá através de e intrinsecamente ligada a uma crise, de modo que é, sem dúvidas um momento difícil.
O cinema por ser uma experiência coletiva em sala fechada também sentiu bastante os efeitos da pandemia de Covid. Os números do cinema nacional caíram muito desde então. Eu tenho a felicidade de fazer como atriz e como roteirista “Minha Irmã e Eu”, que é o filme nacional de maior bilheteria desde 2020, então posso dizer que estou muito honrada de estar participando ativamente dessa retomada. Como espectadora também. Faço questão de ir assistir todos os filmes nacionais que posso. Torço pra que nosso recorde seja batido em breve e os filmes nacionais voltem a estar nos principais assuntos dos brasileiros.
Filmes nacionais também passaram a ser produzidos diretamente para o streaming. É bom para o mercado?
Eu acho ótimo que os streamings estejam produzindo filmes! Quanto mais cinema, melhor! Só é fundamental lembrar que para além de quantidade é preciso diversidade. Sob esse prisma, acho que a intervenção governamental precisa ser maior. Acho que os streamings têm que se comprometer com uma cota de produções nacionais como contrapartida da exploração do mercado consumidor brasileiro. E isso sem que o dinheiro de fundo setorial vá para as grandes plataformas. São coisas diferentes. O cinema feito por vias governamentais precisa existir à parte disso, pois é tradicionalmente um cinema mais independente. Se as marcas mandam nos recursos, mandam nas temáticas e no fim do dia eles estão escolhendo tudo o que a gente vai assistir. Isso fecha o espaço para um ponto de vista diferente.
O cinema existe para emocionar, fazer refletir, para as pessoas se verem espelhadas na tela. Se os gringos decidem tudo o que a gente produz, então eles que decidem quem somos nós pra nós mesmos nesse espelho.
Em suma, é fabuloso que os streamings produzam cinema aqui, mas isso não pode acontecer no estilo franquia de Starbucks, que sufoca à falência todos os cafés locais. As plataformas têm que coexistir e colaborar com a microbiota do cinema daqui e não construir uma nova.