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De Mamomas a Marília, ninguém respeita a dor da morte de um famoso! 

Vazamento da autópsia de Marília Mendonça é novela mórbida que se repete toda vez que uma celebridade morre tragicamente 

Keila Jimenez|Do R7 e Keila Jimenez

Marília Mendonça morreu em 2021 em um acidente aéreo
Marília Mendonça morreu em 2021 em um acidente aéreo Marília Mendonça morreu em 2021 em um acidente aéreo

Nesses mais de 20 anos cobrindo este universo de famosos, não existe pra mim nada mais difícil do que noticiar a morte de uma celebridade, especialmente quando o astro parte de maneira trágica. Perdi as contas das vezes em que fiquei chocada com a notícia e tinha poucos segundos para me recompor e escrever sobre o assunto. Mais terrível ainda é fazer "a urubuzenta" (sim, é trabalho de "urubu") repercussão da morte de uma celebridade.

O medo de desrespeitar a dor alheia, misturado ainda à necessidade de cumprir a missão de informar corretamente, já me fez questionar várias vezes qual o limite da notícia quando envolve a morte de famosos. Lembro de cair no choro ao telefonar para Fernanda Montenegro, tentando repercutir a morte do grande amigo dela, Gianfrancesco Guarnieri, em 2006. Fernanda não sabia da morte ainda, fui eu quem deu a triste notícia da partida do parceiro de longa data de teatro, cinema e TV. Dona Fernanda ficou muda no telefone. E eu também. Pedi perdão umas dez vezes seguidas ao perceber que ela ainda não sabia do ocorrido. Educada e gentil, a veterana me pediu alguns minutos para se recompor e me ligou mais tarde para falar com carinho sobre Gianfrancesco. "Esse homem foi mais que um amigo, ele acolheu minha família em vários momentos difíceis. O que posso te falar sobre essa dor que sinto agora?", me questionou Fernanda. Sim, o que falar, não é mesmo ?

O mesmo aconteceu em 2012, quando liguei para Marília Gabriela tentando repercutir a morte da amiga tão querida, Hebe Camargo. Nesse caso, perdi completamente a compostura de jornalista e chorei junto ao telefone.

Eu também estava arrasada com a morte da "Hebinha" e mal conseguia fazer perguntas. Acabei sendo consolada por Marília, que respeitosamente me disse duas ou três frases de impacto sobre a mulher mais importante da TV brasileira. Episódios assim me fizeram repensar eticamente o assunto...

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Passei a esperar um bom tempo antes de ligar para as pessoas, na ânsia de obter algo em "primeira mão"! Não queria mais ser a portadora da notícia triste. Queria dar um tempo para elas chorarem o luto delas antes de falarem o que sentem. Não precisava ser a primeira jornalista a repercutir com esse ou aquele a obviedade da dor da partida de alguém querido. Tão desnecessária essa pressa! 

Todo esse discurso funciona como uma pensata, nesse caso, agora envolvendo o vazamento de fotos da autópsia de Marília Mendonça. Choque é pouco. É inadmissível que esse tipo de imagem seja vazada e os responsáveis não sejam duramente punidos. Não existe notícia ou curiosidade que sejam prioridade, que passem por cima como trator do respeito à dor imensa de amigos, familiares e fãs.

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E vejo isso se repetindo desde os primórdios da cobertura jornalística do mundo dos famosos.

Em jornais populares, onde eu trabalhei, já contavam histórias sobre fotos vendidas do trágico acidente envolvendo os Mamonas Assassinas, em 1996. Havia até pedaços de corpos dos integrantes da banda, mortos em um acidente aéreo, que foram levados por curiosos que estavam próximo aos destroços do avião do grupo, que partiu precocemente, no auge do sucesso.

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Sim, foram roubados, violados e oferecidos como mercadoria, braços e peças de roupa do vocalista Dinho e dos colegas dele.

Não diferente foi a violação das imagens da autópsia do cantor Cristiano Araújo, em 2015, que também foram compartilhadas na época do acidente que chocou o Brasil.

Na minha opinião, os criminosos não são apenas aqueles que tiram as fotos e as compartilham. O que, em tempos de redes sociais, é viralmente cruel .

A imprensa é muito responsável por dar palco a esse tipo de espetáculo deplorável. Nada justifica esse tipo de desumanidade. Como disse a mãe de Marília Mendonça: "Eu não desejo esse sofrimento para ninguém!". É isso.

Claro que, na ânsia pela notícia, erros são cometidos, óbvio. Mas eles devem servir de lição para não se repetirem. 

Cobrir a morte de famosos infelizmente faz parte da função de quem trabalha com jornalismo de celebridades. Mas sempre temos de fazer isso com respeito, pensando que aquele ator, cantor, astro é filho, irmão, esposa, pai, mãe de alguém. A dor da perda já é um dos maiores buracos que podem ser abertos no peito de um ser humano. Não há furo maior que esse. 

Fica difícil entender o que passa na cabeça de pessoas que cometem esse tipo de crime. Uma vez que, quando não se respeita a morte, não se tem nenhum respeito à vida.

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