Autobiografia de vocalista do Red Hot expõe vício e rock'n'roll na veia
Nem a perda do melhor amigo foi o bastante para ele se livrar das drogas de cara, mas ele conseguiu
Ligia Braslauskas Literatura|Ligia Braslauskas

“Eu estava injetando coca há três dias seguidos com meu traficante mexicano, Mario, quando me lembrei do show no Arizona. Minha banda, o Red Hot Chili Peppers, já tinha lançado um álbum e estava preste a ir para Michigan gravar o segundo, mas antes disso, Lindy, nosso empresário, tinha marcado uma apresentação em uma churrascaria-lanchonete no Arizona. O promotor era nosso fã e iam nos pagar mais do que valíamos, por isso aceitamos.”
Assim começa Scar Tissue, autobiografia de Antony Kiedis, vocalista do Red Hot Chili Peppers. O livro conta a trajetória da banda e, mais do que isso, expõe como Kiedis se livrou do álcool e do vício de cocaína e heroína após perder seu melhor amigo e ex-guitarrista da banda, Hillel Slovak.
Não é nenhuma novidade haver histórico de vício em drogas em componentes de bandas de rock, ele tampouco é o primeiro a se "limpar" e passar a encarar a vida de outra forma, mas o bacana é como ele descobre uma outra faceta dele próprio quando se vê se livre do efeito “mágico” dos entorpecentes. E são, sim, “mágicos”.
Além de escancarar sua vida pessoal no livro, onde relembra, entre outras coisas, a influência das mulheres que considerava musas e a relação com o pai traficante de drogas, há passagens para cima, como a que conta o que sentiu ao tocar para 400 mil pessoas em Woodstock.
É leve, rápido, cheio de detalhes e bacana de ler. Vale super a pena, sobretudo para quem gosta de rock e das incongruências de quem escolhe, ainda que por um período, viver quase à beira da morte.
Scar Tissue
Tradução de Andréia Moroni e Roberto Mendes Gonçalves
368 páginas
R$ 69,90
Editora Belas Artes